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Marla e José


Desde muito cedo, Marla sabia que não era como as meninas e as mulheres à sua volta, naquela pequena cidade, perdida nos confins do mundo.


Ela não via, nem pensava, nem sentia como as outras.


Dentro dela, havia um ser humano "diferente".


Era mulher, com certeza.


Mas, ao mesmo tempo, não era.


Como entender, como explicar, se não tinha referências e muito menos alguém para dividir suas dúvidas?


José era um velho solitário, neto de escravos, que guardava para si todas as palavras.


Ninguém lembrava de vê-lo conversar com ninguém.


Seu pedaço de mundo era aquele casebre tosco, com aquela horta pobre e aqueles animais, que talvez nem fossem dele.


Só o cachimbo torto conhecia os segredos que ele escondia.


Para Marla, os homens eram sem sentido e as mulheres eram a busca de um sentido.


Para José, só o horizonte fazia algum sentido.


Todo domingo, na missa, Marla tinha pensamentos de se mostrar no confessionário e, assim, quem sabe, se livrar daquela angústia infinita.


Mas a voz interior lhe dizia que não.


Todas as manhãs, José se confessava sozinho para o seu mundo, que ouvia, sem comentários, os desejos que ele derramava em paz.


E a voz interior lhe dizia que sim.


Um dia, inexplicavelmente, Marla se perdeu naqueles caminhos que ela conhecia tão bem.


E esse descaminho a levou até o casebre tosco de José.


Uma simples troca de olhares deixou claro que ela e ele haviam nascido uma só pessoa, sem mentiras nem segredos.


E todas as palavras e todos os gritos e todas as declarações e todas as confissões desandaram a jorrar sem nenhum controle.


Eram iguais.


E o tempo deu à ela e a ele todo tempo necessário.


De um jeito que parecia não ter mais fim.


E aquela união improvável revelou uma existência arrebatadora.


E Marla descobriu que José tinha as mesmas vontades "diferentes".


E um carinho imenso nasceu.


E deram-se as mãos.


E foram embora, sem olhar para trás.


Foram viver a vida que o destino lhes reservara.


E foi assim que se deu.



Até a próxima esquina.


 

Música Boa!


Mariozinho Lago e seu lindo trabalho musical.



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