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UNIVERSITÁRIA

Foto do escritor: Léo VianaLéo Viana

O desembarque na rodoviária correu sem transtornos. Pouca bagagem e uma imensa vontade de aproveitar os ares – poluídos, é fato – da cidade grande. Sair do interior, em qualquer parte do mundo, pode revelar muitas surpresas. Verdade que no mundo pós-virtual, quase tudo já se sabe, ou ao menos se imagina com fortes doses de realidade, antes de se conhecer. Mas a experiência real ainda não foi superada pelas virtualidades. E isso se aplica de maneira visceral quando se trata do Rio de Janeiro.


A Cidade Maravilhosa sofrera como poucas o desgaste do tempo. Governos catastróficos, intervenções equivocadas, intempéries, desleixo e agressividade da própria população, esvaziamento econômico, violência urbana e mais uma meia dúzia de pragas deixaram um rastro de destruição que talvez necessitasse de uns dois Planos Marshall.


Aos poucos, mesmo a classe média, que se segurava como podia e mantinha um certo apego à tradição e aos costumes da corte, foi perdendo as esperanças de melhora e se apegando ao Galeão como saída. Levas e levas juntaram as moedas pra tentar a sorte em Portugal ou nos estados ensolarados do Nordeste, quando não na Manchester Paulistana ou em qualquer lugar onde se pudesse viver com um risco menor de ser atingido por um projetil sem endereço do destinatário, aqui familiarmente, quase amigavelmente, conhecido como bala perdida. Sem endereço do destinatário, porque o remetente em geral pertence a um dos três grupos interrelacionados e que enviam esse tipo de correspondência: milícia, bandidos e polícia.


Mas tergiversando assim acabamos perdendo o fio da meada. O desembarque foi tranquilo. “A ignorância é uma benção”, muita gente diz. E Lisete desceu na rodoviária com a aura radiante dos ignorantes felizes.

Nunca havia visto tanta gente junta de uma só vez, salvo pela televisão ou computador. Mocinha tranquila do interior, desde muito cedo se dedicara ao trabalho e aos estudos. Sonhava tornar-se dentista desde a primeira visita à Dra. Vanda, que atendia desde tempos imemoriais na cidadezinha da divisa de Minas Gerais, de onde ela vinha.


Aos 12 começou a trabalhar com o objetivo de sair de casa para cursar odontologia. E ajudando aqui e ali, em lojinhas e mercados, fazendo artesanato, explicando as matérias para os mais novos, como guia turística das belezas naturais de sua terrinha ou como quer que fosse, Lisete chegava aos 18 anos preparada e aprovada para entrar na universidade. Tinha, inicialmente, uma única chateação. Sonhara sempre com o Rio, mas estudaria em Niterói, na prestigiadíssima Universidade Federal Fluminense.


O tempo que antecedeu a sua vinda não foi fácil. Os pais, atemorizados pelo noticiário, juraram jamais pôr os pés na metrópole. E temiam profundamente pela mocinha. Sabiam da maturidade dela e talvez ainda mais da obstinação. Afinal, nem sempre uma estudante do interior consegue, sem contar com os grandes cursos preparatórios, o acesso a uma grande universidade metropolitana. Mas Lisete não era só uma estudante do interior. Era um fenômeno de capacidade, persistência e resiliência, alimentada a frango com quiabo, pão de queijo e goiabada cascão.


O assédio dos taxistas não foi a parte mais difícil. Tinha lido a respeito e saiu-se bem, inclusive abusando da linguagem não verbal, estudada nos links certos da internet. Não podia parecer frágil. A garota do interior não podia facilitar as coisas.

Minutos antes tinha se emocionado às lagrimas ao avistar o mar pela primeira vez. E, convenhamos, era um mar muito mais ou menos, avistado da Linha Vermelha. A Baia de Guanabara, sabemos todos, tinha se convertido, com o tempo e milhões de toneladas de esgotos e resíduos de toda natureza, num mundaréu de água suja. Lisete poderia mesmo comemorar o funcionamento do ar condicionado do ônibus, que não permitiu a inalação dos vapores que sobem do trecho entre a Ilha do Governador e o Caju. Mas a ignorância é uma benção.


