top of page
Foto do escritorSteve Solot

Mais um ano sem um incentivo nacional à produção no Brasil enquanto a Colômbia mostra o caminho


Steve Solot

Por Steve Solot (publicado originalmente na Revista de Cinema)


Mais um ano se passa e o Brasil fica atrás de outros países que compreendem os enormes benefícios gerados por incentivos à produção de conteúdo audiovisual.


A Colômbia, por outro lado, mais uma vez colhe o fruto de sua estratégia de longo prazo de criar benefícios para a produção de conteúdo audiovisual, e mostra o resultado desta política pública com a impressionante produção de “Cem Anos de Solidão”, lançado pela Netflix no mês passado.


O famoso romance de Gabriel Garcia Márquez é um dos projetos audiovisuais mais ambiciosos da história da América Latina, como visto nos dados recém-divulgados pelo governo colombiano (Proimágenes e a Colômbia Film Commission).


A série foi filmada em sua totalidade na Colômbia, depois que, em 2019, a Netflix adquiriu os direitos da obra, e, em 2021, o projeto ter sido aprovado para receber o incentivo CINA (Certificado de Inversão Audiovisual), uma ferramenta tributária da Lei 1556, que outorga um crédito fiscal transferível de 35% sobre o gasto total realizado no país para produções internacionais elegíveis. Neste caso, para a inversão da série na Colômbia, o incentivo da CINA foi de aproximadamente 47 bilhões de pesos (10,8 milhões de dólares).


A CINA e o Fundo Fílmico Colômbia, incentivo que oferece um “cash rebate” (devolução de uma parte da inversão realizada em serviços audiovisuais e logísticos), foram essenciais para criar um ambiente favorável à produção audiovisual internacional no país. Esses incentivos permitiram que a Colômbia atraísse nos últimos anos produções de sucesso, como “Paddington: Uma Aventura na Floresta”, “Freelance”, “Shadow Force”, “Além do Jogo” e “Casal Improvável”.


Na realidade, o sofisticado sistema colombiano de incentivos à produção começou em 2012 com o “cash rebate” do FFC e só passou a oferecer também o modelo de “transferable tax credit” (crédito tributário transferível) em 2020. Assim, não é de se surpreender que, para o Brasil, o estudo recente da Olsberg SPI recomende inicialmente o estabelecimento de um incentivo no formato de “cash rebate”.


O “Estudo de Impacto Econômico para um Novo Incentivo Federal à Produção Audiovisual no Brasil” da Olsberg SPI, de agosto de 2024, demonstra em detalhes como um incentivo federal ao audiovisual no Brasil poderia estimular significativamente a produção de conteúdo audiovisual e gerar benefícios econômicos e estratégicos.


O estudo indica que, se um incentivo federal for introduzido em 2024 com um teto anual de 25 milhões dólares ou de 100 milhões de dólares, a SPI estima que, em 2030, o setor de produção audiovisual poderia gerar até 730 milhões de dólares (3,65 bilhões de reais) e 1,03 bilhão de dólares (5,15 bilhões de reais), em gastos diretos com produção, respectivamente. Essa atividade poderia criar diretamente cerca de 11.000 e 15.500 empregos em 2030, respectivamente.


Graças às políticas públicas audiovisuais coordenadas do governo da Colômbia, que compreendeu claramente os benefícios do impacto dos incentivos nos gastos e na criação de empregos, o país continua liderando na região em relação à atração de produções internacionais, e o projeto de Garcia Marques reafirmou a Colômbia como destino competitivo para produções internacionais. Entre 2023 e 2024, o país aprovou 64 projetos com a CINA, com um valor total de inversão no país de 249,8 milhões de dólares, e 9 projetos para o FFC de 24,4 milhões de dólares.


De acordo com dados da Netflix, a produção de “Cem Anos de Solidão” contribuiu com mais de 52 milhões de dólares para a economia do país. Esse número é uma medida do impacto no PIB e inclui tanto o impacto de gastos diretos na produção quanto dos gastos que acontecem na cadeia de suprimentos. Além disso, a produção envolveu mais de 5 mil pessoas entre equipes técnicas e artísticas e os figurantes necessários para todas as cenas, mais de 100 mil diárias de hotel, mais de 850 provedores de bens e serviços locais, 40 mil peças de roupas, entre outros itens.


