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Foto do escritorLais Amaral Jr.

O PM Jairo Bráulio foi parceiro de Mário Carabina. Eles me deram a mão. E deu Samba.




Numa época de boa lembrança, rolava uma animada roda de samba às sextas-feiras, num bar próximo ao meu trabalho, em Nova Iguaçu. ‘Mano a Mano’ era o nome do restaurante onde almoçávamos e que à noite virava, bar. A coisa começara despretensiosa, com uns amigos que gostavam (e gostam) muito de samba. Um pandeiro, um tantã, um tamborim. Eles não eram lá essas coisas com os instrumentos e com seus gogós, mas eram esforçados e autênticos. Com o tempo foram chegando aqueles que realmente manjavam do riscado, então Luís Carlos Fávaro, Ulisses, Rodelson, Luciano Roxo foram cedendo seus lugares a Pelé, Joel, Claudinho do Leão, Jairo Bráulio, Vandinho entre outros. E aí a coisa decolou. Casa cheia, mesas na calçada e até a rua passou a ser fechada nas noites de sexta.


O clima no bar era dos melhores. Uma frequência simpática e muita gente curtidora de samba e do pessoal. Ali se formou o embrião de um grupo, chamado ‘O Fino do Samba’, que chegaria a gravar um LP, incluindo o samba Dasdores, criação de Jairo Bráulio, Mário Carabina e letra da minha lavra. Nossa primeira investida começou naquele bar. Geralmente o samba rolava com composições de gente conhecida como Almir Guineto, Zeca, Arlindo Cruz, Sombrinha, Fundo de Quintal, Reinaldo, Marquinhos Satã, Jovelina e por aí afora. De vez em quando Jairo puxava uma autoral, dele e do Mário. Sambas ótimos.


Eu admirava a dupla. Os acompanhava no Leão, de cuja ala de compositores eles pertenciam e Jairo chegou a ser interprete na avenida algumas vezes. Certa vez eles migraram e quase faturaram o samba na Unidos da Ponte. Lembro aquela madrugada, a quadra lotada com ampla maioria apoiando o samba daqueles compositores de Nova Iguaçu. O resultado saiu quase as seis da manhã, quando a quadra já esvaziara. Quem ganhou foi um peixe conhecido da diretoria da agremiação. Isso acontece. Mas ficamos muito chateados. Nós e muita gente da própria agremiação de São João de Meriti. Mas falando em Leão de Nova Iguaçu, eu tive o prazer e a honra ter uma letra musicada por um celebre componente da Velha Guarda de lá, o senhor Francisco de Paula Freitas, o Tio Chico.


Voltando ao bar em Nova Iguaçu, muita gente interessante frequentava o local. E tinha uma preta bonitona, de olhos puxados, corpo muito bem desenhado, que me encantava sobremaneira. Logo tive que baixar a crista porque soube que ela tinha coisas com um chegado, um sujeito ‘gente boa’ e amigo da turma do samba. Me restou fazer uma homenagem em forma de poesia, que virou letra de música. Mostrei ao Mário e ele gostou. Ele levou ao Jairo. Dias depois a música Doce Olhar fazia sucesso no bar, na voz do próprio Jairo, ou do Claudinho do Leão, ou do Vandinho, que seria vocalista do grupo ‘O Fino do Samba’. Entrou no repertório de shows do emergente ‘Pirraça’ e acabou sendo gravada pelo Jairo no disco ‘Embaixada do Samba’, produzido pelo Tuninho Galante.


Minha aproximação com Jairo e Mário, rendeu outras canções como a já citada 'Dasdores' e outra que Jairo gostava muito de cantar, 'Garras', cuja letra já não me lembro. Jairo Bráulio e Mário Carabina. Uma dupla, “de arrepiar” poderiam imaginar os mais afoitos. Mário, apesar do apelido bélico, é um dos caras mais gentis e cordatos que conheço no meio. Pintor de parede e outras virações. Jairo, era cabo da PM, um cavalheiro. Era, porque, nos deixou recentemente. Para minha tristeza e luto de uma turma grande do mundo do samba em Nova Iguaçu. E da Baixada Fluminense como um todo. Foi encantar e cantar lá em cima. Abraço eterno, meu irmão!



“Eu quero saber, de onde chegou

Tanta beleza assim

Com esse olhar de tentação

Só pra caçoar de mim” (Doce Olhar- Jairo Bráulio/Mário Carabina/Laís Amaral)


“Das dores que trago no peito a maior é você

São marcas profundas que tendem não cicatrizar

Tropeços na vida da gente, amores tão inconsequentes

Não deixe esse nosso romance se arruinar” (Dasdores – Jairo Bráulio/Mário Carabina/Laís Amaral)



 

Escuta!



 

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