A desculpa por trás de um pedido de desculpas

“Um palavra dita é como uma flecha solta ao vento, quando ela atinge o alvo você pode até retirar a flecha, mas as marcas causadas por sua ponta afiada deixam marcas irreversíveis.”

Sinceramente não sei quem é o autor dessa frase, mas ela me veio imediatamente à cabeça depois das falas de um deputado do meu estado, vazadas em áudio onde ele fala de maneira sexista sobre mulheres ucranianas refugiadas em meio a uma catástrofe humanitária em que o país se vê atolado devido à invasão russa que aconteceu recentemente.

Minha vontade era escrever algo forte, que causasse impacto, mas isso já foi feito pelo jornalista paulista Jamil Chade, procurem na internet por “Jamil Chade carta”, é uma leitura extremamente necessária e pode ser facilmente encontrada nos principais portais de notícia.

Eu poderia até colocar aqui o título, mas me nego a citar o nome do nobre parlamentar em questão em meu texto.

Impressionante como às vezes temos a impressão de que o mundo deu errado, que não tem mais solução, e enquanto pessoas brigam e matam por coisas completamente irrelevantes, mulheres e crianças morrem ou são violentadas todos os dias em troca de biscoito, e o que é pior, muitas vezes por pessoas que deveriam ser responsáveis por protegê-las e por buscar promover condições onde elas possam viver em paz.

Não sei como classificar as falas do nobre deputado, na verdade nem sei se quero fazer isso, tenho medo de que qualquer coisa que eu escrever agora, no calor da emoção após a leitura da carta do estimado jornalista, eu simplesmente perca o pouquinho da fé e da esperança que ainda tenho na humanidade.

Viagem humanitária... Será que foi com dinheiro público?

Aliás, ao que parece tratava-se de uma viagem para distribuir mantimentos e angariar fundos para entidades de ajuda humanitária na guerra, pelo menos é o que aparece em declarações na internet, o que vai totalmente contra a uma publicação em meio a um monte de garrafas falando em fazer coquetel molotov, mamãe deve estar orgulhosa de você agora.

O próximo ato dessa completa demonstração de problema ou falta de caráter a gente já sabe, “desculpas”, mas aquelas que se tornaram a tônica da atual situação de nosso país, apenas caso alguém tenha se sentido ofendido afinal de contas vivemos a era da liberdade de expressão não é mesmo?

Colocar a culpa da besteira falada na idade, na verdade na pouca idade convenhamos, mas como posso explicar meu ponto de vista sem ser direto como eu gostaria?

Vamos colocar dessa forma, se você tem idade para ocupar um cargo público na maior federação do país, por favor, não me venha com desculpas de que tudo aconteceu no calor do momento e por causa de sua pouca idade, é preciso ser um pouco mais homem do que isso nessa hora retirar a pré-candidatura é o mínimo.

Que bom que o áudio foi mandado no grupo de futebol, conversinha despretensiosa entre amigos, dessa forma seus eleitores provavelmente entenderão que esse “deslize”, e olha que estou me contendo aqui para achar adjetivos menos gritantes para outras palavras que eu gostaria de escrever, pode ser relativizado.

Demonstramos quem realmente somos no privado, não no público.

Sabe o que é mais triste?

É que aqui em São Paulo, cidade onde o nobre parlamentar almejava concorrer ao cargo de governador, é possível encontrar mulheres e crianças que passam pelos mesmos problemas de vulnerabilidade social e que sofrem diariamente com pensamentos nojentos como o dele, que tem suas infâncias interrompidas, mas tudo bem, nada que um vídeo e um bom pedido de desculpas não resolvam.

Não, estamos fartos de tantas declarações desse tipo todos os dias, o problema é que quando você pensa que o arsenal de idiotices vomitadas se aproxima do fim, alguém vem e supera todas as expectativas, parece que no fundo do poço sempre tem um alçapão que nos leva cada vez mais para baixo.

Nunca subestime a capacidade e do direito das pessoas de serem idiotas, por outro lado exerça o seu direito de ser crítico e de não acreditar nesse bando de sanguessugas que mentem todos os dias em horário nobre.

Bom meus caros, só nos resta sentar e esperar pela próxima declaração estapafúrdia desferida ao vivo ou em áudio por alguém chamado de “vossa excelência”.

E aí?

Vamos aplaudir? Vamos repudiar? Vamos simplesmente deixar pra lá porque será somente mais uma bobagem dita a ser atribuída a idade? A pouca idade?

Vamos rir? Vamos chorar? Vamos orar?

Como disse uma vez um comediante em um stand-up que vi, Cristo prometeu que voltaria quando as coisas chegassem a um ponto insustentável, me perdoe à blasfêmia Senhor, mas acho que está mais do que na hora de cumprir sua promessa.

Paulo Eduardo Ribeiro, do Canal Ponte Aérea, para CRIATIVOS!

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