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Melhora ou piora?


Quando resolvi morar na roça, ou no interior, como alguns preferem, escolhi a dedo e com muito critério aonde seria esta “roça”. Na verdade, esta escolha foi feita muitos anos antes, quando – sem saber que mais tarde teria que tomar esta decisão – comprei a terra onde agora moro há mais de uma década.


Naquele momento a ideia era buscar um local longe da civilização, sem eletricidade, com estrada de terra, sem água encanada, etc. Encontrei tudo isso e muito mais, na Serra da Bocaina, na zona rural de um município com menos de 10.000 habitantes. Era uma casa de colono centenária no meio da mata-Atlântica, que me abrigou com dificuldade, devido ao seu estado precário mas que naquela altura me deu a proteção necessária que eu carecia contra as intempéries.


Meu sonho estava sendo realizado e passei temporadas monumentais e inesquecíveis no final do século XX (apesar dos mais de 50 anos de idade). Reformei o fogão a lenha e os candeeiros para a iluminação noturna. A água chegava através de bambu rachado em meia-cana e eu num Jeep Willys 1961 chamado carinhosamente de “bala Toffee”, por ter a embalagem azul e porque grudava nos dentes (no caso, o jipão azul grudava na estrada com sua tração 4x4 e nos livrou de inúmeros apertos).


O tempo passou e eu fui ficando cada vez mais encantado com o paraíso que havia descoberto, um pequeno vale, com água abundante e apenas três moradores. Minha terra era a do meio, nem na entrada nem no final. Quando havia tráfego intenso na nossa estrada, contávamos espantados três carros por semana: eu e meus vizinhos, quando íamos à cidade comprar mantimentos. Aos poucos fui melhorando o meu espaço. Consegui instalar energia elétrica, através de uma usina hidrelétrica construída no ribeirão que atravessa a propriedade. Assim, uma TV, rádio, geladeira, liquidificador e mais lâmpadas eram acionadas pela minha turbina. Como era um sistema rudimentar, eu tinha que deixar ao menos 5 lâmpadas sempre acesas para não queimar o equipamento. Assim, banheiro, cozinha e varanda estavam sempre iluminados dia e noite ou, como se diz hoje, 24/7. E se passaram mais de dez anos nestas condições maravilhosas.


Certa vez, na cidade, uma conhecida me perguntou se eu dava muitas festas. “Por que?” perguntei espantado. E ela me diz: “Ah, é porque nas suas bandas, a sua casa é a única que tem luz e fica sempre acesa à noite”...


E o progresso veio vindo devagarinho. Aos poucos, fiz muitas obras. Mantive a casa de colono intacta e acrescentei forro, aumentei as janelas, coloquei vidros, construí mais cômodos, mais banheiros, coloquei água quente, aumentei a varanda, fiz copa e cozinha, levantei um teto novo, etc.


Construí uma casa de caseiro, contratei um casal e a evolução do meu paraíso foi mais consistente. Mudas foram plantadas, gramado colocado, a estrada melhorada e quando a Internet surgiu, coloquei uma antena no alto do morro e muitas coisas mais que – agora voltando ao início – quando tive que resolver onde morar definitivamente na roça, não havia mais razão para sair do meu refúgio.


Naturalmente me envolvi na vida cotidiana da cidade. Faço parte do Conselho do Meio-ambiente, do Conselho do Turismo e fundei, com uma grande amiga, o Conselho da Cultura, quando pudemos – com muito orgulho – implementar o projeto da Lei Aldir Blanc.


Sou vice-presidente de uma associação de moradores da zona rural da cidade, que combate incêndios nas matas, faz reflorestamentos das matas ciliares com ajuda das crianças das escolas e outras atividades que envolvem a proteção do meio-ambiente. Recolhemos com amigas e amigos roupas usadas e promovemos dois bazares anuais para a população local mais humilde com itens que não chegam a cinco reais, às vezes dez reais quando o item está quase novo.


Mas vem a questão.


Respiro ar puríssimo, sem nenhuma poluição. A própria natureza se revela através de vários bindicadores, demonstrando a pureza do oxigênio. A água que bebo vem de fonte. Uma mina que brota espontânea do seio da terra. Desce o morro por mais de 400 metros através de encanamento subterrâneo, e chega à minha casa sem flúor e sem cloro. Ao beber uma água dessas é que entendemos porque a chamam de água doce.


A horta fornece legumes e verduras sem agrotóxico algum. Na verdade, minha propriedade é cadastrada como orgânica. Tudo é puro e saudável, inclusive o pomar que me fornece bastante frutas.


As noites são escuras (salvo noites de lua cheia) e silenciosas. A ausência de qualquer ruído até assusta. Oito horas de puro repouso revigorante e, entre cinco e seis da manhã, as saracuras começam a piar com seu espetacular despertador natural.


Mas aí vem o contraponto: como sou do Rio, fico sem praia. Não vejo o mar nem sinto a areia sob meus pés. Vejo pouco os amigos e amigas. O chopinho? Só quando venho à cidade, o que ocorre de dois em dois meses. Aproveito a ocasião e vou jantar fora, quando é uma alegria rever todos. Vou a um teatro ou ao cinema, passo na livraria para curtir um livro novo... Vernissages são imperdíveis assim como galerias de arte para rever artistas que nos comovem com suas sensibilidades. Uma festa, quando acontece, ou um show não são desperdiçados.


A solidão fica na roça, e na cidade estou em contato com gente, me reconectando com o dia-a-dia de um grande centro urbano e todo o bem-estar de uma metrópole enorme.


Mas então fica a pergunta, na minha vida, isto foi uma melhora ou uma piora?


Bananal-SP

Agosto 2023

 

Indústrias Criativas: Gerando Emprego, Renda e Inclusão Social




As indústrias criativas desempenham um papel crucial na geração de empregos e renda, além de oferecerem oportunidades de reinserção social para indivíduos em situação de risco. Através de cursos e capacitação em atividades criativas como música, arte, design e cinema, essas pessoas podem adquirir habilidades valiosas e desenvolver talentos, abrindo portas para novas carreiras. A economia criativa também fomenta o empreendedorismo, impulsionando microempresas e startups que promovem a inovação e a diversificação econômica.




Um exemplo notável é a Cedro Rosa , uma iniciativa que tem transformado a cena musical independente no Brasil e no mundo. Através do apoio a artistas emergentes, oferecendo plataformas de divulgação, produção e distribuição de música independente, a Cedro Rosa amplifica vozes que, muitas vezes, não encontrariam espaço nas estruturas tradicionais da indústria. Isso não apenas fortalece a diversidade cultural, mas também cria empregos diretos e indiretos, envolvendo desde músicos e produtores até equipes de marketing e tecnologia.


Vielas da Memória.



No contexto social, programas como os da Cedro Rosa têm o potencial de transformar vidas. Ao fornecer treinamento e oportunidades na indústria da música, indivíduos marginalizados ganham não apenas habilidades técnicas, mas também confiança e um senso renovado de propósito. Isso não só contribui para a redução da desigualdade, mas também enriquece a sociedade ao celebrar a diversidade cultural e artística. Portanto, as indústrias criativas, representadas por iniciativas como a Cedro Rosa, desempenham um papel vital na construção de um futuro mais inclusivo, dinâmico e promissor.

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