top of page
criativos 2022.png

Para o pensador João Carlos Orquiza, o modelo de oito horas diárias de trabalho é biologicamente inviável

        


Segundo estimativas da ONU, até 2050 mais de 70% da população mundial viverá em áreas urbanas, em médias e grandes cidades, o que vai significar a submissão a um modelo onde a produtividade existe como sinônimo de qualidade de vida. Para o pesquisador teórico-conceitual João Carlos Orquiza, o ciclo de crescimento econômico atual, coloca a humanidade em um estado de esgotamento e colapso ambiental sem precedentes.  De acordo com ele, isso acontece porque a produção é colocada acima da exaustão necessária para atingi-la. 

 

         É, exatamente  buscando uma maneira mais justa de valorar o esforço do trabalhador que Orquiza em seu livro, O Preço da Vida: Seu trabalho, sua energia – o verdadeiro motor da economia mundial, quer atrair o leitor para  refletir  sobre o valor da energia humana empregada na construção e manutenção do mundo moderno. Para o autor, a necessidade de produzir bens e serviços atingiu níveis de dedicação extenuantes. O corpo humano gera e armazena energia a nível celular para se manter vivo e a emprega em qualquer atividade, desde a respiração até um dia completo de trabalho. Orquiza defende, então, que a essência da economia reside nessa força vital.

 

         Ao longo de uma contextualização histórica e de explicações didáticas, ele traz atenção para como a jornada de trabalho moderna excede em muito os limites naturais do corpo humano. O autor questiona se o modelo de oito horas diárias de trabalho é biologicamente viável. A verdadeira sustentabilidade, seja ela ambiental ou fisiológica, pressupõe um sistema que dê espaço para a saúde e para o bem-estar, em vez de exigir uma priorização de exigências produtivas cada vez mais altas.

 

         A obra é resultado da união de conceitos de filosofia, geopolítica, física e sociologia. Embasado em mais de uma década de pesquisa interdisciplinar, o instigante livro de João Carlos Orquiza conecta ciência e humanidade, propondo soluções para um futuro mais equilibrado. Além de uma análise econômica, abre um novo horizonte para o entendimento do papel humano no mundo. É um convite à sociedade, educadores, economistas e formuladores de políticas públicas para repensar a forma como trabalho, energia e progresso são interligados.

 

         O autor investiga a interseção entre ciência e economia, explorando como as estruturas biológicas humanas conectam-se à cultura, aos transtornos mentais e à sustentabilidade econômica global. Observador e pensador teórico-conceitual autodidata, João Carlos Orquiza aprofunda os estudos e psicologia e, é crítico das abordagens intervencionistas e comerciais na pesquisa científica. 


         O Preço da Vida: seu trabalho, sua energia – o verdadeiro motor da economia mundial é leitura essencial para quem deseja compreender os impactos do modelo produtivo atual na saúde humana e na organização da sociedade. Ao propor uma nova métrica para avaliar o trabalho, a obra se torna indispensável para quem busca repensar as bases da economia mundial e refletir sobre alternativas mais humanas e sustentáveis para o futuro. 



Joao Carlos Orquiza_fonte: divulgação
Joao Carlos Orquiza_fonte: divulgação


CRIATIVOS - A chamada evolução do ser humano com o trabalho, desde os tempos em que fixou a terra e inventou a agricultura e depois fez a Revolução Industrial, ainda pode ser considerada um andamento natural no caminhar da humanidade?


JOÃO CARLOS ORQUIZA - Considero que não podemos mais olhar para esse percurso histórico como uma evolução natural. Em meu livro "O Preço da Vida: Seu Trabalho, Sua Energia – O Verdadeiro Motor da Economia Mundial", abordo justamente como a trajetória iniciada na revolução agrícola, e posteriormente aprofundada pela Revolução Industrial, afastou o ser humano de um equilíbrio biológico original e sustentável, no qual o trabalho atendia diretamente a necessidade de sobrevivência.


Antes da agricultura, nossos ancestrais tinham um ritmo de vida alinhado às necessidades naturais. A partir do momento em que fixamos a terra e aumentamos drasticamente a produção de alimentos, criamos excedentes que deram origem à necessidade artificial de trabalho constante, extraindo do corpo humano muito mais energia do que a realmente necessária à sobrevivência básica.


A Revolução Industrial, ao invés de resolver essa questão, aprofundou ainda mais a exploração dessa energia vital humana, transformando-a em uma mercadoria que é constantemente negociada no sistema econômico global. Com isso, desviamos do que seria uma rota natural e saudável para algo insustentável, que ameaça tanto o meio ambiente quanto a saúde física e mental dos indivíduos.


