Que Família!
Aquele aglomerado de pessoas poderia ser considerado qualquer coisa, menos uma família.
Estava mais para um apanhado de piadas antigas.
Como, por exemplo, no dia em que o marido, preocupado com o futuro da filha, falou com a esposa:
- Querida, precisamos conversar com a Norivalda (quem dá um nome desses à própria filha?). Afinal esse noivo dela não passa de um canalha, que vai estragar a vida da menina.
Ao que a mãe retrucou, sem se alterar:
- De jeito nenhum. Na minha vez ninguém me alertou.
Curiosamente, ele, gauchão do interior, foi o mesmo que, alguns anos antes, foi ao colégio da filha reclamar com a professora:
- Guria, minha filha anda reclamando que tá sofrendo um tal de bulling aqui.
- Nossa, isso é muito grave! Quem é a sua filha?
- É aquela gorducha ali, com cabeça de capivara.
E, como não poderia deixar de ser, o clima estendia-se às sogras.
Um dia, o marido gauchão deu um saco cheio de mangas a sogra, que perguntou espantada:
- Você nunca gostou de mim, por que agora tá me dando presente?
- Porque eu quero ver o cão chupando manga.
Ou quando a mulher do gauchâo ligou pra sogra perguntando:
- Querida, quando o filho se caga quem deve limpar, o pai ou a mãe?
- A mãe, é claro.
- Pois então trate de vir aqui limpar o seu filho, que chegou em casa completamente bêbado e todo cagado.
Até o papagaio que o casal comprou na lua de mel, desde o início entrou no clima da família.
Ele foi adquirido numa feira ilegal no interior de Não Sei Onde e adorava narrar as proezas sexuais do casal naquela voz alta de papagaio:
- Agora ela pegou o bingulim dele e tá tratando que nem sorvete! Agora ele tá montado nela que nem peão em Barretos!
Cansado daquilo, o gauchão cobriu a gaiola com uma manta e avisou:
- Se tirar a manta, vai direto pra panela!
Muito a contragosto, o papagaio se resignou e passou o resto da viagem na maior agonia, ouvindo tudo sem poder narrar nada.
Até o dia de ir embora, quando o casal já fazia as malas e tinha uma que não fechava de jeito nenhum.
- Faz o seguinte, mulher: você senta em cima, faz força e eu tento encaixar.
O papagaio se ligou na conversa.
- Não deu certo. Então eu, que sou mais pesado, vou sento em cima, faço força e você tenta encaixar.
O papagaio se arrepiou todo.
- É, tá difícil. Então sentamos os dois em cima, fazemos força juntos e tentamos encaixar.
Aí era demais. O papagaio jogou a manta pro alto e gritou:
- Foda-se a panela, que essa eu não perco de jeito nenhum!
Até a próxima esquina.