Criatividade Verde no Combate às Enchentes: São Paulo Pode Salvar Milhões com Soluções Baseadas na Natureza
- Redação
- há 2 dias
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Cientistas da USP revelam como telhados verdes e pavimentos tecnológicos podem evitar alagamentos catastróficos e proteger a economia da cidade.
São Paulo, com seus rios e córregos canalizados, conhece bem a força das chuvas. Basta um temporal para a cidade virar um cenário de perdas, com carros submersos e casas invadidas pela água. Mas e se a solução para evitar esse caos estivesse na própria natureza, aliada à alta tecnologia? Uma pesquisa revolucionária do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) mostra que isso não é só possível, mas pode economizar milhões em prejuízos.
Um estudo recente, publicado na revista International Journal of Disaster Risk Reduction (2025), desvendou o impacto de um alagamento ocorrido em 2019 na bacia do rio Aricanduva, na Zona Leste de São Paulo. A conta foi salgada: mais de R$ 2 milhões em perdas diretas, incluindo danos a estruturas, móveis, equipamentos e veículos. Para chegar a esses números, os pesquisadores utilizaram modelos hidrológicos e hidrodinâmicos avançadíssimos, capazes de simular o comportamento da água da chuva com detalhes de até 10 centímetros na topografia e altura das construções. Isso significa que eles podem prever com precisão onde e como a água vai se espalhar.
Telhados Verdes e Ruas Permeáveis: A Receita para Cidades Resilientes
A grande sacada, porém, veio de um trabalho complementar, de 2023, publicado na Frontiers in Built Environment. Nele, os cientistas exploraram o poder das Soluções Baseadas na Natureza (SBN) – as chamadas "soluções verdes" – em comparação com as tradicionais "soluções cinza" (como canalizações de concreto) no combate às inundações. E os resultados são animadores para quem busca inovação e sustentabilidade.
Imagine só: a simples substituição de apenas 24% dos telhados convencionais por telhados e áreas internas verdes já seria suficiente para evitar o transbordamento do canal principal do Aricanduva. Sim, menos de um quarto da área! Se a opção fosse por pavimentos tecnológicos permeáveis, que absorvem a água da chuva, seria necessário cobrir cerca de 40% das áreas pavimentadas para alcançar o mesmo efeito.
Esses números ganham ainda mais relevância quando lembramos que eventos de chuva extrema, como o observado em fevereiro de 2025 em São Paulo, estão se tornando cada vez mais frequentes.
Desafios e o Caminho a Seguir
Apesar da euforia com os resultados, os pesquisadores são realistas. Humberto Ribeiro da Rocha, coautor dos trabalhos, aponta os desafios. “Sabemos que implementar soluções verdes em escala urbana não é simples, nem barato. Ainda há um longo caminho de amadurecimento para lidar com esse tipo de desafio no Brasil, tanto na cultura cidadã, quanto nas práticas de mercado”, analisa Rocha.
Maurício Jonas Ferreira, autor principal, complementa que o objetivo não é eliminar as enchentes de vez, mas oferecer ferramentas para um planejamento urbano mais inteligente, que salve vidas e reduza os imensos prejuízos financeiros. A integração dessas pesquisas com a Defesa Civil, o fortalecimento dos sistemas de alerta e o uso de mapas de risco são passos cruciais para definir onde essas intervenções sustentáveis devem ser prioritárias.
A pesquisa contou com a colaboração da SP Águas e o financiamento da FAPESP e do CNPq, reforçando a importância da ciência e do desenvolvimento para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas.
A Ciência por Trás da Solução
Para quem se interessou pela profundidade dos estudos, os artigos científicos são acessíveis e detalham a metodologia:
FERREIRA, Maurício Jonas; da ROCHA, Humberto Ribeiro. Hazard classification, social and economic losses in flooded urban areas. International Journal of Disaster Risk Reduction, v. 120, 2025.
FERREIRA, Maurício Jonas; da ROCHA, Humberto Ribeiro. Green roof infrastructure outperforms grey technology in flood mitigation in São Paulo’s urbanized region. Frontiers in Built Environment, v. 9, 2023.
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