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Pedacinho de Inferno

Foto do escritor: Jorge CardozoJorge Cardozo



Queria escrever um conto que não falasse de bala perdida. Nem de mulher espancada. Nem de um garoto preto morto na subida ou na descida do morro. De onde ia trabalhar, dormir ou manguear no asfalto, passear no shopping, tentar beijar na boca.


Mas é difícil. Porque aqui onde moro quase tudo é suicídio. Falei com a vizinha, dona Sandra, outro dia, que está melhor chegar na madrugada. Parece que os bandidos estão dormindo. Não é meu filho? – ela disse. Fui assaltada às sete da manhã. E você que chega nesses horários doidos por causa do seu trabalho, nem nunca foi.


Certa ela. Tirando o fato de eu ser negro, alto e quase sempre usar jaqueta, por que nunca fui assaltado nesse bairro da zona norte do Rio?

Cheguei de Uber um dia. Vi o malandro do outro lado da avenida. O sinal ficou verde. Os carros avançaram. Ele levantou a camisa. Uma pistola. Não sei se verdade ou brinquedo. Vai pagar pra ver?


Corri até a portaria. O prédio não tem porteiro à noite. Peguei o chaveiro vindo de presente de Natal, com três chaves apenas: da portaria, da sala e da área de serviço do apartamento.

As mãos tremendo. O malandro do outro lado da rua partiu em desabalada carreira em meio ao trânsito pesado. Não conseguia abrir a fechadura. Perdi, pensei. Vai me matar, pensei.

Aqui em volta, neste bairro suburbano, é tudo bom. Padarias excelentes, muitos pães e quitutes: quibes, coxinhas, pães doces, tranças, esfihas, entrega em casa. Escola, hospital, feira. E até um shopping se quiser andar um pouco mais. Só não tem estação do metrô.


Mas tem a comunidade dos Gorilas logo ali. A convivência sempre foi mais ou menos tranquila. estacionamento na entrada da ladeira. Bons bares no meio. Pastel de carne seca. Moela com batata. Ovo cozido. Jiló recheado. Lá em cima, no Gogó da Jurena, claro, a sobrevivência da rapeize, a venda das substâncias proibidas, a marijuana principalmente.


Tergiverso, confesso à minha meia dúzia de leitores – um pouco mais na Patuá e no Portal Criativos. Voltemos ao quase assalto.


Com muito custo, abri a fechadura do portão externo e corri para a portaria de vidro. Já em segurança, vi o bandido puto da vida, sacudindo a suposta pistola e bradando palavrões. Perdera por pouco a presa.


Claro que nada disso é verdade. Pelo menos não no sentido de ter acontecido comigo. Quem conta um conto, aumenta um ponto. Porém não estou aumentando nada, juro. Não a minha mãe mortinha, que a dona Elza ainda está bem viva. Meio cansada, é verdade. Quem aos 86, mãe de seis não estaria?


Quem contou o enredo foi minha filha, B., que agora sem saber também virou personagem. Eu ia escrever o conto no feminino. O eu lírico feminino – diriam os estudiosos de literatura. Mas a caracterização de um negro alto de jaqueta foi fundamental para compor a personagem lá no início da história.


E eu que trafego melhor nas vias aéreas da poesia, da literatura versificada, não tenho essa segurança toda para percorrer com destemor as amplas avenidas da prosa.

Contei essa história para vocês do meu lugar de fala: o Hell de Janeiro. Lugar onde de tudo pode acontecer e de fato acontece.


(Publicado originalmente na Antologia Casa Gueto, editora Patuá – Paraty 2024.)


 

Conexões entre futebol, música, cultura e economia criativa

revelam potencial de entretenimento global



Escute a música Estrela Solitária, de Zé Arnaldo Guima, uma homenagem ao Botafogo.



Na interseção entre futebol, música e economia criativa, surgem exemplos de como essas áreas se conectam de forma inesperada, impulsionando negócios, cultura e inovação. Na Inglaterra, ícones como Ed Sheeran investiram em clubes de futebol, como o caso de sua associação ao Ipswich Town. Outro destaque é o compositor e hitmaker Elton John, que também é acionista de clubes.


Além disso, histórias de jogadores que fizeram transição para o mundo artístico são emblemáticas.


O lendário Julio Iglesias, por exemplo, iniciou sua carreira como goleiro do Real Madrid antes de se tornar um dos maiores cantores da história. Já na França, o ex-futebolista Eric Cantona se reinventou como ator e figura cultural de destaque.


Escute Papo no Maracanã, de Tuninho Galante e Marceu Vieira, na Spotify. Disco Cedro Rosa.


No Brasil, essas conexões também se manifestam de maneiras singulares. John Textor, presidente do Botafogo, é conhecido por seus investimentos no setor de cinema e entretenimento. Outro exemplo notável é Antonio Galante, fundador da Cedro Rosa Digital e conhecido no meio musical como Tuninho Galante. Com décadas de experiência como músico e produtor, Galante também atuou como agente FIFA, representando grandes clubes e jogadores como Romário, Rivaldo, Alexandre Torres e Carlos Alberto Torres.


Ele negociou contratos de transferência e publicidade para times como Vasco da Gama, Botafogo e Fluminense, sempre destacando que seu foco estava em conteúdo e entretenimento, independentemente do setor.


Hoje, Galante lidera a Cedro Rosa Digital, uma plataforma que combina inovação tecnológica com economia criativa. A empresa desenvolve um sistema global de certificação, distribuição e licenciamento musical. Por meio dessa plataforma, artistas podem certificar suas obras, garantindo direitos autorais internacionais, enquanto empresas e consumidores acessam músicas de forma segura e transparente, seja para download, sincronização em filmes, vídeos promocionais ou publicidade.



A Cedro Rosa Digital busca revolucionar o mercado musical, oferecendo segurança jurídica e eficiência em negociações diretas na plataforma. Esse modelo representa uma nova forma de conectar arte e tecnologia, criando oportunidades para criadores e promovendo a economia criativa como um motor de desenvolvimento.



Essa convergência entre futebol, música e negócios não apenas enriquece a cultura global, mas também demonstra o potencial do entretenimento como uma força transformadora no cenário econômico e social.

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