Que música você quer ouvir?
Folhetim quinzenal em 7 capítulos
Capítulo final
Quase deitado estava Benjamim na velha poltrona, quase deitado ficou, sabe-se lá por quanto tempo. E tempo é uma constante que não interferia mais na vida dele. Não saiu mais de casa, como decidira. Na manhã seguinte colocou mais um Choro animado para o radialista ouvir. Brasileirinho, de Waldir Azevedo.
Na outra manhã, foi a vez de Noites Cariocas de Jacob do Bandolim, na outra, Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu, e assim se seguiram as manhãs animadas do radialista, que certamente, retribuía com boas notícias na emissora local. Mas Benjamim não tinha mais como se certificar que influenciava no cotidiano da comunidade impregnando o radialista com boa música. As válvulas do transglobe queimaram.
A vida parecia ir ficando mais vazia a cada dia. Assim como a despensa da casa. Benjamim agora passava os dias com preparativos de última hora. Como se tivesse prestes a empreender uma viagem. Entre os afazeres, pretendia fazer um documento deixando seus órgãos para doação, quando passasse desta para melhor. Mas não tinha parentes para autorizarem a doação quando morresse. ‘A burocracia nos acompanha até o suspiro final’, pensou ele. Aventou a possibilidade de fazer um documento de próprio punho, mas teria que reconhecer a firma e não estava disposto a ir ao cartório. Colocou um disco na vitrola e sentou-se na velha poltrona vintage para viajar pela melodia prodigiosa tecida pelo “Santo” Pixinguinha.
Não se sabe ao certo quanto tempo passou. Mas a partir de determinado dia, o radialista não mais ouvira a boa música emanando do velho e simpático sobradinho amarelo. E ele sequer conhecia o morador, ou moradora, ou moradores do velho prédio. E o tempo, que não liga muito para essas questões, continuou a passar indiferente. No Café de Flore os aposentados de cabeça branca continuavam a tagarelar entre si, o pão da padaria em frente continuava maravilhoso e o café do Chico Francisco ainda era a reverberante caixa de ressonância da política local. De novidade no cenário, apenas a presença de um senhor, com ares de preto velho a discursar na esquina que a vida não acaba, que a existência é como um círculo. Não tem fim e nem início.
Depois que um grupo pentecostal adquiriu a concessão da rádio, o radialista foi demitido. Não havia noticiários num veículo fundamentalista. O tempo passou e depois de anos morando fora, ele voltou a Campos Elíseos e quis rever o sobradinho amarelo. O velho prédio não existia mais e no seu lugar, uma moderna e reluzente loja com roupas de grife. Soube de histórias estranhas.
O prédio abandonado fora leiloado pela Prefeitura. Ao ser demolido pelo novo proprietário, dizem, encontraram no interior, um esqueleto sentado numa poltrona. “Besteira. As pessoas inventam quando não sabem a verdade’, pensou o radialista. E seguiu para a rodoviária assobiando Carinhoso, com saudades do passado e com a frase do preto velho batendo na cabeça: ‘a vida é circular, sem início e sem fim’. É... está tudo por aí.
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