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NÃO SE PODE MAIS BRINCAR COM NINGUÉM


​​​José Roberto Sampaio _ advogado
​​​José Roberto Sampaio _ advogado

​​Esta semana, ganhou destaque, na mídia, a notícia de que um magistrado, de um Tribunal Superior, conhecido por seu bom humor e cordialidade, teria feito uma brincadeira com os baianos, em uma sessão pública de julgamento. A repercussão deste gesto absolutamente despretensioso, verdadeiramente inocente, foi ruim. Alguns baianos e mesmo não baianos receberam mal o comentário.


​A verdade é que atualmente, há que se tomar muito cuidado com o que se diz, notadamente em público. Não sou contra a repressão social e mesmo oficial do estado a frases e gestos discriminatórios. Não, muito pelo contrário. É preciso ter rigor, quando ofensivos. Mas não quando se trata de uma brincadeira, sem qualquer intenção de prejudicar quem quer que seja. 


          O que, aliás, é bastante subjetivo. É esse o problema. Para mim pode não ser ofensivo, para você, caro leitor, pode ser. O prudente, hoje, é evitar comentários polêmicos, que possam ser mal compreendidos, especialmente em público. 


​Agindo assim, parece-me fora de dúvida, contribui-se para um relacionamento mais harmônico entre as pessoas. Não há como negar. Mas não tenho a mesma certeza se, deste modo, contribuiremos para um mundo melhor. 


           Na declaração de independência dos Estados Unidos da América, está dito, como uma verdade universal: “todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.”


           Exigir-se atitudes “politicamente corretas”, sempre, sem trégua, em exagero, tolhe a liberdade de expressão. Restringe ideias novas e sentimentos. Pode até aprisionar o indivíduo, retirando-lhe sua paz e ameaçando seu direito inalienável de procurar sua felicidade. A patrulha ideológica, repressora de comportamentos estranhos aos padrões estabelecidos, por uma nova realidade social, a meu ver, não pode levar a extremos, de modo a inibir brincadeiras entre colegas de trabalho. Imagine-se as relações sociais sem piadas? Tudo muito formal. Como, aliás, era no passado, especialmente nos Tribunais. 


           Qual o modelo de comportamento que se espera de um magistrado, na realidade social em que vivemos? Um juiz litúrgico e formal ou um magistrado mais descontraído, mais próximo e identificado com seu jurisdicionado? 


           Penso que cada vez mais se reduz o espaço para o que no ancien regime, no século XVII, chamava-se de “testemunha de pedra”, o padrão de magistrado que se mantinha impassível, que apenas registrava os acontecimentos na corte, sem interferir ou interagir emocionalmente.

          E mais! Esta mesma sociedade que reprime brincadeiras inocentes, foi a responsável pela mudança de comportamento dos juízes. Como também dos clérigos, quando exercem suas funções. 


             Quem frequentou no passado Tribunais e Igrejas, e ainda o faz, não tem como não notar a diferença. Embora ainda preservados alguns rituais e liturgias, que são essenciais, a informalidade cada vez se mostra mais presente. 

              É comum, atualmente, não só em cortes judiciais, pelo Brasil afora, como também em templos religiosos católicos ou mesmo de outras religiões, verem-se magistrados e clérigos arriscando gracejos, fazendo brincadeiras com sua plateia. 


               A informalidade tornou-se uma forma de aproximação entre estas instituições seculares, a justiça e a igreja, com seu público-alvo, o que, além de saudável, é uma imposição social, dentro dos padrões mais aceitos pela mesma realidade social da qual exsurge a crítica a um simples chiste.


​Em sua “Ética a Nicômaco”, Aristóteles afirma que a virtude está sempre entre o ponto médio entre dois extremos. Entre covardia e temeridade, está a coragem. Há que se ter moderação, ao se lidar com tal sorte de conflito de valores sociais, ambos caros a sociedade moderna. A inibição de manifestações intencionalmente discriminatórias não pode ser confundida com brincadeiras, ainda que em ambiente formal, mesmo que sejam em algum grau ácidas, em relação a alguém ou um grupo de pessoas, o que é próprio da ironia. Que prevaleça o bom senso!

 

​​​​Rio de Janeiro, de março de 2025

 


 



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