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VERÃO CRIATIVO



 

Na última semana o noticiário repercutiu a determinação de uma juíza que proibiu a Polícia Militar de realizar detenções de jovens nitidamente a caminho das praias da Zona Sul para praticar “arrastões”.

 

Segundo a juíza, a única condição para que tais jovens pudessem ser detidos e encaminhados para as autoridades seria a prisão em flagrante – ou seja, uma vez caracterizado que os menores estivessem, de fato, praticando os atos de vandalismo e ameaça a população. Com isso, esvaziava-se a estruturação de prevenção, chamada pelas autoridades de “Operação Verão”, concebida para proporcionar mais segurança aos milhares de visitantes das praias cariocas. A decisão da juíza foi, porém, revogada por um desembargador do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que entendeu ser cabível a detenção dos jovens que, aos olhos das autoridades de segurança, vislumbrassem a possível intenção de praticar atos condenáveis e ilícitos.

 

Ambos os casos - tanto o parecer da juíza quanto o do desembargador – deixam evidente o radicalismo da situação carioca. A dicotomia entre o que pode e o que não pode ser feito expõe a extrema animosidade entre pessoas que hoje percebemos com tanta clareza. São ataques contra idosos e contra crianças. São roubos e furtos ocorridos nas mais variadas circunstâncias. Em suma, tudo contribui para um ambiente de insegurança em que a altíssima temperatura do verão e a exposição mais longa a dias extenuantes, acaba potencializando todas essas ações negativas. Não é por acaso que o Inferno é sempre caracterizado como um lugar de extremo calor e chamas escaldantes.

 

Um ponto ainda fundamental a ser destacado é a demonstração por parte das autoridades de uma infeliz falta de criatividade da gestão da cidade. Todo aquele que teve alguma vez a oportunidade de gerir pessoas, sabe que administrar a reação entre grupos antagônicos é muito difícil na base de repressão. O caminho para a solução passa por criar objetivos que façam os membros desses grupos a optarem por formas diferentes de ação, formas que lhes sejam mais prazerosas, que lhes deem condições mais favoráveis.

 

Fico imaginando, especialmente um grupo típico destes jovens de periferia, que vem de longe, em condições bem precárias, em ônibus ou trens muitas vezes malconservados e trajetos que duram mais de uma hora. Chegam na orla e lá praticam seus atos que, sem dúvida, devem lhes trazer algum grau de satisfação emocional. Voltam após ao final da tarde causando confusões, não raramente entrando em choque com policiais e/ou grupos rivais. Há, porém, um sentimento de satisfação, quase uma vingança, contra a difícil condição de vida que levam.

 

Hoje sabemos que há no estado uma enorme parte de jovens entre 18 e 24 anos que estão na situação do “Nem Nem”, não estudam e nem trabalham, além de ser o perfil etário que mais ocupa as nossas cadeias. Imaginemos, entretanto, se tivéssemos uma cidade equilibrada. Uma cidade em que houvesse uma generosa distribuição de opções de lazer (como os “piscinões” que tanto sucesso faziam), mas não apenas isso: podemos pensar, adicionalmente, em boas produções recreativas, esportivas e musicais que trouxessem entretenimento e atraíssem o interesse de todos. Cultura, esporte e lazer de verdade. Não seria mais interessante investir em projetos de tal natureza do que em aparatos de segurança pública – que acabam por criar um grau de ‘revolta contra o sistema’, em um círculo vicioso que parece não ter fim? O morador do Rio sabe que, há décadas, todo Verão (há quem diga todo final de semana ensolarado) é a mesma coisa.

 

Eu penso que esse enorme contingente da população realmente precisa ser encarado com atividades alternativas. Atividades mais acessíveis e mais prazerosas, mas não necessariamente dispendiosas. Em outras palavras, vemos com frequência eventos de uma noite, megashows com artistas internacionais e fogos de artifício em toda a orla da Zona Sul, que custam caríssimo para o governo – quantias que poderiam eventualmente sustentar um Verão inteiro de atividades multiculturais em vários bairros no entorno do Rio, fazendo da cidade um lugar mais harmônico e culturalmente mais diversificado para seus habitantes. É hora de os poderes públicos pensarem em como incentivar atividades que revitalizem a força dos bairros. E ao falarmos de força, se fala em suas manifestações culturais e, é claro, amparadas pelo necessário investimento em espaços que criem estruturas para serem frequentadas por toda gama de idades. Produções teatrais, musicais, academias ao ar-livre – atividades que demandem menos investimento em Polícia, mas, por outro lado, levem à busca dos profissionais das classes artísticas e da Educação Física.

 

Enfim, o Rio tem uma tradição de culto ao corpo, de viver aberto a natureza, de celebrar a vida em eventos culturais. Quer dizer, a tradição do Verão carioca é uma tradição festiva e afetiva de usufruir do benefício que a vida pode trazer, mesmo quando não signifique exatamente gasto de dinheiro. Vivemos em um local onde um pacote que inclua esporte, um mergulho, música e oportunidades culturais acessíveis, podem trazer enormes condições de reequilíbrio da esperança de uma vida mais doce entre seus habitantes. Para isso, deve haver a valorização da cultura dos bairros, em um ambiente de mais de colaboração e de apoio mútuo. Neste cenário, entendo que jovens que vemos nos dias de hoje aterrorizarem os frequentadores de locais próximos das orlas passarão a ter uma atitude diferente. Quando decidirem visitar esta parte da cidade, o farão simplesmente com o intuito de curtir sua praia e sem o ímpeto de algum tipo de “revide” ou violência latente.

 

A criatividade, enfim, tem que passar a operar para que se desmonte o ambiente agressivo com que a nossa cidade cada vez mais está sendo submetida e para o qual há alternativa mais interessantes do que a repressão, o aparelhamento da polícia, uma radiopatrulha em cada esquina e a ostensiva demonstração de força com policiais circulando com seus fuzis saindo pelas janelas das viaturas. Vamos desarmar os espíritos e realmente nos armar para o festejo, para a alegria de viver, ainda que as condições econômicas não sejam as mais favoráveis, pois o dinheiro não é tudo. A esperança, a alegria e a arte têm um enorme papel em conciliar as pessoas com a vida, tornando-a mais suportável.


O Rio precisa mudar a sua mentalidade e recuperar a sua alegria de viver.


 

Em meio aos desafios enfrentados pelas cidades, como o Rio de Janeiro, o papel do esporte, da cultura e de espaços públicos equipados se destaca como um impulsionador vital para o desenvolvimento, a paz social e a geração de empregos e renda.




As praças bem estruturadas se tornam centros de convivência, estimulando a interação comunitária e oferecendo locais para atividades esportivas e culturais.




Nesse contexto, a economia criativa emerge como uma poderosa ferramenta, incentivando a inovação e impulsionando setores como música, arte e entretenimento. No Rio de Janeiro, iniciativas como a Cedro Rosa Digital desempenham um papel fundamental. Esta plataforma não apenas certifica músicas, mas também profissionaliza compositores e músicos locais, oferecendo suporte técnico, educacional e de divulgação.



A Cedro Rosa Digital atua como uma ponte entre talentos musicais emergentes e oportunidades de mercado. Ao certificar composições e oferecer capacitação, ela eleva a qualidade artística e técnica, abrindo portas para novos mercados e colaborações.


Essa abordagem não só fortalece a identidade cultural da cidade, mas também contribui significativamente para a geração de empregos e renda, consolidando o Rio de Janeiro como um polo criativo e musicalmente diversificado.

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