VIDAS
As três primas, coincidentes na idade como resultado de uma programação bem feita pelas mães, também primas e criadas sob rigoroso esquema familiar cultivado por gerações, aniversariavam próximo.
O mês de dezembro já cheio de comemorações e datas especiais, era também o mês delas. Entre o dia 15 e o dia 30, as festas se sucediam- e se complementavam - desde o nascimento das meninas.
As mães, esforçadas donas de casa por força das circunstâncias, ao contrário da tradição familiar, tiveram apenas uma filha cada, o que as diferenciava e afastava dos demais da mesma geração da família, em geral progenitores e progenitoras de proles numerosas. Eram discriminadas por sua aparente baixa fertilidade ou tidas como mães preguiçosas pelo restante da família tradicional, preocupada em deixar descendentes aos montes, como num projeto de colonização do mundo em torno de si.
As primas, hoje mulheres muito diferentes entre si e de toda a família, foram mais longe que suas mães na construção de um projeto próprio de vida, sem que precisassem levarem consideração as amarras da moral conservadora que sempre norteou a vida de suas antepassadas.
Naná, mais velha das três, nascida aos 15 de dezembro de 1950, muito cedo mostrou pendor para as artes plásticas. Não perdia a chance de desenhar, pintar, esculpir. As manifestações eram consideradas “bonitinhas” pela mãe e pelas duas tias mais chegadas, mas execradas pelo resto do clã.
Linda, a segunda, nascida aos 23 do mesmo mês, desde novinha fazia jus ao nome, mas era a menos vaidosa e menos artista. Gostava de esportes e não tinha paciência sequer para pentear os cabelos naturalmente cacheados.
Gostava das roupas dos meninos, muito mais confortáveis, e das brincadeiras deles, que exigiam mais força física. Com a sensibilidade e a capacidade de análise típica das mulheres, muitas vezes se saía melhor que os meninos naquilo em que eles aparentemente reinariam sem dificuldade. Era, obviamente, reprimida pela família tosca, mas estimulada pela mãe e suas primas.
Laila, a terceira, chegou no dia 30, quase ano novo. Era das artes cênicas. Queria sempre representar, falar, cantar, dançar. E o fazia com propriedade desde a infância, quando ainda nem tinha acumulado bagagem intelectual ou experiências que a subsidiassem em seus propósitos artísticos. Uma capacidade inata de representar, um talento surpreendente. Nem é preciso repetir que isso contrariava os princípios familiares e só agradava mesmo a quem era mais próximo.
Por algum tipo de conjunção astral favorável, os pais delas, cujos namoros com as mães tiveram início quase simultaneamente nas proximidades de uma tradicional escola secundária, num tempo em que meninos e meninas se encontravam principalmente no caminho da escola e pouco no interior delas, já que grande parte delas se dedicava a educar somente meninos ou somente meninas, enfim, por alguma boa coincidência da vida, os pais eram de famílias de costumes liberais, menos presos às tradições. A vida fez o resto.
O grupo se manteve apartado dos incômodos da família careta, unido até que as meninas se tornaram adultas e, juntas por afinidade, mas separadas por interesses, resolveram trilhar seus próprios caminhos.
A Naná, artista plástica, fez carreira e aposentou-se no Banco do Brasil, após cursar economia numa grande universidade.
A Linda trabalhou a vida toda como produtora de grandes eventos, manteve a rotina de exercícios, mas não fez disso profissão. Hoje mora com sua melhor amiga e companheira num sítio em Visconde de Mauá, na Serra da Mantiqueira.
A Laila aposentou-se como CEO de uma grande rede de varejo. Usou suas habilidades cênicas para vender produtos.
Com a proximidade do Natal e dos aniversários, começam os preparativos para o encontro anual das primas. Solteiras, sem filhos e com uma vida de histórias compartilhadas, não têm sequer notícias dos parentes que as estranharam desde o início.
Tomam um porre anual de bons vinhos, dão muitas risadas e celebram as vidas que tiveram e ainda têm, sem lamentar o que não chegou a acontecer.
A vida não é linear.
Rio de Janeiro, dezembro de 2024.
PS.: Elas não existem, mas poderiam existir. Inícios surpreendentes podem ter finais simples.
Boas festas!!
Como o sucesso de "Ainda Estou Aqui" pode impulsionar o conteúdo nacional
e a economia criativa
O filme "Ainda Estou Aqui", que ultrapassou a marca de 2,5 milhões de espectadores no Brasil — equivalente a mais de 1% da população — é um marco significativo para o cinema nacional. Este número impressiona ainda mais considerando os desafios do mercado cinematográfico no país, marcado pela escassez de salas de cinema e pelo alto custo dos ingressos, que muitas vezes limitam o acesso. O sucesso de produções como esta não só evidencia o apetite do público por histórias autênticas e de qualidade, como também abre espaço para reflexões sobre o impacto na valorização de conteúdos culturais e no fortalecimento da economia criativa.
Cinema, música e economia criativa
Filmes de grande alcance, como "Ainda Estou Aqui", têm o poder de atuar como catalisadores para outras áreas da cultura, especialmente a música. A trilha sonora de uma produção cinematográfica pode alavancar o trabalho de compositores e intérpretes, conectando-os a novos públicos e mercados. Além disso, histórias bem contadas estimulam o surgimento de mais produções nacionais, gerando emprego e renda para diretores, roteiristas, técnicos, músicos e uma ampla rede de profissionais.
No cenário mais amplo, este ciclo virtuoso também ajuda a consolidar o Brasil como um player global de soft power, destacando-se por sua diversidade cultural. Quando um filme nacional rompe barreiras de público e arrecadação, ele reforça o potencial de outros setores criativos, como design, moda e artes visuais, que se alimentam das narrativas culturais locais.
O papel da Cedro Rosa Digital
Nesse contexto, a Cedro Rosa Digital emerge como um ator essencial na integração entre o audiovisual e a música. Fundada por Antonio Galante, a empresa não apenas certifica e distribui obras e gravações musicais globalmente, mas também tem investido na produção de conteúdos audiovisuais que exaltam a música brasileira.
Entre os projetos em andamento estão a minissérie "História da Música Brasileira na Era das Gravações" e o documentário "+40 Anos do Clube do Samba", uma coprodução com a TV Cultura de São Paulo. Essas iniciativas não só celebram o legado musical brasileiro, mas também criam oportunidades para novos artistas e técnicos, conectando-os a um mercado global em constante expansão.
Além disso, a Cedro Rosa está desenvolvendo o sistema CERTIFICA SOM, uma ferramenta baseada em blockchain que garante dados precisos sobre músicas, compositores e intérpretes, permitindo que todos os envolvidos sejam creditados e recebam os direitos autorais de forma justa. Este sistema conta com parcerias estratégicas, como a UFCG, EMBRAPII e SEBRAE, além do apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Um futuro de integração cultural
O impacto de iniciativas como "Ainda Estou Aqui" vai muito além das bilheterias. Elas abrem portas para que o conteúdo nacional de qualidade — no cinema, na música e em outras atividades criativas — ganhe força e relevância, tanto no mercado interno quanto internacional. Com projetos inovadores e compromisso com a diversidade cultural, a Cedro Rosa Digital demonstra que é possível unir tecnologia, cultura e economia para criar um ciclo sustentável de valorização e exportação do talento brasileiro.
Esse é o caminho para que histórias genuinamente nacionais continuem sendo contadas, ouvidas e aplaudidas, tanto dentro quanto fora do Brasil.
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