Saudade
Ah que saudade do tempo que eu corria descalço pelas calçadas da Napoleão Bonaparte com a Georges Pompidou, ou Rua 3 e Rua 2 para os mais íntimos, sem preocupação com o tempo, sem preocupação com a hora, sem preocupação com o futuro.
Saudade de pessoas que já partiram e que fizeram parte da minha infância, que fizeram parte da minha história.
Saudade do tempo que eu não entendia porque meu pai assistia o noticiário na televisão, saudade do tempo que a mesma televisão tinha só meia dúzia de canais, do tempo onde o tempo passava devagar, chega irritava o quanto o natal demorava, aniversário então, vixi...
Saudade de ver meu pai conversando no portão com aquele jeito só dele, que parecia estar brigando, que parecia estar nervoso, mas a gente sabia, era só o jeito “gritão” dele, o Seu João não fazia mal a uma mosca, pelo menos até a página dois.
Saudade das aulas de catecismo na minha casa, das crianças entrando e saindo, da minha mãe falando de Deus para elas, da minha mãe falando de Deus para mim, da minha mãe apenas falando.
Do meu irmão tentando falar meu nome sem conseguir, balbuciando sons que quase viraram um apelido e jogando bola comigo no corredor da nossa casa enquanto nossos pais tentavam ouvir alguma coisa na televisão.
Saudade do meu avô que era surdo, mas no fundo a gente sempre achou que a surdez dele era apenas nos momentos que mais lhe convinham, dele chegando sempre de paletó, gravata, chapéu, e da gente criança procurando a lata de rapé que ele sempre tinha no bolso, que bagunça a gente fazia, cheirando e espirrando, ele dando esporro na gente e a gente acreditando que tínhamos enganado ele mais uma vez.
Que saudade do futebol de domingo de manhã na quadra da rua, dos gols marcados, dos gols sofridos, que saudade da cerveja na casa do Gérson e da Dalva depois do jogo, daquela cerveja que eu nunca gostei, mas que eu segurava no copo heroicamente até esquentar, até não ter que beber mais, das meninas dele correndo pelo quintal, da Erica, da Paula, da Flavinha.
Saudade do bar do Arnaldo, da batata recheada que ele vendia, do fliperama que sempre dava “tilt” mesmo sem balançar a máquina, pelo menos a gente achava que não balançava, do vemaguet cor de abóbora dele, do ovo cozido colorido.
Saudade do fuscão 72 do meu pai, aquele com uma águia enorme no vidro traseiro, e da Brasília verde que eu fiquei alucinado na primeira vez que ele me deixou dirigir.
Saudade do Prestes Maia, onde estudei da 5ª série até o 3ª colegial, era assim que se chamava o ensino fundamental e o ensino médio, meu local de votação até recentemente, momentos onde geralmente eu matava a saudade de alguém, de alguma história.
Saudade do Ozzy... ahhh que saudade do meu West Highland White Terrier, o cachorrinho do portal ig, tão popularizado por aqui na década de 90, meu parceirinho que ficou conosco por 15 anos mas partiu em decorrência da diabetes.
Que saudade dos meninos brincando no condomínio, arrumando confusão com os vizinhos, com outras crianças, das fraldas sujas, do choro, da dependência total, do fingir estar dormindo pra eu carrega-los do carro até dentro de casa.
Que saudade do almoço de domingo, do pão com queijo e apresuntado, mas eu nunca entendi por que apresuntado... hoje eu entendo o porquê.
Que saudade do pudim de pão, do guaraná com biscoito de polvilho, da salada de agrião, do café forte que meu pai tomava, dos pastéis de carne e queijo do japonês da vw variant vermelha, das panquecas feitas com o que sobrou e da minha mãe reclamando que não gostava de cozinhar.
Saudade do tempo que eu amava futebol e amava meu time de coração, do tempo que os jogos não eram televisionados e a gente esperava até tarde da noite pra assistir o vídeo tape, sem saber o resultado, torcendo como se o jogo fosse ao vivo, mas hoje não me encanto mais com futebol, deixei de me preocupar quando percebi que eu era o único que me importava e sofria sem ganhar nada em troca.
Saudade de estar reunido com os primos na casa da minha avó, de brincar na terra vermelha do terreno em frente à casa dela, do eu avô cuidando dos coelhos, dos passarinhos, das tartarugas, sempre calado, sempre assistindo “Desafio ao Galo”, direto do campo da CMTC, sempre sentado em sua poltrona favorita.
Que saudade do tempo em que eu não imaginava o que é sentir saudade, que a gente brincava na rua até tarde, sem medo, sem problemas, sem preocupações, sem internet, sem ruas movimentadas, sem redes sociais, sem brigas, sem polarizações.
Que saudade do tempo que todos ainda estavam por aqui, da corrida de São Silvestre antes da virada do ano, da angústia da missa que nunca acabava e da minha mãe pedindo clama, do tempo que a gente era feliz, e sabia.
Quantas lembranças, quantas saudades, mas a vida é pra frente e o passado deve ser sempre lembrado pra que a gente nunca se esqueça de onde viemos, do que aprendemos e de que forma contribuiremos para também sermos lembrados de maneira saudosa no futuro.
Que saudade do tempo que eu era só o filho...
Pai, mãe, obrigado por tantos momentos, por me ensinarem tantas coisas que me permitem entender que a passagem faz parte da vida e assim posso seguir, sem sentir com tanta intensidade a dor da perda, agora quanto a saudade, ahhh a saudade...
Essa com certeza eu vou continuar sentindo pelo resto de minha vida.
Paulo Eduardo Ribeiro, do Canal Ponte Aérea, para CRIATIVOS!
E tem mais!
Delicadeza.
Brunch Musical
Delicadeza
Siga a Cedro Rosa no Instagram.
Projeto 40 Anos do Clube do Samba. Vaquinha virtual para Filme, Show e Disco.
Cedro Rosa cria Plataforma mundial de Música, em 10 idiomas, para gerar direitos autorais
Músicos, compositores, bandas, mídia, produtores de cinema, streaming, TV, publicidade e games em um único ambiente digital, para negócios de licenciamento.
Abra um perfil agora
Plataforma digital permite registro, distribuição e licenciamento de músicas no mundo inteiro. Todo mundo pode escutar músicas e podcasts de graça.
A Cedro Rosa , produtora e distribuidora de conteúdos, com sedes no Rio de Janeiro, New York e Tokyo criou uma plataforma digital de administração e distribuição de músicas no mundo inteiro.
Para ter acesso, como artista, empresa ou simplesmente amante de música, basta abrir um perfil, apenas com nome e e-mail.
A plataforma digital funciona em 10 idiomas e conta com mais de 3 000 mil certificadas, prontas para serem licenciadas para sincronizações diversas em filmes, novelas, audiovisuais, games e publicidades.
Acompanhe nossas redes digitais. https://linktr.ee/cedrorosa
Compositores, bandas e artistas podem registrar suas musicas e fazer contratos de distribuição e licenciamento e empresas da midia como TVs, Radios, produtoras de cinema e conteudo em geral podem licenciar essas obras devidamente certificadas diretamente na plataforma.
Comentários