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Esse cara!


(posfácio do livro ‘Chico Buarque no Olho Mágico)


Lais Amaral Jr

O conto que dá nome à coletânea é uma homenagem a Chico Buarque de Holanda. Está mais do que obvio. Uma pretensiosa homenagem. Que ele não nos ouça, mas o considero o mais importante artista brasileiro dos últimos cinquenta anos. Por tudo que fez e continua fazendo. Pelo que cantou e canta, pelo que compôs e compõe, pelo que escreveu e escreve pelo que falou e pelo que não falou. Claro que ele não é uma unanimidade. Ainda bem! (Um tricolor, como ele, já abordou o tema) E essa é a segunda homenagem que faço a ele. (1)


A minha ligação com Chico, é bom que se frise, vai além da admiração. Ou da tietagem, como queiram! Já confidenciei aos amigos mais chegados que ele foi uma espécie de divisor de águas na minha vida. Confesso sem medo de exagerar, que Chico impediu que eu me tornasse um alienado, ou um idiota da objetividade, ou um reacionário.

Nasci numa família de classe média-média por parte de pai e menos média por parte de mãe. Fui criado na Baixada Fluminense, periferia do Rio de Janeiro e em plena ditadura militar. Sobravam carinho e humanidade no seio familiar assim como faltavam politização e informação por parte daqueles amores de pessoas. E essa despolitização não raramente flertava com a alienação. Foi aí que Chico entrou porta adentro, sem a menor cerimônia, com a sua ‘Banda’. Foi no festival da TV Record (aquela outra) em 1966, que assisti meio que sem querer numa reprise na extinta TV Rio.


Eu tinha uma queda por música desde cedo. Nossa família tinha um hábito muito saudável que era o gosto pela música popular. O rádio vivia ligado o dia inteiro. Agradeço penhoradamente. Mas voltando à ‘Banda’, aquela marcha acendeu alguma coisa lá dentro. Foi um encantamento, uma ligação com alguma coisa boa, lá longe, ancestral. Com outras épocas, outra vida, sabe lá. Disparada, de Geraldo Vandré, naquela explosão de Jair Rodrigues também me deixou com a pulga atrás da orelha. Muito tempo depois, fui saber que Chico ameaçara abandonar o festival caso ‘Disparada’ não fosse à vencedora. O júri e a organização do festival queriam a Banda. Vandré já não era bem visto naquele tempo. Deram as duas empatadas em primeiro lugar. Coisas desse cara.


Mas voltando àquele dia, dali em diante passei a seguir os passos de Chico, o que consumia parte do meu tempo de menino de pés no chão, comprometido com as peladas no campinho, as brincadeiras de rua e a escola. Ele me abriu a porta para um mundo até então desconhecido. Somava-se às minhas obrigações de criança livre, essa nova música. A partir dele descobri e passei a gostar de uma geração maravilhosa de compositores, músicos e intérpretes de nossa música.

No ano seguinte eu já esperava ávido diante da TV a nova edição do tal Festival. A essa altura eu já era fã dos programas musicais da emissora que me hipnotizavam noite após noite. E no monumental e histórico festival de 1967, Chico me atropelou com aquela ‘Roda Viva’, confirmando uma desconfiança que já me brotara no ano anterior com a vertiginosa ‘Disparada’ e a doce, lírica e dissimulada ‘A Banda’. O galo estava cantando, eu ouvia, mas ainda não sabia onde. Era a ditadura. Era isso. Eu sabia que aquelas músicas queriam dizer algo. Eram os anos de chumbo cujos estilhaços chegaram, pela primeira vez, com a expressão “quebra-quebra”, quando algumas pessoas saquearam uma mercearia perto de casa.


Foi com a música popular brasileira que meu destino mudou. E Chico estava na encruzilhada, como um farol, mostrando o caminho a seguir. Depois a vida seguiu seu rumo até que um dia, levado pelas mãos de um amigo comum, o Dr. Ézio que era médico do Politheama, time de futebol do Chico, fui apresentado a ele. Foi numa quarta ou quinta-feira, no seu campo de futebol soçaite do Recreio dos Bandeirantes. Uma tarde nublada e inesquecível. Uma série de ‘peladas’ da qual participaram vários artistas. Eu estava com o saudoso amigo Adalberto Cantalice, outro apaixonado pelo compositor e que editava uma revista de política e cultura na qual eu escrevia. Foi quando estive fisicamente mais perto do artista.

É isso. No mais, um grande abraço, Chico. E obrigado por tudo, mestre.



(1) A primeira homenagem que fiz a Chico Buarque foi escolher o nome da minha filha querida, Carolina, meu amor incondicional.


 

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