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Seis sonetos de Shakespeare

Tradução de Jorge Pontual, para CR Zine.




Soneto 18 Posso igualar-te a um dia de verão? És mais adorável e mais ameno: O vento leva as flores em botão, E o reino do verão é bem pequeno: O olho do céu esquenta demais, Ou seu ouro entre as nuvens esmorece; E todo belo do belo se vai, Pois tudo muda, nada permanece; Mas teu verão eterno não se assombra Nem jamais perderás tua beleza; Nem a Morte terá a tua sombra, Quando em versos eternos tens grandeza; Enquanto houver voz e olhos pra ler, Isto viverá, te fará viver. Soneto 20 Um rosto de mulher tão bem pintado Tens, dono-dona da minha paixão; E de mulher, coração delicado, Mas sem a feminina traição; Olhar mais vivo que o delas, mais franco, Dourando o objeto que observas; Homem na aparência, no comando, Fascinas homens, mulheres enlevas. Pra ser mulher tu foste concebido, A natureza errou no acabamento Ao dar a ti, pra me deixar vencido, Algo que pra mim não tem cabimento. Dotado para o prazer da mulher, Seja meu o teu amor, dela, o que quiser. Soneto 26 Meu amor, senhor de quem sou vassalo Por mérito vosso e por dever meu, A vós envio este escrito regalo, Prova do dever, não do engenho meu. Dever tamanho, que meu pobre engenho Faz parecer despido, mal rimado, Mas que espero tenha um bom desempenho E agrade à vossa alma, despojado: Até que a estrela que me tem guiado Conceda-me a graça de tomar jeito E vista o meu amor esfarrapado Pra merecer vosso doce respeito: Então, dizer que vos amo ousarei. Até lá, a cara não mostrarei. Soneto 40 Toma meus amores todos, amor; Agora tens mais do que tinhas antes? Nada, amor, que possas chamar de amor; Tudo meu já era teu como dantes. Se por amor tomaste meu amor Não te culpo por todo o amor que usaste; Mas te culpo se te enganas, amor, Se teimas em ter o que recusaste. Perdôo roubares, doce ladrão, Roubas de ti toda a minha pobreza; Mas o amor sabe que a dor da paixão Dói mais que o ódio e que a indelicadeza. Graça lasciva, em quem fulgura o mal, Mata-me de dor; não me queiras mal. Soneto 66 Farto disso tudo, quero morrer, Por ver o mérito nascer mendigo, E o nenhum, nada, lindo de se ver, E a pura fé em infeliz castigo, E as honras em vergonhosa trapaça, E a virtude virgem, prostituída, E a perfeição em errada desgraça, E a força no desmando decaída, E a arte calada pelo poder, E a loucura (doutora) no timão, E a verdade, bobagem parecer, E o bem, cativo, o mal, capitão: Farto de tudo, a morte é meu caminho, Mas, morto, deixo meu amor sozinho. Soneto 116 Pra mim a união de quem se ama Nunca tem fim. Amor não é amor Se ele muda quando a mudança chama, Ou vai, traído, com o traidor: Ah não; ele é o farol constante, Que enfrenta a tempestade sem tremer; É a estrela-guia da nave errante, Insondável, mas que se pode ver. O Amor ri do Tempo, embora o que é leve Não resista ao corte da ceifadeira; O amor não muda ainda que seja breve, E segue eterno até, do fim, a beira. Se estou em erro, e assim for provado, Nunca escrevi, e nunca fui amado.

 

Jorge Pontual é jornalista e tradutor.


 

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