Mario Lago Filho

24 de mai de 2022

Poesia Interligada 1

No mar, incidência.

E se Deus…?

Grito do mar, penitência.

E se Deus…?

Mar, céu, montanha,

gesto, artimanha,

carro - roda, roda, roda.

E se Deus…?

Pelos becos, pelas ruas, crianças magras e nuas;

mil reflexos de mil luas;

noites minhas, noites tuas e as camas em que atuas;

noites tuas, noites minhas e as nossas mágoas vizinhas.

Das dobradiças das portas, das várias vidas já mortas, das que começam a morrer,

solta-se um choro, um gemido;

mar, céu, montanha, castigo,

uma pastilha, um prazer.

E se Deus…?

Fim de semana.

Viajar.

Estradas recentemente asfaltadas,

outras por asfaltar,

bares de praia,

botequins de subúrbio,

vaginas zero quilômetro,

puteiros de quinta categoria…

Viajar.

Viajar e conhecer o irreconhecível;

tantos muros, afinal;

tanta planície, cheia de paz;

tanto penhasco, virando abismo;

tanto deserto, calor intenso,

e tanto campo, de flor e aroma.

Arena.

Vida conturbada.

Guerreiros da madrugada.

Leões famintos e amadas.

Malamadas desprezadas.

Vai-se o domingo,

vai-se alegria.

Já às seis, despertador.

Moleza, banho,

moleza, café,

jornal,

moleza, moleza, moleza!

Ressaca de segunda-feira é foda!

Sonhos de melhoria,

trabalho, trabalho

e, ao fim de trinta dias,

mãos vazias

e aquela imensa desesperança.

E se Deus…?

Até a próxima esquina.


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