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Foto do escritorLeo Viana

SISSI



Ainda que os hábitos e critérios tenham sido atualizados e que se tenha avançado muito nos conceitos, com a revisão de práticas claramente machistas e historicamenteequivocadas, não havia homem ou mulher, cis ou trans, que não considerasse bonita a Sissi.  E “bonita” era o adjetivo mínimo, usado por crianças ou pessoas cuja consciência e percepção já estivessem em sintonia com os tempos atuais. A maioria dos homens, sempre um pouco ultrapassados em relação ao tempo em que vivem, usava adjetivos muito menos comedidos pra qualificar a mocinha. Ainda bem que havia um elementoque em geral desconcertava a todos os que passavam por ela. O sorriso, tão perfeito e brilhante, ainda que diante dos absurdos que ouvia, fazia feliz mesmo o mais triste e agressivo dos interlocutores. E não era só isso. O sorriso era genuíno, emitido como resposta a quase qualquer situação, numa demonstração de simpatia que, de tão espontânea, chegava a soar falsa para algumas pessoas. A Sissi era a personificação de um tipo de perfeição, da beleza, da felicidade para muita gente.  Homens diversos fantasiavam loucuras com a moça; mulheres a invejavam; adolescentes espinhentos a homenageavam na solidão dos quartos ou banheiros trancados. Do alto de seus 25 anos, a Sissi tinha passado uma adolescência que alguns considerariam difícil. Sempre foi bonita e tratada  pela mãe como um bibelô. Sem os exageros dos tratamentos ou loucos procedimentos de beleza, mas a mãe sabia que tinha uma filha linda. Resolveu jamais expor a criança aos horrores dos concursos de beleza e suas sequelas em caso de derrota, além da superexposição que nem sempre permite uma “vida normal” posterior. O pai não ligava muito, confiava na disciplina da mãe. Também sabia, ouvia, observava que tinha uma filha admirada por todos, mas isso não lhe tirava o sono. No extremo, tinha com a Sissi conversas que sua geração recomendava ter com os filhos homens, sobre as vicissitudes da vida e a dureza das relações entre as pessoas. Um tipo de investimento no futuro, coisa de pai conservador nos costumes, mas que busca entender as mudanças que o tempo traz. 


A Sissi seguia encanta