Portanto, a chamada evolução humana pelo trabalho hoje se apresenta mais como um desvio do que como um progresso. É necessário repensar profundamente esse modelo, voltando nosso foco para formas de vida mais equilibradas e sustentáveis, como argumento e fundamento central da obra.

 

CRIATIVOS - A máxima weberiana de que “o trabalho dignifica o homem” é atropelada pela relação predatória com produção e consumo, sacrificando a saúde física e mental em prol do trabalho. Quais as consequências de mantermos esse tipo de relação?


JOÃO CARLOS ORQUIZA - As consequências são profundas e graves, afetando diretamente nossa saúde física, mental e social. Em meu livro, destaco exatamente esse ponto crítico: a energia biológica, produzida continuamente pelo corpo humano em suas trilhões de células, está sendo extraída muito além do limite saudável, alimentando um ciclo econômico predatório e insustentável.


A frase “o trabalho dignifica o homem” é amplamente atribuída a Max Weber, embora ele nunca a tenha proferido literalmente. Na verdade, essa máxima é uma simplificação popular de ideias centrais que ele desenvolveu em sua obra ‘A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo’. Nela, Weber analisa como a ética do trabalho protestante valorizava o esforço contínuo e disciplinado como expressão de uma vocação interior e dever moral — não como uma imposição exaustiva e predatória como vemos hoje.


O que observamos atualmente é um cenário bem diferente daquele ideal de vocação e equilíbrio. A pressão contínua por produtividade e consumo esgota a energia biológica, gerando uma população cansada, adoecida física e emocionalmente, que frequentemente não tem tempo para regenerar suas forças, desfrutar de suas relações familiares e sociais, ou sequer refletir sobre o verdadeiro sentido de sua existência.


Nesse ritmo, as consequências são evidentes: aumento alarmante de doenças relacionadas ao trabalho, transtornos mentais, esgotamento crônico (burnout), depressão, ansiedade e uma crescente sensação de desconexão com a própria vida. Além disso, temos impactos sociais mais amplos, como o enfraquecimento das relações familiares, o comprometimento da coesão social e a degradação contínua dos recursos naturais.


Portanto, manter essa relação predatória significa intensificar ainda mais esses problemas já críticos. A saída que proponho no livro é justamente reconhecer e valorizar adequadamente nossa energia biológica essencial, buscando modelos econômicos mais sustentáveis e justos, capazes de devolver dignidade real ao trabalho e à vida humana.

 

CRIATIVOS - Como o senhor vê o debate no Congresso sobre a extinção da jornada de seis dias trabalho de pôr um dia de descanso (escala 6 x 1)?


JOÃO CARLOS ORQUIZA - Agradeço imensamente à Revista Digital Criativos pela pergunta. Confesso que, propositalmente e em função do foco nas minhas atividades de pesquisa e divulgação do livro, não estava inteirado sobre esse debate específico no Congresso. E foi justamente por isso que a pergunta me impactou de forma especial — ela fez uma ponte concreta entre o conteúdo do livro e uma pauta política urgente.


Após tomar conhecimento do tema, encaminhei ao gabinete do vereador Rick Azevedo o meu livro O Preço da Vida: Seu Trabalho, Sua Energia – O Verdadeiro Motor da Economia Mundial, por entender que ele dialoga diretamente com o Movimento VAT (Vida Além do Trabalho) e com a PEC 8/2025, da deputada Erika Hilton, que propõe a redução da jornada de trabalho.


No livro, demonstro que a economia mundial se viabiliza pela energia biológica continuamente extraída dos trabalhadores — muitas vezes sem que isso seja percebido. Biologicamente, estimo que precisaríamos de cerca de duas horas diárias de trabalho para garantir a sobrevivência básica. Todo o restante é, em essência, energia vital entregue a um sistema que raramente devolve em mesma proporção qualidade de vida, tempo livre ou bem-estar.


A resposta que recebi da assessoria do vereador foi acolhedora e animadora: “Bom dia, João! Aqui é da assessoria de gabinete do vereador Rick Azevedo. Parabéns!!! E muito obrigado por compartilhar com a gente seu trabalho maravilhoso! Estarei encaminhando seu livro para ele! A agenda dele está lotada, mesmo assim estarei encaminhando seu desejo para os assessores de agenda dele, se aparecer algum horário vago/cancelamento.” Isso mostra que há escuta e interesse, mesmo com uma agenda institucional cheia.


Por isso, vejo que o debate no Congresso está no caminho necessário. E acredito que, uma conceituação teórica respaldando propostas como essa — como a que trago no livro — seja possível fortalecer ainda mais essa transformação social tão necessária. Espero que esse conteúdo possa colaborar de forma efetiva com esse movimento.

