SONINHA
A Soninha nunca tinha pensado na morte. Ao menos não na dela própria. De família grande, acostumou-se a frequentar velórios, enterros, cremações e missas de sétimo dia.
Não era uma coisa distante. Lidava com naturalidade, mas nunca havia feito grandes reflexões.
As pessoas viviam e morriam. Isso parecia óbvio e corriqueiro. Nem mesmo aquela tristeza decorrente da falta, aquela ausência sem volta, nada disso a abalava particularmente. Nenhuma morte violenta próxima em seu círculo mais íntimo ou social.
A maioria absoluta decorrente das doenças da velhice (longeva, a família, não raramente passavam dos 100 anos...), e poucas de gente mais jovem, mas normalmente resultante de longos e dolorosos processos de doença, o que sempre prepara os espíritos pra um desfecho fatal. A verdade, mesmo, é que tinha naturalizado a morte, como aliás não tinha dúvida de que deveria ser a forma usual de lidar com essa certeza coletiva.
A vida sem a perspectiva da morte é muito mais tranquila, diriam mentes óbvias. A Soninha nem pensava assim. Ela simplesmente ignorava a morte como uma possibilidade.
Na violência urbana, que ela sabia que ceifava vidas por aí, teve experiências. Nada que ameaçasse a integridade física ou evocasse algum sentimento de medo efetivo. Perder a carteira numa bolsa semiaberta ou mesmo o celular na rapidíssima ação de um moleque em Copacabana dão alguma raiva, criam transtornos, mas não significaram, pra Soninha, um risco de vida.
Isso continuou sem jamais passar por seu cérebro pacífico. Viveu sempre bem assim. Não era algo planejado e intencional, não era o propósito de “deixar os maus pensamentos de lado”. Era simplesmente ignorar isso, jamais ter pensado, era involuntário, original e sem explicação racional. Além disso era individual e íntimo.
As pessoas não sabiam e talvez nunca percebessem que a Soninha não pensava na morte. Não havia razão pra se conversar sobre isso. Nem mesmo nas cerimônias fúnebres. Ninguém fica conversando sobre a fila pra estar no meio da roda num velório. Há tristeza, mas o tema não é recorrente. E a Soninha passou incólume por essa sensação.
Mesmo a pandemia, que dizimou multidões, foi dramática com a humanidade, um pouco mais com o Brasil por uma condição pontual que vivíamos, não assustou de perto a Soninha. Cumpriu as regras, ficou em casa, usou máscara, tomou vacina, passou álcool em gel em tudo, lamentou algumas mortes de famosos, mas não sofreu perdas pessoais.
O dia da descoberta chegou de mansinho, sem aviso, claro.
Manhã bonita, de céu aberto, mas sem muito calor. Aqueles céus incríveis de quando não tá tudo cinzento em junho. A noite tinha sido até fria, o que é estranho no Rio de Janeiro. Aquele dos 40 graus, purgatório da beleza e caos...
Cafezinho tomado, pãozinho na chapa, que ela preferia na padaria pelo ritual, mas fazia em casa com o pão de ontem e aquela manteiga boa que trazia do interior, suco de uva integral do MST, tudo bem bom. Saiu do prédio e cumprimentou o porteiro, gente boa que a conhecia desde que comprara o apartamento, nos anos 90. Morar sozinha era uma de suas maiores conquistas.
Nunca deixou de ter seus namorados. Teve namoradas também. Sempre levou a sério essa coisa que é viver. Fazia sempre o mesmo caminho. Muitos anos na mesma Gerência de Fiscalização da Prefeitura, a dois quarteirões de casa. A cada ameaça de venda do terreno pela prefeitura e consequente mudança do trabalho de Botafogo para o centro da cidade, se incomodava um pouco, mas a vida era boa e faltava pouco pra que se aposentasse.
Seguia o caminho pensando em nada sério. Talvez em comprar tomates. Gostava muito e os de casa tinham acabado. Algum chuchu também. Há tempos não comia a cucurbitácea que os maldosos chamam de ”quarto estado físico da água“. Ela se prestava bem como coadjuvante do camarão que repousava na geladeira. Ficava bem cozido, gelado e temperado, servido como salada.
Não entendeu nada quando o mundo escureceu de repente, difícil saber se antes ou depois da queda brusca. Acordou no Souza Aguiar. A clássica visão de um monte de carinhas, em círculo, te olhando acordar, causou um estranhamento que ela nunca imaginou sentir. Parecia estar em outra dimensão, num tipo de pós morte sobre o qual nunca tinha sequer especulado. Mais insólito foi ainda, numa intimidade daquelas, acordando numa cama, não reconhecer nenhuma das caras.
