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Foto do escritorLais Amaral Jr.

Um temível pênis voador*



No dicionário, o termo desbocado geralmente é definido como “o que não tem freio, desenfreado”, geralmente usado para cavalos (sem freios). Em outra definição, “quem usa linguagem obscena”. Eu juntaria as duas definições, com restrições, para melhor qualificar minha mãe. Jamais a compararia a um equino, apesar de entendê-la como alguém que pouco ou nada se afeiçoava a freios. Por outro lado, acusá-la de usar linguagem obscena poderia equivocadamente caracterizá-la como alguém com práticas também obscenas, o que está longe de ser o caso.


Portando, como ela não se entende bem com freios e usa, com alguma frequência, termos chulos e/ou obscenos, fico no meio do caminho com o eufemístico e, infantil “boca-suja”. Até porque este termo intermediário sugere a presunção da transformação da pessoa. Equivale a dizer que, se um dia ela mudasse de comportamento, como se lavasse a boca, deixaria de ser boca-suja. Não seria, portanto, um traço definitivo de caráter, mas algo transitório.


Mas minha mãe, que se frise, não era apenas uma usuária dos chamados palavrões. E é aí que entra o seu diferencial. Era também dada a composições com termos conjugados e palavras compostas que em certos casos emprestavam leveza à expressão, transformada em algo lúdico e imaginoso. Mesmo aquelas que não eram criações próprias pareciam ter sua assinatura. Nutria predileção pelas expressões que sugeriam imagens impactantes, que mexiam com o imaginário. “Caralho-de-Asas” é um exemplo. Difícil não imaginar um animal voador, esquisito, claro, mas que não deixa de sugerir uma semelhança com o gracioso Pégaso, da mitologia.


A primeira vez que ouvi este termo fiquei intrigado, mas não perguntei nada. Como minha mãe parecia exasperada às voltas com uma tarefa de difícil resolução, que se não me falha a memória era abrir uma lata de goiabada, deduzi que a trolha voadora, na minha ainda incipiente compreensão, deveria significar alguma coisa, ruim para abrir uma lata. Um abridor defeituoso, por exemplo. “Ah! esse caralho-de-asas que não funciona...”. Bem mais tarde fui entender que nem asas, nem caralhos tinham uma relação muito íntima entre si, a não ser, claro, no imaginário das pessoas. Muito menos foram dotados de praticidade para abrir latas de doces.


Muito mais tarde, já adulto e como foca numa redação de jornal, ouvi uma expressão (não um palavrão) que me remeteu à infância, precisamente ao episódio do estranho Pégaso abridor de latas da minha mãe. Alguém chegou com a notícia:


- Olha aí pessoal, nos próximos dias deve rolar um passaralho! É bom ficar esperto.


Com certeza eram parentes. Distantes, mas parentes, pensei com meus botões. Eu ainda não conhecia aquela estranha ave, mas de cara me antipatizei com ela. Logo fiquei sabendo que no jargão dos jornalistas, passaralho significava demissões em massa nas redações.


Nas duas ocasiões escapei ileso. No caso de minha mãe, por não a interromper naquela tarefa hercúlea com indagações fora de hora. Livrei-me, certamente, de um daqueles foras homéricos, típicos de pessoas impacientes que não toleram perguntas erradas em horas erradas. Explicar o significado de caralho-de-asas àquela altura seria uma tarefa que poderia se comparar a um dos doze trabalhos de outro personagem mitológico. Já no caso do passaralho escapei porque era novato, ganhava pouco e ainda não tinha me envolvido com coisas de sindicato.


* Texto extraído de ‘Os Tomates do Padre Inácio – memórias domésticas do palavrão’ meu novo livro, homenagem a minha saudosa mãe, com quem aprendi os primeiros palavrões do meu repertório.


 

Música, Cultura, Economia Criativa




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