top of page
Foto do escritorLéo Viana

SOB VIGILÂNCIA

As esquisitices do Cris começaram cedo. Sempre foi a criança diferente, com medos e desconfianças que fugiam à média geral, que quase toda criança tem e que leva pra vida adulta.


Não temia ratos, insetos, larvas ou esses pequenos monstros que assombram o senso comum. Ele tinha mania de perseguição. Tinha certeza de que o mundo o estava observando o tempo todo. Não era de todo invenção.


Baixinho, era o primeiro da fila na escola, que se formava todos os dias antes da entrada pra cantar o hino nacional e hastear a bandeira, em tempos de governosmilitares. Bom aluno, sentava na primeira fila, com a turma toda atrás de si, em posição de ver todos os seus movimentos, que nem eram tão interessantes a ponto de despertar a atenção, mas eram inercialmente observados em função da posição.


Ficou adolescente, cresceu um pouco mais, porém não o suficiente pra deixar de ser dos menores, em estatura, nas turmas em que estudou. A ditadura acabou e com ela a obrigatoriedade de formatura matinal. Deixou de ser visto por todos pelas costas.