As pessoas permaneceram olhando pra ela por alguns segundos, até que ela mesmo quebrou o silêncio e quis saber o que havia acontecido.
O bueiro aberto já tinha sido fechado. A queda e o choque elétrico a fizeram perder os sentidos, além da pequena fratura no joelho, uma fissura na clavícula, algumas escoriações. Um saldo que pode ser considerado positivo, dada a dimensão do acidente.
Não foi dessa vez. Está se recuperando. Já voltou a passar no mesmo lugar. Olha o bueiro que quase a fez passar pro outro lado.
De uns tempos pra cá , já pensa que qualquer hora, se não tomar cuidado, passa.
Mas pensar nisso não é coisa inspiradora.
Vida que segue.
Rio de Janeiro, agosto de 2024.
Inovação em Filmes e Séries Musicais
A Cedro Rosa Digital tem se destacado como uma força inovadora na produção de filmes e séries musicais, aproveitando os incentivos da Agência Nacional do Cinema (ANCINE) para promover projetos que valorizam a cultura musical brasileira. Entre os projetos mais notáveis estão "+40 Anos do Clube do Samba", "Partideiros 2" e a minissérie "História da Música Brasileira na Era das Gravações". Esses projetos não só celebram a rica tradição musical do Brasil, mas também geram empregos e renda para centenas de profissionais da indústria criativa.
Projetos Destacados
+40 Anos do Clube do Samba: Em co-produção com a TV Cultura de São Paulo, este filme celebra mais de quatro décadas de um dos movimentos mais influentes do samba, reunindo depoimentos e apresentações de grandes nomes que ajudaram a moldar o gênero.
COMO APOIAR!
( qualquer valor )
Depósito direto na Conta do Projeto + 40 ANOS DO CLUBE DO SAMBA
Banco do Brasil - Banco: 001 - agência: 0287-9
conta corrente: 54047-1
PLAY PARTICIPAÇÕES E COMUNICAÇÕES LTDA - CEDRO ROSA
CNPJ: 07.855.726/0001-55
Conta OFICIAL verificada pela ANCINE.
Informe pela e-mail os dados e comprovante de deposito, para emissão do recibo
Partideiros 2: Esta continuação do aclamado "Partideiros" explora ainda mais o universo do samba, destacando grandes nomes do gênero e novas revelações. A série oferece uma imersão profunda na cultura do samba, suas origens e seu impacto na sociedade brasileira.
História da Música Brasileira na Era das Gravações: Esta minissérie detalha a evolução da música brasileira desde a introdução das gravações fonográficas, oferecendo uma visão abrangente e educativa sobre como a música gravada moldou a identidade cultural do país.
Patrocínios Incentivados
Empresas e indivíduos interessados em apoiar esses projetos podem fazê-lo através de patrocínios incentivados pela ANCINE, que permitem a dedução de 100% dos valores patrocinados no imposto de renda. Este mecanismo não só facilita o financiamento de projetos culturais, mas também proporciona benefícios fiscais significativos para os patrocinadores.
Certificação e Distribuição Musical: Garantindo Direitos Autorais
Além de sua atuação na produção audiovisual, a Cedro Rosa Digital tem se destacado no campo da certificação e distribuição musical. Utilizando tecnologias avançadas e uma rede global, a Cedro Rosa assegura que os criadores tenham suas obras registradas e recebam os devidos direitos autorais, independentemente de onde suas músicas sejam tocadas.
Impacto Global
A Cedro Rosa Digital certifica e distribui internacionalmente obras e gravações musicais, garantindo que compositores independentes de todo o mundo possam monetizar suas criações. Esta abordagem inovadora tem ajudado inúmeros artistas a receberem royalties e direitos autorais, fomentando um ambiente onde a criatividade é devidamente recompensada.
Contribuição para a Economia Criativa
A atuação da Cedro Rosa na certificação e distribuição musical não só beneficia os artistas, mas também contribui significativamente para a economia criativa. Ao garantir que os criadores sejam remunerados, a empresa promove um ciclo sustentável de produção cultural, incentivando novos talentos e a contínua criação de conteúdos originais.
A Cedro Rosa Digital, com sua dupla atuação na produção audiovisual e na certificação musical, emerge como um pilar fundamental na promoção e preservação da cultura musical brasileira. Seus projetos incentivados pela ANCINE não só celebram a rica tradição musical do Brasil, mas também oferecem uma plataforma para que novos talentos sejam reconhecidos e recompensados globalmente. Ao combinar inovação tecnológica com uma profunda apreciação pela cultura, a Cedro Rosa Digital continua a liderar o caminho para um futuro onde a criatividade é valorizada e sustentada.
Comments