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EDUCAÇÃO, PRECONCEITOS E FUTEBOL




Existe um conceito forte, explicitamente resguardado em nossa Constituição Federal, que é o da igualdade entre os sexos. Trata-se de um conceito importantíssimo na medida em que estabelece uma premissa básica que se desdobra em uma infinidade de leis complementares contra a discriminação. A partir daí, tem-se a igualdade de remuneração para cargos semelhantes e uma série de outras disposições infraconstitucionais, para usar o termo jurídico, ou seja, constantes de leis feitas para que seja respeitado aquele preceito constitucional.


Outro ponto a ser considerado é a questão da tolerância ou respeito quanto às opções individuais no tocante à identidade de cada indivíduo segundo suas características biológicas, culturais e psicológicas. Neste aspecto, a nomenclatura LGBTQIA+ procura definir um conjunto de características e múltiplas opções de indivíduos que devem ter seus direitos protegidos.


A conjugação desses dois conceitos, igualdade dos sexos e respeito às opções individuais, deveria estar absolutamente clara em nível constitucional e mais detalhada por leis subsequentes. A História nos mostra, porém, que é necessário que o Legislativo esteja vigilante para não incorrer na excessiva individualização de situações a serem cobertas por lei, pois isso criaria um sistema legal extremamente complexo de ser administrado. A existência de uma infinidade de regras tentando regulamentar situações em particular traz o perigo da fragmentação do conceito de cidadania ao reforçar políticas identitárias que dividem a sociedade em múltiplos segmentos.


Lembro que logo após a Revolução Francesa, com a exaltação do conceito de individualidade, da celebração do homem e seus direitos, viu-se difundido o uso da expressão “cidadão”, o que foi encorajado pelo próprio Estado de então. No Brasil, durante o primeiro mandato do governador Brizola no Rio de Janeiro, houve um grande empenho em fazer a polícia, ao entrar nas comunidades carentes, tratar os seus habitantes dentro desta mesma ótica, isto é, como cidadãos. Foi inovador. Até então, a praxe (infelizmente, ainda viva) é haver um preconceito embutido que categoriza os moradores de comunidades de baixa renda, muitas vezes violentas e desprovidas de infraestrutura, como cidadãos de segunda categoria.


Vale dizer, no caso, “de segunda categoria” deveriam ser considerados o próprio Estado e a sociedade – complacentes e passivos diante da situação desumana imposta a estes cidadãos. Tais manchas são cada vez mais extensas em nossas grandes cidades.


Ao se tratar da questão da igualdade de sexos, observamos também algumas distorções. Vale reforçar que a situação não é simples e transcende a simples dicotomia entre machismo e feminismo, tantas vezes apontada e fomentada, o que é nocivo para o bom funcionamento de uma sociedade. Um exemplo atual que gostaria de destacar é a realização do campeonato mundial de futebol feminino ora em curso na Austrália. Vejo como temos terreno para avançar quando ouço locutores e comentaristas narrarem um jogo como o que assisti no último sábado, 28 de junho. Era um Brasil contra França, onde o locutor da TV irradiava o jogo em tom paternalista, no que foi seguido pelos comentaristas - como se estivessem se referindo a um conjunto de crianças ou pessoas extremamente frágeis. Chamava a atenção a forma distinta da narração. Aquilo soaria bizarro se pensássemos em um jogo de futebol masculino. Sem qualquer pudor, amenizavam alguns erros grosseiros e usavam palavras de encorajamento que, mesmo não sendo sua intenção, deixavam claro sua indulgência para com a qualidade do que estavam ali apresentando.


Isso culminou quando a França fez o seu segundo gol, que levou à vitória. O gol se deu em uma jogada tipicamente ensaiada onde a zaga falha ao marcar um adversário alto que vem na área para cabecear. Foi exatamente o que fez o time francês. O locutor, em tom professoral, repetia “Não foi por falta de aviso!” (no caso, dele próprio, pasmem), como estivesse ali dando uma aula para as “pobres moças” expostas ao ataque inimigo...


