top of page
criativos 2022.png

ZECA & BIA

Foto do escritor: por Cedro Rosapor Cedro Rosa



O Zeca era mau como um pica-pau. Não há, aliás, evidências de que os pica-paus sejam maus. Walter Lantz (1899-1994), grande desenhista americano, foi o responsável pela má fama dos bichinhos, ao criar aquele famoso encrenqueiro dos desenhos animados, de topete vermelho e corpo azul.


O fato é que, ao menos como aquele passarinho, o Zeca era mau. Desde moleque era o líder da pequena gangue que percorria o morro fazendo coisa errada. 


Num ambiente de escassez absoluta de bens, direitos e Estado, o conceito de coisa errada é menos rígido que na cidade formal. Verdade que à flexibilidade dos conceitos, deve se somar a forte dose de moralismo geralmente introduzida pelo apelo religioso, ainda que, em muitos casos, contaminado por uma forte dose de adaptação às condições locais. Talvez fosse mais dificil pro Weber escrever   “A Ética Protestante e o Espíritodo Capitalismo” naquelas condições objetivas. Ou talvez fosse mais fácil, dados os caminhos que o capitalismo preferiu, nos quais o conceito de “coisa errada” também se tornou fluido. Mesmo que, por vezes, opte por se mostrar moralista. Enfim, digressões. 


O Zeca, líder dos que preferiram os caminhos tortos do submundo, que paradoxalmente adora falar em “papo reto”, tornou-se, sem muita dificuldade, o líder adulto da facção que dominava o morro, numa versão local do Zé Pequeno da Cidade de Deus. Tinha a seu favor, no entanto, apesar do acúmulo de BO’s e dos vários mandados de prisão circulando, o fato de jamais ter cometido um homicídio. Não gostava particularmente de armas. Era o mandatário absoluto das ações do tráfico local, não gostava de roubos e furtos, apesar de já os ter cometido quando garoto, e tinha, entre seus homens, vários assassinos, com os quais contava para sua proteção, mas jamais apertara um gatilhocontra outra pessoa e pretendia continuar assim. Os demais tinham nele um líder nato e cujas ideias sempre garantiram a segurança e o bem estar de todos. Até a polícia tinha certo respeito por ele, que nunca se deixou pegar e sobre quem se contava as histórias mais impressionantes. Nem mesmo os informantes da polícia, que mantinha vários espalhados pelo morro, traziam informações verdadeiramente decisivas sobre o chefão. Conhecidíssimo e respeitado no morro, conseguia se manter invisível pra quem cobiçava aprisioná-lo. Pica-pau não é passarinho de gaiola, afinal.


O ponto fraco do Zeca, ninguém sabia, era a Bianca.


Ainda bem cedo, pelos 8 ou 9 anos, não lembrava ao certo, foi dela que ouviu que matar era errado. Ela também era criança, mas influenciada pela família evangélica, tinha incorporado uma ética mais verdadeiramente cristã, intolerante com desvios morais, mas disposta ao perdão, sem a lógica da vingança e do extermínio dos adversários largamente difundida pelo evangelismo de ocasião atualmente majoritário.


Também acreditava na cooperação e na solidariedade, sem a preocupação primordial da fortuna material, mas da melhoria conjunta da qualidade de vida para todos. As coisas que a Bianquinha falava entravam fundo na cabeça do Zeca, mas ele tinha claro pra si que nada mudaria o seu destino de ser chefe do morro. Tinha nascido pra isso. Mas adorava ouvir a Bianca. E nunca permitiu que nenhum de seus meninos – agora homens – sequer se aproximasse da menina com qualquer malícia. Difícil conter subjetividades assim mas, milagrosamente, tudo correu sempre bem.


A Bianca estudou, tornou-se enfermeira, trabalha num hospital não distante do morro, de onde saiu pra viver no asfalto. Mas manteve os vínculos, tá sempre por lá visitando amigos e parentes. 

Numa das idas encontrou, disfarçado, metido num boné estiloso e vestido como um atleta da NBA, o Zeca. Ela tinha passado longos anos sem vê-lo. Tinham agora 23 anos cada um e desde os dez ela não via o menino levado com quem conversava amenidadessobre a vida.


