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Carla Cintia Conteiro, uma escritora imersa nomundo dos livros e em outras frentes culturais


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mundo dos livros e em outras frentes culturais

 


Carla Cíntia Conteiro é uma escritora, carioca de Campo Grande, Zona Oeste do Rio. No rosário de atividades, como lembra seu nome, também é professora, bacharel em Ciências da Computação, especialista em Marketing Cultural e em Edição de Livros.


Atua como produtora cultural e consultora editorial. Publicou seis livros solo, além de dois em parceria na França. Participou de mais de dez coletâneas, idealizou e editou cinco volumes da coleção ‘Vozes Femininas’ e colaborou na publicação de diversos outros autores.


É membro da Academia Internacional de Literatura Brasileira – AILB e acaba de participar da antologia, Vem pra cá! – Conexões, lançado na Bienal do Livro Rio 2025 nos dias 16 e 21 de junho. Como ela mesma diz, vive imersa no mundo dos livros. Coisa que um teste vocacional realizado ainda nos tempos da escola já havia previsto.


Apesar do que apontou aquele teste, essa imersão não foi imediata. Geralmente isso não é muito simples pra quem tem que batalhar. A sobrevivência exige ações mais imediatas. Um dia percebeu que no Brasil, ser mulher trabalhadora, e negra, tem suas complicações. Após uma licença maternidade perdeu o emprego com carteira assinada. Tendo que conciliar a necessidade de uma atividade remunerada com os cuidados da criação de um recém-nascido, passou a colaborar na produção de textos da empresa familiar, prestando serviço para a indústria fonográfica, que vivia um momento áureo nos 1990.


No início dos anos 2000, descobriu os blogs e se reencontrou com a escrita criativa. Já tinha material para um livro, mas o caminho nunca é fácil. No ano de 2008, juntamente com seu parceiro que já tinha publicado um livro sobre música brasileira no exterior, foi convidada para escrever um livro sobre Caetano Veloso para o mercado francês (Caetano Veloso, Lâme brésilienne – Editions Demi Lune). A partir daí, e já sabendo como publicar livros independentes sem precisar investir em grandes estoques, entrou de vez na literatura.


Inscreveu seu livro inicial, um volume de crônicas, no concurso da União Brasileira de Escritores (UBE), e tirou o primeiro lugar pela Academia Brasileira de Letras. Foi um momento que misturou surpresa e muita alegria. O impulso que precisava. O teste vocacional acertara em cheio. Foi indicada ao Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano 2021, da UBE e em 2023 ganhou o Prêmio Reflexo Literário – Melhor Profissional da Área Editorial.

 

Recentemente lançou seu sexto livro solo, Carlíricas, o primeiro apenas de poemas. Fora tudo isso, ainda encontra tempo para participar do programa ‘Mulherizarte’, toda última segunda-feira do mês, às 20 horas no Canal de YouTube ao lado de Marianna Leporace, Ju Cassou e Cacala Carvalho.

 

CRIATIVOS -   Carla, você vivenciou uma realidade difícil pela qual passa a maioria das mulheres que precisam trabalhar em nosso país - sem contar a questão racial, um complicador a mais. Essa experiência aparece em alguns de seus livros?

CARLA CINTIA - Não encontrar meu emprego no retorno da licença maternidade foi bem difícil, mas me proporcionou experimentar novos caminhos, que me trouxeram até aqui. O mercado de trabalho e diversos outros aspectos, como atendimento de saúde, rede de apoio, acolhimento, vida afetiva são complexos para as mulheres no Brasil. Especialmente para as mulheres negras. Sempre segui, no entanto, as recomendações familiares para me esforçar mais do que todos, manter a altivez e a dignidade. Isso foi feito mais por exemplo do que por discurso. Meus pais e minha avó materna, pessoas negras, ele médico veterinário e elas professoras, além da "régua e compasso", puderam proporcionar um caminho pavimentado de boas oportunidades para mim e para minhas irmãs. Hoje em dia, tenho descoberto na própria pele mais camadas que surgem na vida com o passar dos anos. Por isso, respondo que sim, o grito, mesmo abafado, contra a misoginia, o racismo, a intolerância, e agora, o etarismo estão presentes na minha escrita. Não se trata, entretanto, de uma escrita sempre autobiográfica, mas a partir do meu ponto de vista, das experiências vividas, observadas ou estudadas por mim. O meu livro mais recente, "Carlíricas", é o sexto solo, embora seja o primeiro apenas com poemas, e retrata essa multiplicidade de questões em seus capítulos: Arte, Envelhecimento, Negritude, Militância, Ficção poética e Lascívia.


CRIATIVOS -   Na sua trajetória profissional, a passagem pelo mundo fonográfico, da música, certamente foi marcante. Você tem alguma boa lembrança dessa época que poderia comentar?   

CARLA CINTIA - Nesse período, conhecíamos os lançamentos da indústria com antecedência, frequentávamos muitos shows, conhecemos muitos artistas e outras pessoas interessantes. Nosso trabalho era produzir textos para os encartes dos CDs e DVDs, legendas, press releases, e outros. Para fazer isso, foi necessário aprofundar meus conhecimentos sobre música, marketing e mercado, tradução e os artistas cujo trabalho cobríamos. Foi uma etapa incrível da vida, de muito aprimoramento pessoal e profissional. O mais extraordinário dessa fase foi o convite para escrever, em parceria com meu sócio e esposo, Ricardo Pessanha, as biografias de Caetano Veloso (2008) e Gilberto Gil (2013) para a coleção Voix du Monde (Vozes do Mundo) da editora francesa Demi Lune. Atualmente, a música continua muito próxima do meu trabalho. Dois dos livros de outros autores que publiquei pela minha editora nos últimos meses, "Mborai, a música guarani", organizado pela cantora e musicista Ju Cassou e "e o piano", do pianista Leo de Freitas são livros musicais.


