Quebra-galho

Por morar no interior, meus assuntos sempre versam, de alguma forma, com a vida na roça. Nasci e me criei entre prédios cinzas, estudei também na cidade cruzada pelo asfalto, me formei fora do país, em grande metrópole, igualmente traçada pela engenharia da construção.
Mas hoje, meu dia a dia é muito próximo à natureza. E quando me refiro a próximo digo junto, colado. Um privilégio.
A água que bebo vem por gravidade de mina, sem flúor nem cloro. Captada, filtrada, encanada e distribuída por mim. O esgoto que utilizo deriva de fossa sanitária ecológica. A luz provinha de energia hidráulica própria. Captava água do ribeirão e através de uma mini-usina, durante dez anos alimentei de energia elétrica minha casa. Digo provinha, pois com a queda de uma vaca na tubulação de alimentação, rachando o equipamento (a vaca sobreviveu) e com a coincidência da chegada do programa governamental Luz para Todos – mais barato e a manutenção a cargo da empresa distribuidora local – com relutância abandonei minha usina. O custo da reforma se elevou bastante pois com a advento da tecnologia digital, os equipamentos analógicos teriam todos de serem trocados.
A estrada de chegada à minha casa ainda é de terra batida, requerendo conservação. Se uma ventania forte desloca uma telha, quem busca meios para reparar o esrago sou eu. Ou seja, uma vida mais chegada aos modos antigos. Aqui sou síndico, eletricista, encanador, em suma, o quebra-galho. Vazou? Emperrou? Quebrou? Sou eu quem corre atrás da solução.
Quem não está acostumado com isso deve estar achando tudo muito estranho. Mas veja só este caso: esta semana tivemos a queda de um galho formidável, de uma árvore bastante portentosa à beira da estrada. Este se despejou sem cerimônia no caminho impedindo o trânsito, melhor dizendo, obstruindo a passagem de veículos, já que o fluxo atual para chegar a ser trânsito, vai demandar ainda muitos e muitos anos.
O tronco caído – graças a Deus – não atingiu ninguém. A estrada estava vazia no momento. Minha propriedade fica aproximadamente 1 quilometro distante do ocorrido, mas o local é meu trajeto. Imediatamente o funcionário da propriedade em frente acionou o Whatsapp (nós moradores temos um grupo) explicando o ocorrido.
Habitamos um vale lindo, um pequeno paraíso com aproximadamente uma dúzia de propriedades.
Metade são moradores permanentes e o restante aparece para curtir os finais de semana. Imediatamente o planejamento foi feito e elaborada as funções de cada um. À tarde do mesmo dia, estávamos todos no local com escada, motosserra, roçadeira, enxadas, cordas, etc, trabalhando para a retirada do problema.
Evitou-se com sorte o corte da árvore tão antiga quanto enorme. Através da poda conseguimos evitar um mal maior já que havia perigo de outros ramos despencarem. Em uma hora, talvez um pouco mais, a via de acesso foi desbloqueada e a passagem reativada. Um cafezinho foi oferecido, um rápido bate-papo com apreciações e observações da ação executada e cada um volta a cuidar de seus afazeres.
Uma pergunta: como se desenrolaria a realização desta operação na cidade? Provavelmente – com algumas alterações técnicas ou procedimentos de áreas competentes – a ação, pela lógica, seria primeiro buscar a Prefeitura que nos encaminharia para a Secretaria do Meio-Ambiente que por sua vez, entraria em contato com o Departamento de Parques e Jardins, para efetuarem o fatiamento e retirada do tronco volumoso que estava na estrada. Se não for isso exatamente, seria mais ou menos a burocracia que ocorreria.
Após cadastrar por escrito o pedido, teríamos (com certeza) que aguardar alguns dias para uma equipe aparecer, afinal uma cidade tem muitas solicitações. Provavelmente (com o atraso costumeiro) após insistentes telefonemas reclamando a ausência do serviço e das inúmeras mensagens de texto enviadas para as diversos repartições ou seções, chegaríamos até à Ouvidoria e ao Ombudsman, perdendo naturalmente diversas vezes nosso bom humor.
Estes pequenos detalhes revelam um universo de diferenças entre viver em grandes centros onde o anonimato e distanciamento nos é reservado, e o calor humano e solidário de se conviver numa comunidade menor abraçada pela mata-Atlântica (no meu caso) longe dessas grandes aglomerações urbanas onde o egoismo, a indiferença e talvez até uma certa hostilidade fazem parte do dia a dia.
Somos os mesmos seres humanos mas a vida competitiva dos tempos atuais nos impregna com a indiferença, nos desafeiçoando com o próximo e nos transformando em pessoas desnaturadas.
Outra pergunta: alguém conhece sua vizinha da porta em frente? Ou seu vizinho do andar de cima? Já tomou um cafezinho em sua casa?
Conexões entre o campo e a cidade: lições de vida e criatividade
A vida no campo e em pequenas cidades oferece ensinamentos valiosos que podem inspirar as grandes capitais. O contato direto com a natureza promove hábitos mais saudáveis e sustentáveis, como o consumo de alimentos frescos e orgânicos. Além disso, o ritmo mais desacelerado favorece o equilíbrio mental e emocional, enquanto a convivência comunitária fortalece laços de solidariedade e cooperação, muitas vezes perdidos nas metrópoles. Esses princípios são essenciais para repensar a vida urbana em direção a um futuro mais sustentável e humano.
A arte e a economia criativa desempenham um papel fundamental no intercâmbio entre pequenas e grandes comunidades. Ao valorizar expressões culturais locais, essas iniciativas geram emprego e renda, conectando criadores com públicos mais amplos.
A Cedro Rosa Digital exemplifica essa integração ao certificar e distribuir obras de músicos independentes de diferentes partes do mundo. Seu sistema CERTIFICA SOM garante que compositores e intérpretes sejam devidamente reconhecidos e remunerados, fortalecendo a cadeia produtiva da música.
Já o Portal CRIATIVOS! funciona como uma ponte para o diálogo criativo, reunindo artistas, intelectuais e empreendedores em debates que extrapolam fronteiras geográficas.
Ao conectar talentos locais a plataformas globais, a Cedro Rosa e o CRIATIVOS! impulsionam a economia criativa e promovem uma troca rica e transformadora entre o local e o global.
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