Sabia que ele tinha tomado o rumo mais complicado, sabia que ele vivia nas sombras, sabia até que ele não cometia homicídios. Mas sabia também que ele era mau e que não se furtava a se cercar dos piores homens, a quem delegava as ações malvadas que imaginava contra os inimigos. Só não sabia que era, ela mesma, o ponto de fraqueza do Zeca.


A polícia sabia muito sobre o Zeca, mas jamais havia conseguido uma imagem dele. Era quase uma lenda. Um bandido perigoso, inteligente e escorregadio, que controlava o tráfico com base na lealdade canina de seus seguidores e sem sujar as próprias mãos.


O encontro aconteceu, aparentemente, por acaso. A Bianca subia a via principal da favela no trecho em que ela se estreita e impede a passagem de carros e a chegada da polícia. No meio de uma tarde de domingo, o negro alto aparece, saindo de um bar. O Zeca do tempo que ela se lembrava era baixinho e rechonchudo, mas o rosto veio claro em sua mente. Ele também, ao bater o olho nela, lembrou a paixão de criança. Os olhares se cruzaram e lágrimas brotaram dos quatro olhos envolvidos na cena. 


Tudo foi bem rápido. Olhares longos e emocionados, palavras poucas, beijos tímidos nos rostos e um abraço longo e fraterno, mas algo romântico. Saíram, cada um pra um lado, sem olhar pra trás, guardando pra si o calor daquele reencontro tão desejado quanto surpreendente.

Talvez houvesse muito o que conversar, mas não era hora nem lugar. 


Talvez o tempo tenha sido bom pra eles. Talvez não. 


A expectativa de vida da Bianca era maior, vivia na cidade formal. Tinha se afastado da igreja, que se tornou, a seus olhos (e a muitos outros), repetidora da chamada “teologia da prosperidade “, baseada numa meritocracia que não existe e que nunca vai existir enquanto persistir o grau de desigualdade que grassa em nossa sociedade. 


No caso do Zeca, a morte o rondava sempre. Não tinha, até ali, sofrido nenhuma grande traição ou emboscada, protegido que era por seus liderados, mas sabia que podia não ir longe. Até se arriscava fora do morro, confiando no fato, até então real, de que não tinham imagens suas em arquivo. Mas a iminência do fim era renitente. O morro o conhecia e não podia confiar cegamente em todos. Precisava continuar trocando de lugar, tendo homens de confiança absoluta e tendo ideias originais e mirabolantes para manter seu grupo unido e leal. 


Não precisaram dizer muitas palavras. Havia uma admiração mútua. Bianca não admirava a maldade do Zeca, mas sua resiliência, sua inteligência que talvez pudesse tê-lo levado a vôos menos arriscados e mais socialmente convenientes. Zeca admirava a lealdade de Bianca a seu passado. A favela era perigosa e insalubre, mas ela estava sempre lá e ele sabia, porque sabia de tudo o que se passava em seu território. Forjaraaquele encontro depois de tanto tempo pra saber se ela se lembrava dele. Viu que sim. Se sentiu importante, querido.


Também não acreditava em individualismo e meritocracia. Via o dia a dia da favela e sabia que aquela gente tinha muitas dificuldades pra alcançar postos iguais aos da gente bem nascida em outros locais ou sob outras condições. Mas precisava se defender e esse era o seu objetivo principal, além de manter a coesão do grupo.


Sabia do hospital em que a Bia trabalhava. Talvez um dia, quem sabe, pudesse esperar por ela na saída e finalmente ter aquela conversa que não pôde acontecer na favela. Ou talvez aquela conversa nunca acontecesse mesmo.


Sabia que a Bia continuava solteira. Talvez nem gostasse de homens. Talvez tenha sido maltratada por algum... Se isso tivesse ocorrido e ele  o pegasse, talvez rompesse com a promessa de não matar ninguém!!


Melhor não pensar nisso. 


Bia, por sua vez, guardara pra si a lembrança do encontro. Tão bonito e tão mau, o Zeca..., pensava. Quem sabe um dia a gente consiga sentar e conversar...


