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Foto do escritorVictor Loureiro

VIGÍLIA DE OLHOS FECHADOS (relendo O som e o Sentido – uma outra história das músicas, de José Miguel Wisnick).




           “O jogo entre som e ruído constitui a música.” Por isso, de quinze em quinze dias pego meu pandeiro, minha mini conga, e parto rumo a Copacabana, onde eu e outros quatro músicos nos encontramos para dobrar o ar com as ondas sonoras que fazemos partir de nossos instrumentos. Primeiro, nos acolhemos com nossos olhares musicais, preparando a cama onde deitaremos ruídos e sons, porque “Cantar em conjunto, achar intervalos musicais que falem como linguagem, afinar as vozes significa entrar em acordo profundo sobre a intimidade da matéria...”, ou seja, criaremos estabilidades e instabilidades no tecido invisível da melodia, entre céus e infernos, entre suspiros e silêncios flutuaremos sob a luz da tarde.


           Lembro que a primeira vez que ouvi Michel, dos Beatles, estava sentado à janela da sala olhando a chuva cair sobre o chão do quintal. A mistura daqueles sons parece ter tocado tão profundamente aquele menino de oito anos de idade, que ainda provoca sentimentos nesse senhor que, sempre que ouve essa bela canção, reinicia seus programas e aplicativos no cérebro e no coração, provocando uma grande saudade atemporal. O tempo, nesse caso, não existe. A música é tempo sem tempo.