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Foto do escritorPaulo Castro

OBÉLIO




Atravessou a rua, pegou a lata de banha cheia de água, colocou o pedaço de pano no ombro e se dirigiu ao carro estacionado em frente ao botequim da galeria. Antes, uma parada pra tomar uma golada de Pitu. A bebida bateu forte e ele estremeceu. Gostava disso. Bom dia, dia!


602! Presente! A voz forte respondia à chamada no pelotão “A” do Corpo de Bombeiros de Copacabana. Dezoito anos, tinha orgulho de pertencer à corporação. No concurso de ingresso, ficou entre os primeiros colocados, recebendo elogios do comandante, que sabia de sua condição social e das dificuldades que a vida lhe apresentara. Morador de comunidade, teve a sedução do tráfico à sua volta. Resistiu, trabalhou e estudou até realizar seu sonho: tornar-se soldado bombeiro.


Agarrado ao ferro de sustentação do carro, sirene estridente abrindo caminho, desfilava imponente pelas ruas do bairro para atender aos pedidos de socorro dos moradores. Fogo e fumaça não eram adversários para ele: era o primeiro a se oferecer para entrar em qualquer loja, apartamento ou casa. Salvou pessoas que estavam com suas vidas em perigo: arrombou portas, quebrou paredes, pulou muros, subiu em telhados, arriscando a própria vida. Ganhou respeito do batalhão e medalha do comandante.



 

Ouça a música SAUDADES DOS MEUS BOTEQUINS, com Tomaz Miranda. Obra de Luis Pimentel e Paulinho Cavaco. Repertório Cedro Rosa.

 

Molhou o pano na água e começou a esfregar a lataria do carro em movimentos circulares. Alguns passantes o cumprimentavam: ”Bom dia, Obélio!”, “Fala aí, Obélio!”. Ele respondia com um sorriso: “Bom dia, gente!”. Era querido na rua, quase um mascote. Dormia nos fundos de uma loja de doces e, em contrapartida, varria o chão e a calçada em frente à porta. Queria dormir no fundo do botequim, mas o dono, sabendo do seu gosto pela bebida, não aceitou. Indicou-o ao dono da loja de doces. Doce não era com ele.


O fogo, que ele combateu várias vezes em sua profissão, consumiu vários barracos no morro e matou moradores, entre eles sua mulher. Os colegas chegaram rapidamente, mas nada puderam fazer. Obélio? Dia de folga, estava no centro da cidade, resolvendo problemas. Sentiu-se culpado de não estar lá para salvá-la. Nenhuma desculpa o convenceu: folga, não podia prever... Um outro fogo, porém, o consumiu por dentro: a culpa. Injustificável, mas quem domina os sentimentos? Procurou, na bebida, a redenção. Desligou-se da corporação e caiu no mundo.


Passaram anos sem que tivessem notícias dele. A família e os amigos, durante algum tempo, o procuraram, mas depois desistiram. De vez em quando, um ou outro dizia tê-lo visto: pedreiro em São Gonçalo, pescador em Cabo Frio, leão de chácara em Paraty, ajudante de missa em Niterói, goleiro em time de várzea e assim por diante. Tudo invencionice para manter a esperança de ter o amigo vivo.


Certo dia, um soldado bombeiro, ao visitar sua mãe, moradora da rua, descobriu, no lavador de carro, seu antigo colega de batalhão. Depois de muita conversa, resolveu ajudar Obélio. Por sorte, no prédio, abriu a vaga de porteiro da noite. A indicação de Obélio foi aceita por unanimidade, ao saberem do seu passado exemplar.


Largou a bebida, condição imposta, mudou a farda, mas não o temperamento e o caráter: sempre prestativo, cuidava dos idosos, brincava com as crianças, socorria quem precisasse de ajuda e botava moral nos bagunceiros e bebuns. Tudo no papo. Conquistou todos os moradores, recuperou a autoestima e, ainda, segundo as más línguas, de vez em quando, apagava o fogo de Dona Ercília, moradora do 403. Deu a volta por cima.


Boa noite, Obélio! Boa noite! Um sorriso e uma continência. Por dentro, um eterno soldado bombeiro.


 

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