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PANTA REI: O BLOCO DA VIRADA, FLUINDO!





Assim como os baianos, os gregos tomavam seu tempo para contemplar o universo e tentar responder às dúvidas existenciais. Heráclito, por exemplo, considerava que tudo é passageiro, tudo flui, Panta Rei. A metáfora do rio explícita essa mudança: não é possível banhar-se no mesmo rio duas vezes. É isso que explica Lulu Santos quando canta que “nada do que foi será de novo, do jeito que já foi um dia...” (1)


No Rio de Janeiro podemos entender essa ideia do mundo nas transformações que orientaram as diversas formas de comemorar a passagem do ano. Quando aqui cheguei, em meados da década de 1970, a festa de Réveillon na praia de Copacabana era marcada por forte presença religiosa de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda. A noite do dia 31 de dezembro nas areias de Copacabana era de confraternização, oferendas e tambores. Essa celebração a Iemanjá foi sendo deslocada por outras formas de festejar até seu quase total apagamento.

No final da década de 1980 a queima de fogos de artifício começa a mudar as formas de comemorar o Réveillon. O ponto alto, naqueles anos, era a cascata de fogos que descia pelo prisma lateral da Avenida Atlântica do Hotel Le Méridien, hoje Hotel Hilton.   


Os anos de 1990 anunciam a chegada das caravanas da Igreja Universal do bispo Macedo e a ocupação as areias da princesinha do mar pelos fiéis seguidores do bispo. Esa nova ocupação acendeu o sinal de alerta da polícia e da secretaria de saúde do estado, que tiveram que reforçar seus protocolos na intenção de prevenir o que, se imaginava, pudesse derivar num conflito, de proporções bíblicas, entre os celebrantes dos cultos de Umbanda e Candomblé e os fies da Igreja Universal. Lembro de um culto, multitudinário, pré Réveillon, que o bispo organizou na praia, na esquina da rua Prado Junior. A PJ era considerada rua do pecado e moradia do demo, tamanha a quantidade de inferninhos a ocupar o logradouro. O embate, naquela tarde noite, foi direto, olho no olho, entre o bispo e demônio que estava, segundo informavam alguns mais achegados, placidamente concentrado a espera do carnaval.


Há quem diga que o show pirotécnico que predomina hoje teria sido uma forma de homenagear os 2000 anos da invenção dos fogos na China. O fato é que, desde então, se observa uma multidão que espera ansiosa, o pipocar das, hoje, 15 toneladas de fogos espalhados nas 10 balsas fundeadas nas águas da praia de Copacabana. O espetáculo de luz e cor se confunde com os uivos de surpresa e admiração e com o espocar das rolhas de champagne e espumante consumidos pelos celebrantes.


Mas, se esse é o cenário ao qual meus olhos e ouvidos se acostumaram nos últimos 20 anos, neste último réveillon “a novidade veio dar à praia na qualidade rara” de cortejo. Antecipando o início, tanto do carnaval não oficial, quanto do carnaval oficial, milhares de foliões desfilaram pelas ruas da zona sul da cidade entoando um repertório de diversas procedências musicais e que, na certa, em algum momento cantou “Chegou o General da Banda, he, he”, música imortalizada pelo Blecaute e composta pela parceria José Alcides, Satiro de Melo e o Tata Tancredo Silva. O Tata, ensina Luiz Antonio Simas, foi fundador da Confederação Umbandista no Brasil e responsável, na década de 1950, pela invenção da tradição de celebrar Iemanjá na praia de Copacabana.  


Pelo visto, hoje, os fogos não seduzem tanto a tantos, quanto seduz a música que se espalha a cada dia mais pelas ruas da cidade.


Se é verdade, como quer Heráclito, que tudo passa, tudo sempre passará, permito-me ver nessa nova ressignificação do réveillon na cidade, agora com a marca de glitter e purpurina, aquilo que o Lulu Santos antecipara em Tempos Modernos:


Eu vejo um novo começo de era/ de gente fina, elegante e sincera...

Evoé!


(1) Nota redação: frase publicada inicialmente no poema O Dia da Criação, de Vinícius de Moraes.


 

No caldeirão multifacetado que molda a riqueza cultural de um povo, as religiões, festas populares, como o carnaval, e a expressão artística através da música desempenham papéis vitais.



A força das religiões reflete-se na diversidade espiritual que enriquece tradições e celebrações. Enquanto isso, o carnaval, com sua energia contagiante e manifestações artísticas, é um reflexo da identidade e da criatividade do povo brasileiro.


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