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É O FIM! TEMPESTADE SOLAR NO HORIZONTE!




 Um senhorzinho, boné do Vasco, barba branca, camiseta com a inscrição “só Jesus salva”, calça de tergal vincada e tênis sem cadarço entrou no ônibus da viação Teresópolis. Estava cheio de malas, sinal que saltaria antes de chegar à rodoviária da cidade serrana. Levou um tempo para acomodar bolsas, malas e diversos embrulhos no estreito bagageiro acima dos assentos.


Assim que o ônibus pegou a pista preferencial da av. Brasil, começou a ouvir, no maior volume, os vídeos que apareciam no reels da rede social que ele acessou no seu smartphone. Seu companheiro de banco, da mesma faixa etária, calçava tênis de marca, vestia uma calça jeans justa uma camiseta com um desenho pré-colombiano com a inscrição Cartagena -Colômbia, não tomou conhecimento das histórias que saiam do celular do companheiro de viagem, pois, assim que entrou, colocou um fone de ouvido com bluetooth de última geração que o manteve a prudente distância sonora do senhor em questão e dos demais simples mortais.  


A moça, no banco da frente, viajava sozinha, oh sorte! - como diria o mestre Wilson das Neves - tinha o laptop aberto no colo, espichei o olhar e pelo que deu pra ver, estava analisando um power point. Depois de mexer, com dedo indicador no mouse do aparelho, virou-se, visivelmente contrariada, tentando identificar o passageiro que continuava a ouvir notícias nada alentadoras sobre o futuro do planeta. 


Confesso que me distrai um instante movido pela curiosidade da mensagem de voz, via WhatsApp, que meu companheiro de assento estava enviando. Resumidamente, informava que não informaria, nesse momento, a seu interlocutor, porque o que tinha que informar requeria discrição e que ele, nesse instante, compartilhava o espaço com quase 35 outros passageiros e que não considerava apropriado ventilar publicamente seus problemas. Não sei por que achei que fosse uma indireta ao sujeito que colocara o celular no maior volume. Direta ou indireta fiquei na ignorância do acontecido com meu circunstancial companheiro de viagem. Não tive nem tempo pra lamentar pois minha atenção foi desviada por uma voz feminina que vinha de alguns bancos atrás: “Alô mãe, tudo bem com a senhora?...Pois é, passei mal, não fui trabalhar e estou subindo para Teresópolis.  Alô, alô? Dorflex? Não mãe, os sintomas são outros” e não avançou na descrição pois, emendou, um “quando chegar te conto”.


Quando olhei pelo rabo do olho para o passageiro que viajava no banco de trás, a minha esquerda, percebi que balançava a cabeça em sinal de desaprovação. Notei que cutucara quem estava do seu lado, mostrando, com um movimento da cabeça que lhe permitiu apontar com o queijo a placa que diz: É proibido aparelhos sonoros no interior do veículo. Ficou por isso mesmo.


Enquanto eu, que antes de entrar no ônibus estava com uma sonolência danada - por motivos que não vem ao caso -, não consegui cochilar um segundo sequer, alarmado que fiquei com teor das informações que emanavam do misto de rádio e telefone do sujeito. Não tinha muita certeza, mas me pareceu ouvir que em breve, por uma conjunção de motivos que não consigo elencar, mas que estariam relacionados a um fenômeno em que o sol liberaria umas partículas eletricamente carregadas que, se atingirem a terra, coisa que o comentador dava como certo, elas queimariam todos os tipos de equipamentos eletrônicos, entre eles a infraestrutura da internet provocando um caos de dimensões globais. Meu sono foi embora. Só conseguia pensar no drama individual e no coletivo que a notícia carregava.


Para começar me perguntei que faria com o Notebook Dell Inspiron I15-I1300-A30S 15.6" Full HD 13ª Gen Intel Core i7 16GB 1TB SSD Win 11 Prata Versão Alumínio que eu acabara de comprar em 12, não tão suaves, prestações na Amazon. Perdi, pensei.


Fiz umas contas rápidas e conclui que não tinha milhas suficientes para embarcar num ônibus espacial capaz de colocar distância entre a terra arrasada e o sedutor espaço sideral, mesmo considerando os investimentos milionários que Jeff Bezos (Amazon), Elon Musk (Tesla e SpaceX) e Richard Branson (Grupo Virgin) estão fazendo para tornar as viagens espaciais mais acessíveis.


Lembrei, também, que Baby do Brasil avisou no último carnaval em Salvador que o Apocalipse era pule de dez e, na sequência, constatei que sequer tenho dinheiro suficiente para bancar a ratatá do condomínio dos bunkers bilionários que estão sendo construídos para se proteger quando o caos climático torne o ar da terra irrespirável.


Imediatamente passou pela minha cabeça o drama dos/das viúvas do BBB que ficariam sem saber quem iria para o paredão, depois que Yasmim Brunet e Wanessa Camargo foram expulsas pelo público que, qual anfiteatro romano, colocara o polegar pra baixo para indicar a defenestração das meninas do Brasil.


Curioso ou preocupante? Não sei explicar ainda. Só sei que naquele momento passavam pela minha mente as imagens mais bizarras do nosso futuro imediato ameaçado pela próxima tempestade solar. Lembrei que na noite anterior tinha baixado da conta pirata da Biblioteca Secreta A Cor que Caiu do Céu, conto de H.P Lovecraft e tinha a intenção de lê-lo na viagem.   Não teve outra, pensei imediatamente, no famoso algoritmo e o desassossego aumentou. Será que o google está lendo certo por linhas tortas? Não é muita coincidência ter baixado um conto do mestre do terror que fala, justamente, da queda de um meteorito que mudou a configuração da paisagem de Arkham enquanto ouvia a mensagem do iminente fim dos tempos pelo rádio do vizinho. Não tive como não imaginar que alguém estava dizendo: estamos de olho!


Só consegui relaxar quando lembrei do Assis Valente e seu magnífico samba E o mundo não se acabou. Lembram dessa pérola?


"Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar

Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar

E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada

Por causa disso nessa noite lá no morro não se fez batucada"


A lembrança do compositor nascido em Santo Amaro me relaxou um pouco. Quando olhei pro lado vi que o pivô da questão tinha caído em sono profundo, com direito a roncos tão altos quanto a fala do locutor que dava a notícia referida com tintes de Reporter Esso. Dormindo o sono dos justos não percebeu as paradas que a viação deu nos 6 km que separam o Soberbo da Várzea. Só acordou quando o buzum entrou na rodoviária, recentemente inaugurada depois de uma obra que levou um ano e não disse, ainda, ao que veio.


O responsável pelo furdunço acordou, segundo pude perceber, meio atordoado e, batata, passou do ponto, foi o que deduzi eu, e meus companheiros de viagem quando o moço soltou um Puta que pariu, dormi demais!


Jorgito Sapia Abril/2024


 

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