É claro que incentivos de produção bem elaborados são ferramentas econômicas cruciais, proporcionando benefícios diretos e indiretos por meio da criação de empregos, investimento em infraestrutura e até mesmo turismo. Os incentivos de produção geram valor econômico além dos custos iniciais de produção, tornando-os um investimento benéfico para o país como um todo.


A pergunta que fica é: quando o Brasil se juntará aos países que competem por produções audiovisuais para gerar crescimento econômico e empregos e desenvolver as indústrias culturais, implementando um incentivo à produção nacional de conteúdo audiovisual?

 

Steve Solot é Presidente do Latin American Training Center-LATC e Senior Advisor, Albright Stonebridge Group – ASG/DGA


 

Uma rede para o cinema nacional: desafios e oportunidades


Enquanto a música brasileira alcança um lugar de destaque no país, ocupando mais espaço que a produção estrangeira, o cinema nacional enfrenta uma situação alarmante: ocupa menos de 10% das telas de exibição no Brasil, um dado que reflete um cenário de exclusão cultural. Isso não apenas limita o acesso da população à diversidade de vozes e histórias brasileiras, como também prejudica o crescimento de um setor vital para a economia criativa.


Os desafios para consolidar uma rede de distribuição e exibição de filmes nacionais são enormes. Embora os editais de fomento à cultura sejam importantes, eles estão longe de serem a solução principal. A burocracia e a concorrência intensa tornam o acesso a esses recursos limitado, deixando grande parte da produção nacional sem apoio. Como mudar essa realidade?


A Cedro Rosa Digital aponta soluções, que só serão efetivas com a adesão de centenas de realizadores e exibidores: uma densa cadeia alternativa de distribuição e exibição nacional.

Essa iniciativa não apenas democratiza o acesso, mas também cria uma nova cadeia de valor para o setor, gerando oportunidades econômicas e sociais.


Além de certificar obras e gravações musicais por meio do projeto Certifica Som, gerando empregos e renda através do direito autoral, a Cedro Rosa também atua no campo audiovisual. Projetos como Partideiros, +40 Anos do Clube do Samba e as futuras produções A História da Música Brasileira na Era das Gravações e Partideiros 2 destacam a importância de valorizar a cultura brasileira e levar conteúdo de qualidade para as telas.



Steve Solot, Lucy Barreto, Ricardo Nauenberg, Antonio Galante - IA na Cultura - Associação Comercial do Rio de Janeiro

Em um seminário recente sobre Inteligência Artificial na Cultura, realizado na Associação Comercial do Rio de Janeiro, Steve Solot, Lucy Barreto, Ricardo Nauenber e Antonio Galante e outros especialistas discutiram como incentivar a produção audiovisual pode transformar o panorama cultural brasileiro.


Solot, em seu artigo nesta edição de CRIATIVOS! (  (publicado originalmente na Revista de Cinema) destaca o exemplo colombiano, onde incentivos fiscais como o CINA (Certificado de Inversão Audiovisual) e o Fundo Fílmico Colômbia criaram um ambiente favorável à produção internacional e ao fortalecimento da indústria local. A série Cem Anos de Solidão, filmada inteiramente na Colômbia, ilustra como uma política pública coordenada pode gerar empregos, impulsionar o PIB e valorizar a cultura de um país.


Por que o Brasil ainda está atrasado em relação a esses modelos? Um estudo da Olsberg SPI aponta que um sistema de incentivos fiscais, como um cash rebate, poderia gerar até 1 bilhão de dólares em gastos diretos com produção audiovisual no Brasil até 2030, criando milhares de empregos. É essencial que o país invista em ferramentas semelhantes para alavancar o setor.

Assim como a Colômbia transformou seu mercado audiovisual, o Brasil também pode liderar na produção cultural, utilizando sua diversidade e criatividade como vantagens competitivas.


No entanto, para além desses projetos de médio-longo prazo, os pares do ecossistema do audiovisual precisam se juntar a projetos paralelos para sensibilizar o elo mais importante deste elo: o público.


A Cedro Rosa Digital já mostra que é possível unir arte, tecnologia e inclusão social em projetos de impacto. Mas é necessário que iniciativas como essas recebam apoio estruturado e coordenado, garantindo que o cinema nacional conquiste seu espaço nas telas e nos corações dos brasileiros.


Comments


+ Confira também

Destaques

Essa Semana

bottom of page