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Rádio corredor



Jorgito Sapia

Acordei, sobressaltado, com batidas na porta da frente. É o tempo, pensei, lembrando da belíssima música de Aldir Blanc. Naquele momento, preferi lembrar do Aldir e não do Chico, que assinou, como Julinho da Adelaide, uma canção icônica do tempo das trevas, Acorda Amor.   

Era a zeladora do prédio, portadora de um comunicado da administradora. Recebi, assinei, abri o envelope e li. O comunicado informava que qualquer problema que, eventualmente, os moradores “possam vir a ter com a vizinhança, era necessário ligar para o 190”, telefone da polícia militar.


Não entendi bulhufas e, claro, paranoia obriga, fiz um esforço por lembrar de alguma coisa que eu tivesse aprontado no prédio. Rapidamente despachei essa ideia, afinal, não sou o personagem retratado por Paulinho do cavaco na música O condomínio.  


Para afastar essas elocubrações musicais voltei pro banheiro para cumprir o ritual do asseio pessoal. Depois disso fui à cozinha, coloquei água pro café e, enquanto aguardava a água ferver, reli o comunicado e não atinei sobre o que estava em jogo. Só ficou claro que a administração lavava suas mãos e, seja lá qual fosse o problema, era da alçada da PM.

Com o primeiro gole de café chegaram vários avisos sonoros na caixa do WhatsApp. A Rádio corredor já tinha feito as apurações necessárias e queriam confirmar o furo. Sem trocadilhos por favor.


Rádio corredor fechando a pauta.


A primeira mensagem veio na forma de uma concisa pergunta: você sabia que tem um puteiro na casa ao lado? A segunda colocava uma certa dúvida: Parece que tem puteiro na área. Respondi afirmativamente à primeira e compartilhei a mensagem com o resto dos membros do grupo. Uma primeira resposta veio com a rapidez da curiosidade: da janela da tua cozinha dá para ver? Respondi que não! Gente, entre a minha janela e casa de saliência existiam duas casas, a primeira, cuidada por um cão que tira o sono do vizinho que tinha conseguido o furo.  


A segunda, que ostentava uma enorme bandeira do Brasil que foi sendo, aos poucos, arriada e que, pelo visto, levando em conta a forma como foi desgovernado o país nos últimos anos, o puteiro poderia ser considerado um adendo do Palacio do Planalto em tempos do imbroxável.

A existência do Bataclã foi a primeira informação concreta que tive da vizinhança. Explico, assim que cheguei a Teresópolis, cidade onde hoje resido, encontrei um velho amigo das areias de Ipanema, o uruguaio. Ele mora a quatro casas de distância do “Chalé dos Mirantes”, prédio onde resido. Quando fui visitá-lo, entre uma taça de vinho e outra, me deu o serviço completo. Bem que tinha chamado minha atenção ver tantos carros estacionados na grande curva na subida da rua Jaguaribe. A rua, que tem uma extensão de pouco mais de 1,5 km, não registra muitos carros estacionados. Todos concentram no cotovelo da curva, de onde se vê um portão, permanentemente aberto, como a convidar os passantes.  Da entrada do portão à recepção há uma ladeira muito íngreme. Sempre que passo lembro da ladeira da Preguiça, em Salvador. Acho que por isso nunca cogitei visitar o rendez-vous. Pensando aqui que devo considerar, seriamente, me matricular na academia.


Permitam-me uma digressão. Faz algum tempo, meu amigo uruguaio me convidou para um churrasco na sua casa e pediu para convidar meu vizinho de prédio, gaúcho, com laços parentais na República Oriental, apreciador de churrasco e o responsável pelo furo. Como estava subindo a serra enviei os dados da residência por mensagem de texto e indiquei o nome do pequeno condomínio, Shangri-lá. Expliquei que, “na cidade do paraíso pacífico”, o portão estaria aberto e que a subida, na certa, ele encarava. E não é que errou o endereço!


O gaúcho contou, quando finalmente chegou, que viu a subida, na casa ao lado e a encarou.  Ao chegar no topo, arfando, foi recebido por uma moça super solicita e ele, sorrindo, levantando a mão direita para mostrar o embrulho que carregava, emendou, trouxe a linguiça. A moça sorriu e na certa pensou que, com essa graninha, poderia comprar o vestidinho de alcinha que estava paquerando. Conversa vai, conversa vem, o amigo finalmente entendeu que ali, a carne no ponto, tinha outras características. Assim que foi recuando e se desfazendo em mil desculpas pelo erro.

Pois bem, voltemos ao que interessa.  


O rádio corredor já sabia que não era essa casa de encontros fortuitos que estava na mira dos moralistas, senão outra, muito mais próxima, de fato, colada com nosso prédio. Bem que tinha notado uma movimentação inusual numa rua sem saída como a nossa. De fato, mais de uma vez vi umas moças saindo da casa na hora do almoço.  Lembrei de ter visto uma delas, de shortinho amarelinho, e com um telefone na mão perguntando ao seu interlocutor, se a quentinha era boa.  Quando vi a cena pensei, canalhamente, nessa quentinha eu também vou! Se minha filha, a feminista, descobrir esses pensamentos que denunciam o patriarcado, é bem capaz de recusar minha herança.


Já tem uma semana dessa história e nada de anormal aconteceu a não ser a mudança da família do primeiro andar.  Casal de evangélicos que ostentavam na porta uma placa com a seguinte informação: Nesta casa servimos ao Senhor. Nessa eterna luta entre o bem e o mal, ficou a família do outro vizinho, apreciador de Rock & Roll e em cuja porta é possível observar uma bela imagem com a oração de São Jorge guerreiro!  


A administradora, fiel a sua conduta de não atender reivindicações dos condôminos, fingiu não ter ouvido a consulta de um morador que queria saber se a taxa do condomínio dava direito a desconto na casa comercial que funciona colada ao prédio.


Também fez ouvidos de mercador ao abaixo assinado, com uma assinatura, que reivindicava a mudança no nome do prédio de Chalé dos Mirantes para Chalé dos Participantes.  O tempo dirá as mudanças que o futuro trará.



 

Jorge Edgardo Sapia – Cientista Social pela UFF, Mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro- IUPERJ. Professor de Pós Graduação/Especialização Latu Sensu –Carnaval e Cultura –UNESA lecionando a disciplina Teoria Social do Carnaval. Organizador das edições 2008 a 2023 do seminário "Desenrolando a Serpentina", promovido pela Sebastiana.  Presidente do bloco carnavalesco Meu Bem, Volto Já! Vice-presidente da Sebastiana. Compositor de diversos blocos carnavalescos.



 

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