MISTÉRIOS VERNACULARES
Sempre gostei de ler crônicas. Gostava das do Carlos Drumond de Andrade no Jornal do Brasil. (Ficou gravada em minha memória, como uma sentença em mármore, aquela que ele escreveu logo após a “Tragédia do Sarriá”.) Angustiado e triste com a derrota do Brasil para a Itália, na Copa de 1982, passei a admirar o futebol e a literatura ainda mais, após ler a crônica daquele mineiro, publicada no dia seguinte, depois daquele jogo memorável. O tempo passou, os jornais de papel foram escasseando, e, ao lado dessa metamorfose, diminuiu o número de cronistas.
Leio as filosóficas do Felipe Pondé, as generalistas do Ruy Castro e as do Agualusa, aos sábados.
A crônica que Castro publicou na Folha, no ano passado, em 27 de dezembro, ativou uma das minhas compulsões. O título era Simples Assim e abordava de forma breve, como ensinam os bons cronistas, a dinâmica da transformação da língua. Ruy destacou algumas palavras e frases, influenciadas pelo avanço da computação, das redes digitais, do anglicismo e tantos outros cases de sucesso que transformam “A última flor do Lácio, inculta e bela”. Sabiamente o cronista, romancista e biógrafo dispensa um sentimento blasé para esse fenômeno.
O que a crônica suscitou em mim, não foi pensar na riqueza ou pobreza linguística, pressionada pelo jeito de falar popular ou erudito; no resultado de pesquisas, e comentários de pesquisadoras e pesquisadores que identifica a dificuldade das pessoas em ler textos com mais de cinco linhas; pouco menos nas aporias “o importante é conseguir se comunicar” ou “escrever é a arte de cortar palavras”. Até pensei nessas coisas, mas foi por um átimo.
Naquela leitura eu só lembrava das palavras patente e latente. Pensei em enviar um email ao cronista solicitando que ele abordasse essa confusão da área semântica lexical. Aproveitei, no entanto, a concessão dada pelo editor da Criativos, e estou aqui a tratar do tema de forma desajeitada, do jeito que posso.
Por compulsão, misturada à vontade frustrada de escrever e publicar com regularidade, e talvez por não ter sido um literato (ideia que já abandonei, faz tempo, que talvez esteja guardada nas profundezas do Id.), sou um caçador de palavras, apreciador de dicionários de sinônimos e de antônimos. Desde quando comecei, na juventude, a estudar fotografia analógica passei a entender melhor o significado dos adjetivos patente e latente. É isso mesmo, não foi nas aulas de português. Com isso passei a observar com atenção, e aquela arrogância juvenil, a maneira que essas palavras eram aplicadas.
Com tempo, de tanto prestar atenção no jeito das pessoas usarem latente, passei a avaliar que a palavra patente era um excesso, uma palavra desprezada, desnecessária, podendo ser deletada do nosso léxico. Latente parece ter duplo significado. É uma maneira simples, comprovada empiricamente, de transformar o filósofo Aristóteles num embusteiro. O seu princípio da não-contradição se dissipa no reino da coloquialidade.
No início, certamente por uma questão de classe, da minha origem social, dentro de uma chave economicista, achava que essa violação à norma semântica serviria de marcador de classe.
Colocar latente no lugar de patente mais parecia um atributo dos pobres, do populacho, das classe subalternas. O século XX se foi, entramos no XXI, e, por sorte, encontrei uma pessoa amiga, que passou a acompanhar de perto essa minha inútil compulsão. E esse amigo contestou a minha tese e me disse que a prática de violar a lógica aristotélica, ao colocar latente no lugar de patente, é erro comum, não importando a classe social, o gênero, a raça e grau de escolaridade. Desde então, coloquei a minha viola economicista no saco, e fiquei estupefato ao confirmar a negação da minha tese.
Passei a ouvir sair da boca de jornalistas de canais de televisão famosos, com alta audiência, escritores e escritoras com certo destaque no mercado editorial, doutores e doutoras, docentes etc., a palavra latente para dar sentido e nomear aqueles fenômenos que são visíveis, evidentes.
Tá aí mais um daqueles enigmas linguísticos. Quando da forma mais cuidadosa, para não causar melindres ou ressentimentos, procuro informar, a quem pronunciou inadequadamente o adjetivo, a forma correta, vejo ocorrer reações distintas.
Entre as mais velhas, se nota o sentimento de desapontamento. Entre os jovens, com baixo nível de arrogância, é como se essa informação produzisse um “sentimento oceânico”, bem de acordo com descrição do pai da psicanálise.
Enfim, quando mais testemunho essa “confusão”, me vejo imerso em devaneios e dúvidas: - Devo seguir nessa tola jornada, ou seguir sereno, com uma vontade ainda latente, de sugerir aos responsáveis pelo Volp suprimirem a palavra patente e dar mais um significado à latente? Afinal, para que serve, neste caso, a lógica clássica do filósofo Estagirita?
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