Sormani da Silva joga luz sobre uma parte muito importante da nossa cultura popular
Sormani da Silva é pesquisador, formando em História pela Universidade Federal Fluminense, fez mestrado em Relações Étnico Raciais pelo Cefet-RJ e Doutorado Memoria Social (Unirio). Atuou na rede pública e em Pré-vestibular comunitário, foi diretor sindical e atualmente é pesquisador Associado do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Uerj, onde atua na formulação de cursos e materiais didáticos visando a implementação da Lei 10.629-03. Sormani da Silva é autor do livro Escola de Samba Deixa Malhar: batuques e outras sociabilidades no tempo de Mano Eloy na Chácara do Vintém, seu trabalho de mestrado que recupera um momento importante da saga de sambistas históricos e da nossa Cultura.
CRIATIVOS - Como nasceu o seu interesse pela pesquisa?
SORMANI - Meu interesse pela pesquisa surgiu uma função da paixão pelas Escolas de Samba. Minha avó Celina da Silva foi baiana de várias Escolas de Samba. Viradouro, Mangueira, Em cima da hora. Ela desfilava como baiana e muitas vezes a gente ajudava no transporte, ou na gravação dos desfiles para que ele pudesse ver posteriormente o desfile. Tinha também os programas na Rádio Nacional do Arlênio Lívio e Rubens Confete que foi durante um bom período o espaço de divulgação dos sambistas e das coisas de carnaval. Como era um canal público havia espaço de crítica independente sobre os possíveis rumos da festa, e ao mesmo tempo de valorização do nosso samba e da cultura negra. Compositores como Candeia, Nei Lopes, Martinho da Vila, Leci Brandão, Beth Carvalho, Jovelina entre outros e outras, eu já tinha uma base que influencia os meus trabalhos antes de chegar à Universidade. É a história dos negros no Brasil. Trabalho e coerção após abolição na cidade do Rio de Janeiro foi o trabalho de graduação lembrando a luta do movimento negro com Lelia Gonzales, Beatriz Nascimento, Abdias do Nascimento, Joel Rufino dos Santos que se despontava com fim da ditadura militar, e se reflete nos dias de hoje.
CRIATIVOS - E a relação entre história e escolas de samba?
SORMANI - Pois é esse pioneirismo das escolas de samba com a narrativa da história vem de longe. Destaca-se sobretudo no período do Estado Novo com as propostas de enredos de caráter nacional. Todavia, como disse uma amiga pesquisadora, o problema é que os historiadores e as historiadoras chegaram um pouco tarde no tema ou não são bem-vistos. Jornalistas, artistas, antropólogos e outras áreas do saber é que geralmente dialogavam com as práticas culturais das escolas de samba. Existe aí um certo tom elitista nesse campo, que vem melhorando nos últimos, mas ainda com algumas reservas, o resultado disso talvez resida no próprio perfil dos jurados de escolas de samba pelo Brasil afora.
CRIATIVOS - E história da Escola de Samba Deixa Malhar?
SORMANI - Pois é, veja bem, esses temas se encadeiam. A história desse livro surgiu no encontro com o compositor Rubens da Vila – Rubens Batista Vianna, compositor de Arruda de Guiné, sucesso na voz de Bezerra da Silva, Saudades do Passado, na voz de Mano Décio da Viola e tantos outros. Foi Rubens que trouxe a baila o tema Deixa Malhar. Segundo Rubens, a escola foi fechada durante o Estado Novo. Assim, do trabalho do livro não foi apenas reforçar a sua narrativa sobre o acontecimento. Que já em si é fantástica pois foi descrita de forma humorada, dizia o que “passou, passou.” Mas contextualizar em relação a outros discursos que circulam dentro da proposta teórica de circularidade cultural. É um trabalho, desculpe a modéstia, de contra memória que desestabiliza a dimensão autoritária da brasileira derivada de nossa formação social, e lembrada por Muniz Sodré no seu livro mais recente Fascismo da Cor.
CRIATIVOS - Você consegue identificar as principais diferenças entre as agremiações do tempo da Deixa Malhar, com as de hoje?
SORMANI - Sim e muitas, naquele tempo o samba era muito perseguido. Eram coisas dos negros e malandros da Cidade Nova, do Cais do Porto, do Estácio. Os sambas de terreiro que pairavam sob as escolas de samba em formação tinham duas partes, uma fixa e outra em que os versadores atuavam no canto de improviso. As escolas de samba assim como os blocos tinham como base os grupo locais dos bairros e locais de encontro, e assim formavam suas identidades que alimentavam as disputas. Cartola fez isso em seus primeiros sambas para Mangueira: “Chega de demanda, chega.... somos da Estação Primeira... Salve o morro de Mangueira”. Noel Rosa respondeu a Wilson Batista com: “Salve Estácio, Portela e Mangueira Oswaldo Cruz “... era um outro momento do Rio. Todavia mesmo assim a cultura popular negra resistiu sabendo que para os debaixo no Brasil nunca existiu caminho fácil. Hoje tem coisas legais acontecendo como a valorização da cultura negra, as memórias africanas coisa que sempre farão a diferença pois são marcadores de nossa ancestralidade.
CRIATIVOS - Seu livro tem uma grande importância na recuperação de uma parte decisiva da história cultural do Rio de Janeiro (e do país). O livro está chegando ou você pretende que ele chegue nas escolas?
SORMANI - Como meu amigo você demonstra muito carinho com o livro. Meus amigos professores e pesquisadores de samba e carnaval também receberam bem o trabalho. Ele é fruto do meu mestrado em Relações Étnico Raciais vem dentro do projeto de implantação da lei 10639- 03 nas escolas, então faz parte de um processo de valorização da cultura brasileira e africana com destaque para trajetória de memória e a Mano Eloy, em que eu chamei de “O semeador de escolas de samba “tamanha a sua importância para formação do mundo samba. Com isso o trabalho se volta para memória e seus cruzamentos com a história e suas formas de silenciamento, sobretudo dos extratos sociais marginalizados. Na memória social temos o plano das memórias individuais, os relatos orais, músicas, discursos; enfim coisas que promovem uma dimensão coletiva do sujeito na sociedade. Natural de Engenheiro Passos em Resende, Mano Eloy foi mencionado por Carlos Cachaça de suas andanças no morro de Mangueira bem antes da existência da Escola de Samba, que Carlos Cachaça e Cartola fundaria ali pelo final da década de 1920. E até recentemente era memória do compositor Rubens da Vila que dizia simplesmente que “Mano Eloy era tudo”.
CRIATIVOS - Fale algo que você gostaria de falar e eu não perguntei.
SORMANI - Para concluir eu penso que trabalhos de pesquisas, sobretudo acadêmicos, devem dedicar a questões que a sociedade tem dificuldade da falar. No caso das escolas de samba eu problematizei o seu fechamento pela polícia em 1943. Era um verdadeiro tabu falar que elas foram alvo da truculência policial do Estado Novo, isso muito em função dos enquadramentos das memórias, e da ideia de identidade nacional que se forjou neste período. Mas como demonstrara Michel Pollack as memórias individuais que se encontram em condição subalternas continuam sendo transmitidas entre familiares e grupos de amigos. É isso, obrigado Caro Lais Amaral.
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