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Memórias de um Cachorrinho Maduro (9)


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   Eu passo pra mamãe o pensamento do meu coração e ela entende na linguagem dela. Ela vê a minha coragem e paixão e audição melhor do que todos. Hoje mesmo, ela me procurou pela casa até que resolveu me chamar, “Bowie!!!” Eu estava lá longe, dormindo no canto do sofá na sala, mas ouvi e corri pra ela.


   Quando mamãe primeiro viu que eu era agradecido foi um dia na minha meninice, quando eu passei horas longe dela lá na ala da Tweety com as amigas que me adoram. Eu nunca tinha ficado longe da mamãe por tanto tempo depois que a Tweety me deu pra ela e ela me curou de ter sido passado adiante.  Depois que saí da ala da Tweety, Chris levou a gente pra visitar o tal amigo dele lá no alto das montanhas e eu tentei passar pra mamãe as minhas desculpas e reconhecimento. Na casa do cara, tinha um cachorro que também se chamava Bowie e que não era chato como as grandonas brancas e burras, filhas de lobo e cachorro. Enquanto eles corriam pela casa, eu só fazia olhar bem pra mamãe e vir me chegando pra ela sempre que podia. Então, ela disse pro Chris:


   “Acho que ele se sente culpado, coitadinho, olha como está atencioso comigo! Acho que está se desculpando!”

   Preciso outro Spa. Mamãe me viu no topo do travesseiro quando fomos dormir, olhou as minhas orelhas esparramadas e emaranhadas e falou:

 “Olha ele aí em cima todo emboladinho, precisa um spa hein garoto? Hora de desembaralhar os seus cachinhos!”


   Me lembrei do cachorro que ela viu e me mostrou quando me levou pra passear. Disse pra mim que ele era um São Bernardo, o maior cachorro que existe. Lembrei dele porque não tinha cachinhos e nem orelhas tão compridas, mas era muito parecido comigo, as cores, o cabelo, a cara, até o tamanho, que era só um pouquinho maior do que o meu. A raça “São Bernardo” deve ser um ramo da minha. Um ramo mais popular e menos classudo do que um puro e tradicional Cavalier, como eu. Nem devem precisar de spa porque as orelhas não são tão compridas como as minhas, que a mamãe acha lindas e que precisam de um produto fino antes de serem penteadas com pente especial e secadas no secador. Mas o jeito que o São Bernardo parecia comigo me fez até pensar num irmão gêmeo. Pensei isso, até ele ficar com medo de mim. Eu latia pra ele todo furioso na minha coleira pra mostrar a minha superioridade e ele nem abriu a boca daquela cara de sono que ele tem.  Cachorro medroso e sem orelhas bem compridas com cachinhos não descende de um Cavalier coisa nenhuma. Gêmeo de mim, nem pensar!”


   Mamãe estava animada me dizendo que tinha viagem de carro pela frente, lá pra SF. O Chris ia dirigir aquele carro grande dele em que eu e a Maya cabemos no banco de trás que vira colchão/mala.  Eu já estava até mandando mensagens de pensamento pros meus amigos lá do Union Square. O homem que comia da latinha sentado na calçada podia até me convidar pra almoçar ali do lado dele. Eu só não queria ir naquele lojão. As pessoas lá dentro nem me notam muito de tão ocupadas que ficam olhando aqueles montes de roupa por tudo quanto é canto. Ficam que nem eu fico na frente de comida.


   Mas a viagem sumiu no ar. O Chris foi de avião visitar a namorada dele em N.Y. e nem levou a Maya. Fico contente que ele sabe que eu não dou bola pra ela, mas que sou ótima proteção pra todos desta casa. Enquanto ela late pro que vê e pro que não vê, eu nem me abalo porque sei que estamos em segurança. Chris tenta ensinar Maya a não latir tanto, mas mamae fica do lado dela:


   “ Coitada, ela tem que poder se expressar!”


   Ontem, Tweety passou a noite aqui. Ela me abraçou e mamãe ficou encantada olhando pra mim, “Olha que lindo! Olha como ele está reconhecido pelo seu carinho”, ela ficava dizendo.

   Eu estava mesmo, mas o meu agradecimento foi aumentando e eu fui boiando lá pras nuvens. Mamãe tirou muitas fotos da Tweety comigo e elas não paravam de rir e de dizer “que gracinha”. A minha emoção foi virando nervoso porque eu tinha me soltado pra muito longe, e como sou um Cavalier macho e maduro, tive que me recompor e me mostrar firme.


   Não foi fácil! quase tive que rosnar pra conseguir sair de perto da Tweety e ir deitar no pé da cama. Mas mamãe me puxou de volta pra cima, numa de papear, e disse: 


   “Ainda bem que a gente se encontrou nesse universo tão grande, não é, Luluco? Você é um cachorrinho muito consciente das emoções da gente!”


Sustentabilidade, Florestas, Brasil, escute essa playlist na Spotify / Cedro Rosa. Disponível para downloads e licenciamentos.



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