CRIATIVOS -   Sua trajetória comprovou a importância dos testes vocacionais. Depois de muitas voltas, você hoje vive em meio às letras. Embora jovem, você se sente uma pessoa realizada?  

CARLA CINTIA - Já sou jovem há bastante tempo. (risos) E, sim, como diz o título daquele filme do Roberto Berliner, a pessoa é para o que nasce. (risos). Não posso dizer que sou realizada porque manter-se faminta é fundamental. Ainda quero fazer, viver, experimentar e escrever muitas coisas. Mas posso afirmar que sou feliz, estou satisfeita com o tipo de trabalho que realizo e pretendo ainda realizar. Escrever e publicar meus próprios livros e ser o canal também para o lançamento do trabalho de outras autorias me dá o sentido de propósito e a certeza de um legado sendo construído.


CRIATIVOS -   Essa aproximação com a Literatura, certamente veio lá de trás, da família e/ou de algum nome do meio. Você teve ou tem alguma referência no meio literário? E o que você gosta de ler?CARLA CINTIA - Gosto muito de ler, desde quando aprendi, aos três ou quatro anos. A casa dos meus pais sempre foi cheia de livros, enciclopédias, revistas, jornais. Em vez de brinquedos, que só chegavam em datas especiais, como Natal, aniversários ou dia das crianças, recebíamos livros e gibis como mimos no dia a dia. Li muito Monteiro Lobato, antes de entender a parte feia da sua escrita, Coleção Vagalume, Coleção Para Gostar de Ler, Agatha Christie e aguardava ansiosa pelas crônicas do Luís Fernando Veríssimo no Jornal do Brasil dos domingos. A escola me apresentou aos clássicos nacionais, entre eles Machado de Assis e Lima Barreto, que revisito ainda. Já a Cultura Inglesa me levou aos clássicos ingleses e estadunidenses, tais como "The Great Gastsby", "1984" e "The lord of the flies".Hoje em dia, leio um pouco de tudo, mas me concentro em literatura contemporânea, com autorias como Ana Maria Gonçalves, Conceição Evaristo, Eliana Alves Cruz, Itamar Vieira Júnior, Jefferson Tenório, Chimamanda e muitos outros igualmente notáveis ou ainda quase anônimos. Minha avó materna escrevia, mas só soube de seu caderno de poemas, guardado com minha mãe, quando já era adulta. Tirei uma cópia e guardei. Durante a pandemia, arrumando prateleiras e gavetas, encontrei esses escritos. Foi justamente quando eu estava no processo de convidar escritoras para publicar o segundo dos cinco volumes da coleção "Vozes Femininas", que idealizei, organizei e editei. Era o "Vozes Femininas Negras", onde só mulheres negras foram convidadas a participar. Entendi o recado do Universo e incluí alguns dos poemas de Octacília da Silva Barbosa nesse livro. É sempre muito emocionante quando abro este livro e leio as lições dela para a posteridade.


CRIATIVOS - Fale algo que seja de seu interesse e que faltou perguntar, e fale sobre da coletânea lançada na Bienal 2025.

CARLA CINTIA - Meu foco na escrita sempre foram as crônicas. Os contos e os poemas aconteciam, mas não faziam parte do meu exercício cotidiano. Nos últimos anos, entretanto, alguns movimentos literários tomaram força, como os clubes de leitura, festas e feiras literárias e os saraus e isso mudou um pouco. Foi participando de saraus que me dei conta de que meus poemas estavam espalhados por livros e coletâneas ou esquecidos em cadernos velhos e pastas do computador. Daí nasceu a vontade de publicar um livro só de poemas, o Carlíricas. Já frequentando e participando de feiras literárias e de ambientes literários online, fui conhecendo várias novas autorias e recebi alguns convites para participar de novas coletâneas. Na semana passada, por exemplo, participei do lançamento online de "Dias de sol são assim...", organizado pela Nágila Oliveira e pelo André Luiz S. Silva, pela editora África e Africanidades. Na Bienal, foi o lançamento da antologia, Vem pra cá! - Conexões, organizado por Lílian Maial e Rozzi Brasil, da Editora Conejo. Ele é resultado dos encontros gerados no sarau de mesmo nome, que acontece toda segunda terça-feira do mês na Lapa. Além de agradecer pela oportunidade da falar um pouco sobre o meu trabalho, também gostaria de convidar todos que nos leem para conhecerem e curtirem meu perfil no Instagram (@carla.conteiro).Aproveito ainda para avisar que os livros mencionados estão disponíveis na Amazon e nas melhores livrarias online.

Direitos Autorais: A Batalha Invisível dos Criadores

A maioria das pessoas sequer percebe que, ao consumir música, filmes ou séries, está acessando obras que envolvem dezenas de profissionais — compositores, intérpretes, técnicos, roteiristas, produtores. A desinformação sobre os direitos autorais faz com que boa parte dessa cadeia não seja remunerada de forma justa.

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