O Velho, o Novo e o Ano
Nas minhas redes sociais pouca gente a falar sobre as festas natalinas. Será que as pessoas estão cansadas deste ano lotado de histórias cansativas? Claro que o ano em si de nada tem culpa. Até porque alguns dos nós não desfeitos, algumas das cordas que se apertam, vêm de outras primaveras, outros invernos, outros calendários. Possivelmente há casos mesmo de imbróglios herdados de outros séculos, tão sem solução quanto o atual.
O massacre dos palestinos pelo estado de israel, não escamoteado nem tratado de forma simplista como um direito de autodefesa, como se o problema tivesse começado agora. Idem para o conflito Rússia X Ucrânia, idem para a situação da Venezuela, como de resto a de toda a América Latina. Também a da África.
Mas o buraco é mais embaixo. Ou em cima, considerando o mapa tradicional.
Deixemos os países e pensemos nos seus habitantes. Nós, as pessoas.
Parece que há um susto em curso. Colegas de trabalho se cumprimentam com carinho verdadeiro ou com falsidade, como sempre fizeram. Porém existe um tom a mais de desânimo. Os votos de boas festas saem das bocas contaminados com a sensação de que não há motivo para festejo, embora todos queiram acreditar que bastará virar a página do calendário cristão – como se não houvesse outros povos e culturas com diversas divisões do tempo e suas respectivas marcas de mudança – para que tudo melhore.
Acontece que o mais empedernido otimista, ou quem se recusa a assistir telejornais, não consegue negar o espanto diante do que se apresenta como um futuro que chegou. Que já é presente. De forma alguma o presente de Natal que qualquer de nós, seres humanos comuns, desejaria.
Não são mais boatos e sim indícios inquietantes da possibilidade concreta de uma terceira guerra mundial. Há um frisson em algumas regiões nevrálgicas do planeta. Há uma distopia forçando a entrada na realidade através do discurso e do comportamento de vários líderes mundiais.
Nas esquinas de qualquer periferia quem antes só discutia futebol ou o destino da personagem principal da novela, qualquer novela, qualquer jogo, hoje discute também a presença cada vez mais potente da inteligência artificial. Quando eu tento digitar a última palavra da frase anterior, o meu editor de texto sugere “artista” ou “artístico”. Até quando?
Em Tóquio está para entrar em vigor uma medida que permitirá aos funcionários trabalhar quatro dias por semana. Não é ótimo? Tanto se lutou no mundo todo pela diminuição da carga horária de trabalho. Que maravilha! Diriam os desavisados. O xis da questão é o motivo. Os japoneses ocupam-se tanto com sua dedicação às empresas e o seu hábito de poupança que já não conseguem ter filhos. Pelo menos não em número suficiente. A quantidade de óbitos já ultrapassa a de nascimentos. O que significa diminuição da população nacional. Com impactos crescentes na economia, na cultura e na própria existência do país. Algo semelhante ocorre em Portugal, que só teve crescimento demográfico por conta da chegada significativa de imigrantes, especialmente brasileiros e africanos. Outros países do mundo dito desenvolvido passam por dilemas semelhantes.
Com todo o respeito às pessoas que optam por não ter filhos – um direito como tantos outros – o que leva uma nação a adotar de forma coletiva este comportamento?
Analistas bem mais capacitados que este cronista que vos fala argumentam e apontam o individualismo, pedra mater de nossa era, como o grande responsável. Será?
Ou estamos todos com medo do tipo de mundo que deixaremos para nossas filhas, filhos, netas, netos? Ou não queremos ter descendentes para testemunhar (e sofrer e criticar) a nossa gigantesca incompetência em agir e mudar o mundo para melhor?
Rede Alternativa de Produção e Distribuição de Artes: O Brasil que Transborda de Criatividade
O Brasil não cabe dentro do Brasil. O país que cria, inventa e produz, repleto de uma riqueza cultural inigualável, não se limita ao Brasil oficial, institucional ou formal. Essa é uma constatação evidente para quem observa a efervescência cultural que pulsa nos bairros, periferias e comunidades criativas espalhadas pelo território nacional. Contudo, a estrutura existente para apoiar esse potencial criativo está longe de ser suficiente.
Mesmo com o aumento de editais de cultura em comparação com os períodos de retração nas gestões de Temer e Bolsonaro, o cenário atual não consegue atender nem à demanda reprimida nem ao vasto potencial criativo do "Brasil real". Um rápido olhar para os números desses editais revela o abismo: centenas, às vezes milhares de projetos de altíssima qualidade competem por pouquíssimas vagas e orçamentos limitados.
Nos países desenvolvidos, como Estados Unidos e nações da Europa Ocidental, as artes são tratadas como ativos estratégicos, gerando bilhões de dólares em emprego, renda e divisas. Na Ásia, países como Coreia do Sul e China rapidamente despontaram como potências criativas, transformando investimentos em cultura em motores de soft power global e em um fluxo econômico robusto. Enquanto isso, o Brasil, com todo seu potencial natural e cultural, ainda engatinha em termos de reconhecimento, investimento e organização.
Para mudar esse cenário, diversos artistas, realizadores, produtores, distribuidores e exibidores estão se unindo à Cedro Rosa para montar um sistema nacional de produção, distribuição, promoção e exibição de cultura. Essa iniciativa visa criar uma rede que descentralize recursos, democratize acessos e amplifique a voz dos criadores brasileiros.
O projeto-piloto dessa rede será "O SAMBA AINDA ESTÁ AQUI", uma série de filmes sobre o Samba que fará parte de uma mostra a ser exibida em rede glocal – local, em ambientes físicos, e global, em ambiente digital. O projeto será realizado antes do Carnaval 2025, com o objetivo de projetar a cultura do Samba no Brasil e no mundo, reafirmando sua importância histórica e contemporânea.
Os agentes culturais interessados em participar desse movimento podem entrar em contato por meio do portal CRIATIVOS! para obter mais informações sobre como se integrar ao projeto. É hora de o Brasil se enxergar em toda sua grandeza – e agir de acordo com ela.
Comments