Sylvio Monteiro, um artista inquieto e engajado que marcou uma época em Nova Iguaçu

Nos últimos dias, um cidadão de Nova Iguaçu ganhou grande espaço na mídia. Não chegou a ser novidade isso acontecer no período carnavalesco. Mas esse ano houve mais holofotes sobre o senhor Luiz Antônio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes, que anunciara sua despedida dos desfiles na Marques de Sapucaí, ao completar 50 anos de Avenida. E saiu por cima, com a vitória da escola de Samba de Nilópolis. O ‘Neguinho da Vala’, dos tempos do bloco Leão de Iguaçu, tem seu nome inscrito no panteão do Carnaval do Rio e do Brasil. É Neguinho da Beija-Flor, primeiro e único.
Mas essa semana fui agradavelmente surpreendido com uma postagem de um sujeito por quem tenho uma profunda admiração que é o Tigu Guimarães. Na postagem, o anúncio de seu documentário sobre outro cidadão de Nova Iguaçu, com o qual eu convivi estreitamente: Sylvio Monteiro. Ator, entre outras coisas, que diferentemente do Neguinho da Beija-Flor, não se aposentou do palco, mas da vida, há alguns anos, e muito antes do combinado, diria o Mestre. O documentário Sylvio Monteiro – Alma inquieta será exibido nesta sexta-feira, dia 14, lá mesmo em Nova Iguaçu, num espaço batizado com seu nome, uma certeira homenagem.
Seque a precisa definição do Sylvio Monteiro na postagem do Tigu: “Sylvio monteiro foi um artista multifacetado que desafiou qualquer rótulo simplista. Um ser humano que se recusou a ser encaixotado em categorias predefinidas. Sua arte era um reflexo de sua alma inquieta, de sua busca incessante por expressar a complexidade da experiência humana. Sylvio Monteiro transitou por diversas formas de expressão artística com a mesma paixão e entrega. Foi cantor, com a voz carregada de emoção e de histórias para contar. Foi ator, com capacidade de dar vida a personagens complexos e cativantes. Foi escritor, com a sensibilidade de um poeta que enxergava a beleza nas coisas mais simples”.
Eu trabalhei por alguns anos na Rua Getúlio Vargas, bem perto de onde está o teatro com o nome do Sylvio. Era raro o dia que ele não aparecia para um papo ou um cafezinho ali perto. Torcedor apaixonado do América, por vezes (poucas) o tema da conversa era leve, futebol. Mas geralmente o tom era sempre sério e até dramático como da vez que chegou e indagou: “Sabe quem morreu?”, eu gelei, temendo por alguém da nossa turma. E ele continuou, sinceramente abalado: “Elis Regina”. Foi um alívio fugaz, logo atropelado pelo desmoronamento emocional também de minha parte. Nós amávamos a Elis.
Sylvio era assim, um sujeito à flor da pele, sempre, e de uma intensa sensibilidade artística. Aparecia também para mostrar algo que criara ou para comentar sobre algum evento que participaria. O viés político normalmente era o mote principal. Vivíamos os ‘Anos de Chumbo’, e na Baixada esse tempo demorou mais para acabar. Um dia ele chegou, com um poema lindo e forte, ‘Canhoneira’, inspirado no bispo de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga. Depois ele mesmo musicou e ficou demais. E como artista engajado, era fiel às suas convicções. Certa vez, participávamos de uma passeata contra o anunciado fechamento de um teatro na cidade e ele, explosivo e sincero, fez discursos e acabou detido pela polícia.
Mas também era capaz de atitudes rasgadamente boêmias como ao interpretar ‘Ronda’, com seu vozeirão, num bar, após a cerimônia de casamento de minha irmã. Uma das mais tocantes interpretações da canção de Paulo Vanzolini que presenciei. A última vez que estive com ele, já foi em Resende. Um dia ele apareceu para me visitar. Grande Sylvio Monteiro, saudades.
E agora vem o Tigu, esse guri (o conheci guri), também meio inquieto, e hoje um cidadão do mundo, já tendo inclusive morado em outros países, e, faz essa oportuna, legitima e justíssima homenagem ao nosso amigo Sylvio.
Coisas do senhor Tigu Guimarães, desde muito tempo ligado à Comunicação. É fotógrafo, cinegrafista e sei lá mais o quê, mas sempre, envolvido com projetos e ações que unem Cultura e comunidade. Valeu Tigu, abraço, amigo.
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