 

CRIATIVOS - A chamada Quarta Revolução Industrial que se caracteriza por tecnologias como Inteligência Artificial, robótica, automação acelerada, deverá extinguir, segundo observadores, um terço dos empregos até 2030. Um estudo da Universidade de Oxford diz que 47% dos empregos atuais podem ser substituídos por máquinas. Para onde estamos caminhando?


Estamos caminhando para um cenário profundamente desafiador e transformador. Essas tecnologias, ao mesmo tempo em que oferecem enorme potencial de melhoria em produtividade e inovação, também explicitam ainda mais claramente uma questão central tratada em meu livro: a necessidade urgente de redefinir o que entendemos por trabalho e, sobretudo, o valor real da energia humana na economia.


Como abordei também no ensaio apresentado no XVIII Encontro Paranaense de Psicologia, com o título "O Normal e o Psicológico: Uma Contraposição Teórica", durante 96% do tempo histórico da humanidade, existiu um equilíbrio natural entre trabalho biológico e energia necessária para sobrevivência. Apenas nos últimos 4% do tempo histórico, com o advento da agricultura, estabeleceu-se o modelo econômico atual, fundamentado exatamente no excedente gerado pela energia biológica humana.



Esse modelo econômico pós-agrícola, caracterizado pela produção, transporte, comércio e, sobretudo, consumo, depende diretamente do excesso de energia produzido continuamente pelas cerca de 37 trilhões de células que formam cada organismo humano. Sem essa energia constante, as células rapidamente morrem; analogamente, sem energia humana excedente, o sistema econômico atual desaparece.


A substituição massiva dos empregos por inteligência artificial e automação pode ampliar dramaticamente as desigualdades sociais, gerando desemprego em larga escala, empobrecimento e exclusão. Isso não acontece simplesmente porque máquinas são mais eficientes, mas porque nosso atual modelo econômico não valoriza corretamente a energia humana essencial, tratando-a como um recurso descartável.


A Quarta Revolução Industrial intensifica ainda mais esse processo, deslocando os seres humanos do trabalho direto pela automação tecnológica, mas sem resolver o desequilíbrio fundamental: a necessidade estratégica de manutenção do excedente populacional e energético humano. Hoje somos cerca de 8 bilhões e 200 milhões de pessoas no planeta, número que cresce continuamente e é estrategicamente mantido viável pelo sistema econômico atual, que garante minimamente a sobrevivência física justamente para continuar captando e utilizando esse excedente de energia.


Por outro lado, essa crise também representa uma oportunidade sem precedentes. Se formos capazes de reconhecer que o verdadeiro motor da economia não é o emprego tradicional, mas sim a energia biológica essencial produzida pelas células humanas, poderemos construir um modelo econômico mais justo, saudável e sustentável. É urgente que essas transformações tecnológicas sejam acompanhadas por transformações conceituais, políticas e sociais, como a redução da jornada de trabalho, a implementação de renda básica universal e uma redefinição profunda do valor atribuído ao tempo e à vida humana.


Assim, estamos diante de uma encruzilhada histórica: podemos seguir por um caminho em que a automação amplia desigualdades e sofrimento, ou aproveitar essa crise como uma oportunidade única de redefinir nossa relação com o trabalho, com o valor da energia humana e, consequentemente, com o próprio futuro da sociedade.

 

CRIATIVOS - Sinta-se à vontade para conclusões, professor.  Obrigado!


JOÃO CARLOS ORQUIZA - Gostaria de aproveitar esse espaço para convidar todos os leitores a conhecerem e refletirem sobre as ideias que apresento no meu livro. Vocês podem facilmente encontrar informações adicionais e conteúdos complementares fazendo uma busca simples no Google com os termos "o preço da vida Orquiza".


Acredito firmemente que as respostas aos desafios e questões discutidas nesta entrevista não surgirão de forma isolada, mas sim através de reflexões coletivas e do diálogo aberto entre todos nós. No final do livro, disponibilizo meu e-mail (joao.carlos.orquiza@gmail.com) justamente para incentivar que vocês compartilhem suas avaliações, pensamentos críticos e possíveis propostas de soluções.

 

Ficha técnica:

Título: O Preço da Vida: seu trabalho, sua energia – o verdadeiro motor da economiaAutor: João Carlos Orquiza

Páginas: 115 Onde encontrar: Amazon, Clube de Autores, Google Play Store

Redes sociais do autor: Instagram, ResearchGate, Site.



Como pesquisar por músicas na Cedro Rosa Digital?



Roda. de Samba para Churrasco, na Spotify / Cedro Rosa.



Em breve, coproducoes na Bahia!





Comments


+ Confira também

Destaques

Essa Semana

bottom of page