Salve a Portela: Patrimônio Imaterial e Cultural do Estado do Rio de Janeiro
Embora os preparativos para o carnaval de 2025 esteja à pleno nos terreiros das Escolas de Samba, ainda existe na memória alguns rastros da celebração do centenário da Portela em 2023. Estamos lançando o livro: Walt Disney na batucada da Portela. Em parceria com a pesquisadora Maria A. R. Gonçalves da Uerj, com ilustração de Thales Alves, e com apoio da Faperj finalizamos um livro infanto juvenil mostrando toda ginga da comunidade de Oswaldo Cruz num belo momento da cultura brasileira. No livro recuperamos o encontro entre Disney e Paulo da Portela numa tarde de domingo de 24 de agosto de 1941. O acontecimento além de histórico, nos ajuda a imaginar como o cineasta voltou para os Estados Unidos com ideias para a elaboração da personagem Zé Carioca.
A histórica batucada liderada por Paulo da Portela fixou na memória nacional. Posteriormente através do filme Alô Amigos (1942) ganhou o circuito Latino-Americano através do icônico personagem Zé Carioca. Também difundiu a ginga do samba como um dos elementos de brasilidade, que por sinal simulava as performances do malandro figura central no repertório afro-brasileiro. A ginga possui várias dimensões. É elemento da cosmovisão negra da diáspora, e se mostra na percepção das tramas, e experiências mais cotidianas da vida social.
Ao saber da presença de Disney na cidade, Paulo encaminhou um convite junto da Divisão de Turismo para o que homem dos desenhos animados fosse conhecer a Portela. Esse foi um dos muitos gestos do mestre Paulo da Portela: mediador, e figura fundamental para a consolidação das Escolas de Samba. Em 2023 seu nome foi consagrado com fogos e artifícios no céu da Sapucaí ao lado de Natal, Candeia, Monarco e tantos outros nomes que representam a centenária agremiação de Oswaldo Cruz que tem em São Sebastião, Oxóssi o seu padroeiro.
Assim possui a ginga dos Antônios: Rufino e Caetano que semearam a Portela nos idos do "Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz" e do bloco "Vai Como Pode”. A ginga da Dona Esther Maria de Jesus, do bloco Come Mosca, ialorixá notável organizadora das festas na região.
A ginga de Maria das Dores, a Dodô, uma pioneira na consolidação do lugar das Portas Bandeira nas Escolas de Samba. A ginga de Tia Vicentina[1] cujo famoso feijão ganhou fama nos versos de Paulinho da Viola, e de Leci Brandão. A ginga de Alcides Dias Lopes (Malandro Histórico), que guardou na memória as obras de Paulo da Portela.
Sabemos que para falar da Portela “o tempo não dá”. Nos resta a ginga da Velha Guarda, da Harmonia, da Bateria, de seus membros, diretores, compositores e passistas que deram continuidade ao legado de toda essa gente do samba que fez da agremiação azul e branco de Madureira Patrimonio Imaterial e Cultural do Estado do Rio de Janeiro desde 2021. Que sua trajetória se reproduza por muitos anos, com muita ginga e livros para todas as idades.
Sormani da Silva
Pesquisador do Neabuerj
Historiador e Doutor em Memória Social (Unirio)
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