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Conto / Aniversário

Paulo Castro, para Criativos / CR Zine.

Paulo Castro / Foto Cedro Rosa



“Parabéns pra você”

78 anos. Um bolo, uma vela, uma vizinha, uma faxineira e uma cantoria, que não pediu, que não queria. Acostumou-se à solidão, o que não combina com festa, que traz lembranças do passado para o presente, machucando.

“Nesta data querida”


Os amigos, agora uns dois ou três, longe, em outros bairros, em outras cidades. Trocavam alguns raros telefonemas para falar de doenças ou comunicar falecimento.


Cresceram juntos e tinham orgulho de pertencerem à mesma turma da praia, das brigas de rua, das festinhas, dos namoros e porres de vinho de garrafão e “Fogo Paulista”.


A esquina, à noite, era o ponto de encontro pra discutir o resultado do futebol de praia, falar da gostosa do 301, que era gamada por “aquele babaca”, do livro que dois ou três leram, do filme que estava passando no Rian, do vestibular que se aproximava... Às vezes, quando discutiam a validade de um gol marcado aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, a conversa aumentava o volume: ”Foi roubo! Não foi! Não fode! Tenho medo de você não!”


Depois, tudo voltava ao normal e cada um ia para casa com o sentido de dever cumprido: fortalecer a união e a amizade da “Turma da Paula Freitas”.

“Muitas felicidades”


O filho, longe também. Cuidando da vida e da família em outro estado. Duas visitas no prazo de três anos. Entre eles, palavras trocadas apenas para preencher o tempo; a nora, distante, e o neto, que mal conhecia, jogando no celular sem lhe dar atenção.


Quando recordava algum momento feliz, logo em seguida ficava em dúvida de se realmente aconteceu, devido ao total desinteresse demonstrado pelo filho: “Foi?”. A mesa tinha pães, bolos, sucos e um desencontro de doer a alma. Ele se perguntava quando e como se deu esse afastamento.


A mãe morta, assumiu a educação do filho. Na sua visão, fez o que pode. Não era carinhoso, mas era amigo. Conversavam pouco, mas, quando ele o procurava com algum problema, prestava-lhe toda a atenção.


Deu conselhos. estudo e o pouco dinheiro que tinha na poupança, para que abrisse consultório. Teria sido a nova mulher dentro de casa? Achava que não: durou pouco. O “amamos você” na despedida machucava mais do que se saíssem calados.

“Muitos anos de vida”


E agora, saindo das amargas lembranças, ouvia duas pessoas quase estranhas desejando o que, para ele, não tinha mais sentido. Olhou-as como se também já pertencessem ao passado. “Sopra, sopra!”, pediam elas. Uma rajada de vento da praia de Copacabana, porém, apagou a vela e ajudou a celebrar mais um desencontro em sua vida.


 

Paulo Castro (Paulinho do Cavaco) é compositor e professor de lingua portuguesa. Participa de várias rodas de samba no Rio de Janeiro (Bip Bip entre elas).

Suas músicas ja foram gravadas por nomes como Nélson Sargento. Élton Medeiros, Áurea Está preparando um livro de contos, poemas e letras de músicas. O conto Aniversário faz parte do livro.

As músicas de Paulinho do Cavaco são representadas/editadas pela Cedro Rosa.


Escute algumas gravações aqui.


Reunião de Condominio (Gravada no CD do Bip Bip)


Saudade dos Meus Botequins / Paulinho do Cavaco e Luis Pimentel


 

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A Cedro Rosa produtora e distribuidora de conteúdos, com sedes no Rio de Janeiro, New York e Tokyo.


Sua plataforma digital funciona em 10 idiomas no mundo inteiro e conta com mais de 3 000 mil certificadas, prontas para serem licenciadas para sincronizações diversas em filmes, novelas, audiovisuais, games e publicidades.



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