Seguindo instruções obtidas num blog específico, andou até a estação do VLT, comprou um cartãozinho e embarcou rumo à Cinelândia. Mochila nas costas, óculos coloridos, jeans e camiseta, cabelo cacheado, podia ser uma estudante de Harvard, Oxford, Estácio ou qualquer outra. Era da UFF.

As segundas lágrimas rolaram, num misto de emoção e tomada de consciência, quando o VLT ainda cumpria seu pequeno percurso entre a rodoviária e o centro da cidade. A região portuária foi objeto de intervenções profundas que Lisete desconhecia, mas que a tornaram ainda mais impactante aos desconhecidos. Grandes edificações modernas, grandes vias de circulação, murais artísticos enormes, museus espalhados, aquário, roda gigante. O próprio VLT, contrastando com edificações antigas ainda resistentes. Tudo aquilo criava um mundo só antes visto com o filtro das telas, imaginado, mas agora ao alcance da mão, dos olhos de quem se acostumara a outra escala de convívio humano, mas que pretendia, almejava mesmo, chegar até onde a metrópole lhe pudesse levar.



Cruzar a avenida Rio Branco e ver de perto seus grandes edifícios só não foi mais emocionante que descer na Cinelândia em frente à Biblioteca Nacional e ao Theatro Municipal. Era como um sonho, acalentado desde sempre no interior. Também em blogs especializados aprendeu a não aparentar surpresa e nem fotografar tudo. A cidade é perigosa.

Sabia que poderia pegar o metrô com o mesmo bilhete e fez isso. Apenas uma estação até a pensão na Glória. Não via o mar, mas sabia que ele estava perto. Estudara a geografia da área. A algumas estações de Copacabana, de Ipanema, lugares míticos que certamente passariam a fazer parte da sua vida.


Simpática, a pensão. Um quartinho só pra ela, mercadinho e muita área verde bem pertinho, uns moradores de rua, mas nada que a assustasse. Aprendera a fingir maturidade diante do que a cidade apresentasse de estranho.

Tudo funcionava sem grandes imprevistos. Conheceu até a feira no domingo, ainda se preparando para o primeiro contato com a universidade onde deveria passar parte importante de sua vida a partir dali. Não sabia se sonhava em voltar pra sua terra e cuidar dos dentes da gente do interior ou se estaria aberta a ficar na metrópole que, aparentemente, a recebera tão bem. Essa era uma preocupação secundária ainda. Certo mesmo, só a necessidade de estudar muito e concluir a realização do sonho.

Segunda cedo, hora de ir conhecer a UFF. Sempre ancorada nos conselhos virtuais, metrô até a Cinelândia, VLT até a Sete de Setembro, conexão para a Praça XV. Descobriria bem depois que com um único ônibus iria da Glória às barcas em menos tempo. Tinha até ônibus direto pra UFF.


 

Playlist Essas Cantoras Maravilhosas / Spotify

 

Cumpriu o roteiro previamente determinado. Cartão carregado, dirigiu-se às roletas e entrou no grande saguão da estação da Barcas S/A. Em 10 minutos estava navegando pela primeira vez, rumo a Niterói. Jamais havia entrado em um barco. O conjunto dos eventos ali foi um pouco demais pra sua sensibilidade. A vista da entrada da Baía, com o Pão de Açúcar e a Fortaleza de Santa Cruz, o Aeroporto Santos Dumont, a Ilha Fiscal, os grandes navios, a Ponte Rio Niterói. Até um improvável grupo de botos navegou ao lado da barca.

Subiu ao convés e se atirou ao mar, num mergulho surpreendente para passageiros e tripulantes.

Frisson na embarcação.


Acordou naquela hora. Toda molhada. Xixi quentinho.

Faltava ainda um mês para a matrícula.

Talvez, no Rio, optasse por atravessar sempre de ônibus.


Anotou.


 

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1 comentário

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Muito bom! Não nega o DNA literário do amigo.

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