Não se deve entender com isso que sou contra o estímulo e o incentivo à prática e a torcida para o futebol feminino. Pelo contrário. Devemos sim apoiar que haja até políticas públicas em prol deste esporte, tão atrelado à nossa cultura e cultuado por milhões de brasileiros. Evoluímos e é certo que as mulheres em campo merecem ser tão prestigiadas como os homens. O que se deve questionar é a melhor abordagem para isso. Será que o caminho é tratar as apresentações do time feminino como um espetáculo de condescendência? Minha impressão é que diziam de forma sutil: “Elas são ‘café com leite’, aprendizes que estão chegando no mundo dos ‘grandes’. Tenhamos paciência, pessoal”! Bem sabemos que não é nada disso. São profissionais, batalhadoras que se entregam em campo, como faz, ou deveria fazer, qualquer jogador de alto nível convocado para representar seu país.


O outro extremo também é digno de nota e comprova que a mídia ainda patina na forma de abordar o futebol feminino como entretenimento: durante um jogo da semana passada, vimos uma jogadora comemorar seu gol abraçando e beijando a boca de sua namorada na plateia. Foi o estopim para que a mídia explorasse a narrativa de que exposição pública daquele afeto denotava a superioridade feminina frente aos homens que jamais teriam tal atitude em situação análoga. O tema foi pisado e repisado, como se isso justificasse porque o futebol feminino deve ser visto com interesse... mas seria este um chamariz correto?


Enfim, sabemos que futebol e política – embora não devessem – se misturam. Muitas vezes até demais. Sabemos também que a ‘magia do jogo’ transcende as quatro linhas do gramado. É, porém, o jogo em si, a técnica apurada dos jogadores e jogadoras, seus talentos específicos, suas jogadas, a estratégia de enfrentamento, como os técnicos ou técnicas organizam seus times... – este é o coração do futebol. Isso encanta a torcida e a leva aos estádios e à TV.


Eu lembro também aqui do episódio recente ocorrido com o jogador Vinícius Jr., brasileiro e astro do Real Madrid, vítima de ataques racistas durante uma partida contra o Valencia. O que se seguiu foi uma onda de merecidos protestos em solidariedade a ele que comoveu milhões de pessoas ao redor do mundo. O verdadeiro problema, contudo, não pode ser deixado de lado: viu-se milhares de pessoas na torcida do Valencia entoando cantos racistas e provocando o jogador por sua cor (cena que, infelizmente, ocorreu outras vezes em sua carreira). A polícia prender apenas dois ou três torcedores “incitadores” chega a ser patético.


Sim. Devemos reconhecer este problema de frente. Não é exagero e não são casos isolados. Citei acima apenas três exemplos dentre a infinidade que vemos ao se ligar a TV, entrar nas redes sociais, passear pela rua, entrar em um clube, levar as crianças na escola. Um problema de educação que as próprias crianças, muitas vezes copiando seus pais, repetem e perpetuam o absurdo...


O tratamento discriminatório, seja por questão de opção sexual, seja por questão de opção afetiva, seja por questão de racismo, mostra que o trabalho a ser efetuado é um trabalho de convencimento. É um trabalho de educação e um trabalho de desmistificação. Ao mesmo tempo, é um incitamento ao maior respeito que os seres humanos devem ter entre si, independente de idade, independente de cor, independente de opção sexual. Em outras palavras, o reconhecimento que as sociedades humanas são compostas por pessoas diversas, com interesses diversos, com características diversas - e que as opções efetuadas são da responsabilidade individual de cada pessoa. Qualquer comportamento condenatório que guarda uma implícita noção de que o comportamento A é melhor do que o comportamento B não pode prosperar em uma sociedade justa, fraternal e democrática.


 

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