Lais Amaral Jr.
25 de jan de 2023
Saímos no sentido da cidade do Rio de Janeiro no final da tarde. Seriam uns 150 quilômetros mais menos até nosso destino. Fernando ao volante. No carona e dando uma de copiloto, a Cris, sua esposa. Atrás, eu e Mariza. A apreensão maior de todos, era com relação à chuva, já que nesse estranho verão, chove todos os dias e a Serra das Araras sofreu deslizamentos recentes, no que deu em horas de trânsito parado ou lento. Jamais passou por nossas cabeças, chegar com o show começado. Não queríamos perder um segundo sequer. Por isso saímos com folga, a pista estava tranquila, como parece comum num sábado, e até a chuva foi bem cordata. Apareceu poucas vezes.
Minha cabeça já estava ligada no espetáculo. É um privilégio poder ir a um show do Chico. E conhecer ao vivo essa Mônica Salmaso maravilhosa. Por conta dessa expectativa, minha mente vadia vagava por imagens fantasiosas, típico dos meus delírios nesses momentos. A cena do meu filminho particular, influenciada por Chico Buarque tinha desse implausível diálogo com meu suposto cavalo.
- Cuide da casa, meu amigo. Vou chegar de madrugada.
E o animal aquiescera, como de costume, como se eu fosse lá um John Wayne de chapéu e esporas:
- OK, my friend.
Mas junto das dispersões geradas pelo espetáculo, pairava no lado mental consciente apreensões bem terra a terra. O que me empurrava pra fora do mundo da fantasia. Lera horas antes, reflexões ameaçadoras vindas de lados opostos do mundo. Vindas de extremos, ciência e religião, apontando para um epílogo comum. O chefe da Igreja Ortodoxa Russa alertou que a tentativa de destruir a Rússia pode significar o desastre para o mundo inteiro. “A Rússia tem armas poderosíssimas”. Ele afirmou que o conflito que interessa ao Ocidente, usando a Ucrânia como instrumento, está colocando não só o seu país, mas também a comunidade internacional sob “ameaças muito grandes”. Ah! Mas é um líder religioso falando o que querem ouvir seus seguidores, diriam. Mas, e se fosse um ateu, um prestigiado pensador de base científica que falasse algo parecido?
O mundo está à beira do abismo devido ao aumento do risco de guerra nuclear, falha em enfrentar os desafios ambientais e diminuição da capacidade de enfrentar os problemas racionalmente”. Quem disse isso foi o filósofo e linguista norte-americano de renome mundial Noam Chomsky. Ele lembrou que nos últimos anos o ‘Relógio do Juízo Final’, que reflete o quão perto estamos do Armagedom, se aproximou da meia-noite, o que simboliza a extinção da nossa espécie. Guerra nuclear e destruição do clima são as mais graves ameaças da humanidade nos dias atuais. Caramba! Nem se fala mais em outros riscos como a queda de um asteroide ou a expansão do sertanejo universitário!
Voltei à Terra quando Fernando anunciou a parada para um café. E me liguei que estava a poucas horas de presenciar uma das mais fantásticas manifestações da natureza, que é a interpretação via arte, que o ser humano tem do mundo e da vida de uma forma geral. Como é que tem gente que não esquenta com a possibilidade de não vermos ou ouvirmos mais Chico e Mônica Salmaso acompanhados desses fantásticos cavaleiros da música como João Rebouças, Bia Paes Leme, Chico Batera, Jorge Helder, Marcelo Bernardes, Jurim Moreira e Luiz Claudio Ramos? Tranquei as apreensões num porão distante, tomei o café e feliz seguimos pro show. Lá, ao meu lado alguém comentou que são apenas trinta músicas. E completa que “pra ouvir o Chico completo o show deveria durar uma semana”.
O espetáculo é aberto pela estupenda convidada de Chico. Mônica Salmaso, não só tem uma voz maravilhosa, assim como ela também é maravilhosa no palco. Uma presença de encantar. E vem o Chico, e os duetos vão nos desmoronando. ‘Sem Fantasia’ e só pra me chatear, eu que ando na sua busca incessante. E as emoções vem em ondas seguidas. Os aplausos explodem, as pessoas se mexem, requebram devagar. Chico homenageia Tom, Vinícius, Dorival Caymmi e para a irmã Miúcha, canta ‘Maninha’. A música nos vaza e contamina. Depois de olhos molhados e arrepios, o fim. E o ‘mais um’. E eles, pra quebrar de vez minha resistência cantam ‘A Noite dos Mascarados’. Imaginem, eu que sou louco por carnaval. E pra jogar a pá de cal, o mestre do sopro, Marcelo Bernardes com sua flauta mágica sola a introdução de João e Maria. A pressão nascida sabe-se lá se no coração ou nas memórias engavetadas, chegam ao gogó. Essa letra mostra um tempo de nossas vidas em que a fantasia era a realidade. A plateia canta junto. Lindo. Se os donos do mundo assistissem esse show, a humanidade não correria mais riscos.
“Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava um rock para as matinês
Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser” (João e Maria/Sivuca-Chico Buarque)
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