A vida é feita de encontros e desencontros. O Zeca, pela Bia, avalia sair da vida errada. Mas não sabe se ela teria interesse nele. E seu objetivo é  vê-la feliz. Talvez não seja ele a felicidade dela. A Bia, pressionada pelo valor dos aluguéis, chega a cogitar voltar pra favela. Se o Zeca deixasse aquela vida...


As vidas, enquanto isso, continuam.

 

Rio de Janeiro, outubro de 2024.

 

 

Cedro Rosa Digital leva a cultura e a inovação brasileira à GITEX 2024 com apoio da APEX-Brasil



A Cedro Rosa Digital, referência global na certificação de músicas e gestão de direitos autorais, estará presente na GITEX 2024, uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, em Dubai. Com o apoio da APEX-Brasil, a empresa levará ao evento uma proposta inovadora que une tecnologia de ponta, cultura brasileira e música certificada, com foco em trilhas sonoras para diversos setores, incluindo publicidade, cinema, jogos e mídia.




A Conexão entre Música, Tecnologia e Blockchain

A participação da Cedro Rosa Digital na GITEX 2024 destaca o uso de soluções tecnológicas, como blockchain e inteligência artificial (IA), para a certificação e distribuição de músicas. A empresa desenvolve o sistema CERTIFICA SOM, uma plataforma que garante a correta identificação de obras musicais, incluindo compositores, intérpretes e todos os profissionais envolvidos na produção. Esse sistema é parte de um esforço contínuo para oferecer maior segurança e transparência no pagamento de royalties, beneficiando criadores em escala global.

A UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), uma das instituições líderes em inovação tecnológica no Brasil, está colaborando com a Cedro Rosa no desenvolvimento de ferramentas baseadas em IA e blockchain para otimizar o processo de certificação e distribuição musical. A expertise da UFCG em pesquisa e desenvolvimento é um dos pilares fundamentais para o avanço da plataforma.


Parcerias Estratégicas: EMBRAPII e SEBRAE

Outro ponto-chave no crescimento da Cedro Rosa é a parceria com a EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), que apoia projetos de inovação tecnológica no Brasil. Por meio dessa colaboração, a Cedro Rosa vem desenvolvendo soluções que integram a certificação musical à economia criativa global. A SEBRAE também desempenha um papel essencial no suporte às micro e pequenas empresas brasileiras, facilitando a internacionalização de suas operações e a participação em feiras de grande porte como a GITEX.


A Música Brasileira Ganhando Espaço Global

A Cedro Rosa levará à GITEX uma amostra do vasto e diverso repertório musical brasileiro. Com a certificação de músicas de cinco continentes, a plataforma permite que criadores independentes tenham suas obras licenciadas para trilhas sonoras em produções audiovisuais, de filmes a campanhas publicitárias, elevando a música brasileira a novos patamares de alcance e influência cultural.

Os profissionais e empresas presentes na GITEX terão acesso a playlists exclusivas de músicas brasileiras, com possibilidade de uso em trilhas sonoras certificadas pela plataforma da Cedro Rosa. Essa iniciativa promove não apenas a exportação da cultura brasileira, mas também a inserção de nossos artistas em projetos internacionais, gerando renda e novas oportunidades de negócios.


Oportunidades na GITEX 2024

A presença na GITEX 2024 representa um marco importante para a Cedro Rosa, que consolida seu papel como ponte entre a economia criativa brasileira e o mercado global de tecnologia e entretenimento. O apoio da APEX-Brasil fortalece a participação da empresa em eventos internacionais e abre portas para novas parcerias, especialmente no setor audiovisual, que tem se beneficiado amplamente de trilhas sonoras certificadas e licenciadas com o uso de tecnologia de ponta.

Para saber mais sobre a participação da Cedro Rosa na GITEX e explorar o repertório de músicas certificadas, visite Cedro Rosa Música Online.

Links Relacionados:

A GITEX 2024 promete ser uma vitrine global para a inovação brasileira em música, cultura e tecnologia, fortalecendo o papel da Cedro Rosa Digital como protagonista da certificação musical e da economia criativa.

0 comentário

Yorumlar


+ Confira também

Destaques

Essa Semana

bottom of page