Rosenéia de Oliveira, uma militante contra a invisibilidade de mulher afrodescendente
- Lais Amaral Jr.
- há 2 dias
- 4 min de leitura
Atualizado: há 15 horas

Rosenéia Terezinha de Oliveira lança, nesta quinta-feira, dia 29/05, na Faculdade Estácio de Sá, seu livro Memórias Negras: a invisibilidade da mulher afrodescendente na história de Resende-RJ.
A autora é professora de história e geografia na Educação Básica Publica; Mestra em ensino de História – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); doutoranda em História Política – pela UERJ; atua no Coletivo de Mulheres Negras de Resende, é membro do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher; diretora na Associação dos Profissionais da Educação Municipal de Resende; Coordenadora da Pastoral Afro-brasileira no município, além de expositora e palestrante diversificada, mas com foco especial na Afrodescendência. Uma militante ativa contra o racismo. O livro é resultado da sua dissertação de Mestrado na UFRRJ, em 2022, onde pesquisa sobre a invisibilidade da mulher afrodescendente na história do seu município.
CRIATIVOS - Rosenéia, quais as principais causas que invisibilizam a mulher afrodescendente em nossa sociedade e quais suas consequências?
ROSENÉIA DE OLIVEIRA - Na História do país, assim como na de Resende, a invisibilização da mulher negra se deu em função de sua subalternização social, da exploração de sua força de trabalho e do racismo. Como dizia Lélia González “A mulher negra deixou de ser a Ama de Leite ou Ama seca, pra ser a babá ou empregada doméstica. Cuidando das famílias da elite e não podendo cuidar dos seus”. Essa situação se estendeu durante toda a história do Brasil. A mulher negra também sempre foi vista como “a mucama desejada, ou, a mulata tipo exportação”, tendo sido erotizada ao longo, especialmente da República. Atualmente compõe a base da sociedade, mas, está também na base das pirâmides das estatísticas sociais: é a que menos tem acesso à educação, a melhores salários e é a que mais sofre com as violências.
CRIATIVOS - Resende destacou-se, na chamada fase áurea do Café - que gerou muita riqueza a partir da mão de obra dos escravizados. Depois a vida andou e hoje há quem defenda que houve um “branqueamento” da cidade. Você pode comentar isso?
ROSENÉIA DE OLIVEIRA - Durante a fase áurea do plantio do café em nossa região, tivemos cerca de 14 mil escravizados (Muazze; Salles,2015) só na região de Resende, no Vale do Café. Após a abolição, muitos ex-escravizados migraram para a capital – numa tentativa de ter melhor qualidade de vida e fugir das tristes memórias do cárcere -; quanto ao branqueamento da cidade (segundo o IBGE, 2010, 44% da população de Resende se autodeclarou branca) posso considerar que há desconhecimento da ancestralidade riquíssima de origem africana que aqui se desenvolveu e, também ao racismo estrutural no qual nossa sociedade se organiza. Porém, agora na terceira década do século XXI, todos temos acesso a informações de forma mais abrangente e as novas pesquisas tem trazido novas narrativas sobre a História do Brasil, o que facilita o entendimento da importância da participação da população afrodescendente na construção dessa sociedade. Sendo assim, - e com as políticas públicas de reparação – temos a oportunidade de nos esclarecer e valorizar a população negra na sociedade brasileira.
CRIATIVOS - O que essencialmente aborda seu livro ‘Memórias Negras de Resende?’
ROSENÉIA DE OLIVEIRA - O meu livro aborda a invisibilização provocada na História da cidade da população afrodescendente, especialmente nos séculos XX e XXI e, prioritariamente das mulheres negras. Essa ocultação também ocorreu no restante do país, mas em Resende, só agora (2022) temos uma pesquisa acadêmica específica sobre essa parte da população na cidade. Com o auxílio de outras autoras negras discuto o racismo estrutural e de gênero, o apagamento das histórias de vidas e memórias das mulheres negras, as possibilidades oferecidas a partir da Lei 10.639/03 que instituiu a obrigatoriedade do estudo da História da África e dos afrodescendentes brasileiros em todo o ensino básico nas redes públicas e privadas. Valorizo as falas de dez mulheres negras que são lideranças na cidade e também discuto a urgente necessidade da população afrodescendente se preparar para ocupar os espaços de poder, cultura e produção de forma igualitária aos outros membros da sociedade.
CRIATIVOS - A história da África e da Cultura Negra na grade curricular da cidade e do país, ainda é uma promessa não realizada amplamente. Nas poucas unidades que cumprem essa determinação no município, a invisibilidade da mulher afrodescendente é tema abordado?
ROSENÉIA DE OLIVEIRA - A aprovação da Lei 10.639/03, é fruto da pressão social – em especial dos movimentos negros - ao longo dos anos 1980-90 e foi aprovada em 2003, num governo progressista; a partir daí foram criados materiais didáticos (A Cor da Cultura) entre outras iniciativas para sua prática nas escolas. Porém penso que a falha está na formação acadêmica dos professores, eu mesma só pude me aprofundar no tema quando entrei no PROFHISTÓRIA, na UFRRJ em 2019. É necessário que o poder público e as universidades ofereçam em seus currículos e aos seus profissionais oportunidades de frequentar cursos de extensão, pós-graduação e graduação sobre o tema em todas as áreas do Ensino básico, para que possam ensinar com maior segurança sobre o assunto.
CRIATIVOS - Fale sobre algo de seu interesse e que eu não perguntei.
ROSENÉIA DE OLIVEIRA - Esse livro é a etapa final de um trabalho amplo e complexo (dissertação, documentário, e-book) destinado a iniciar um processo de esclarecimento e combate ao racismo estrutural reconhecido historicamente na cidade. É fruto do trabalho e experiência no Ensino básico na rede pública na cidade e de leituras e compartilhamento de conhecimentos em várias regiões do país e em breve no exterior, por isso, trata-se de um pontapé inicial para que outras histórias sejam incluídas na Historiografia da cidade e do país. Sugiro aos gestores públicos e privados que utilizem essa obra – ou parte dela – para enriquecer o currículo da educação, pois se trata de uma narrativa interseccional.
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