Mais memórias: Pinga e Guilherme do Ponto Chic, os caras que me ligaram a um ícone popular
Uma pausa no tiroteio de fim de campanha, que espero, redunde na vitória da democracia no primeiro turno. Em cena mais uma dupla de amigos e compositores populares. Eu já conhecia Guilherme do Ponto Chic de várias esquinas. Samba, carnaval, política. Certa vez, já bem próximo de migrar de Nova Iguaçu para Angra dos Reis (aquela guinada na minha vida) ele me encomendou uma letra. Eu tinha uns escritos com um arremedo de melodia na cabeça. Sonhava ouvir um dia na voz de Beth Carvalho. Achava que o cunho social da letra, tinha a ver com ela. Entreguei a ele e segui em busca da vida para onde o nariz apontava. Não passou muito tempo e recebi uma ligação dele dizendo que fizera a música juntamente com um parceiro seu, chamado Pinga. De cara eu já gostei do apelido e gostei ainda mais quando Guilherme voltou a ligar para dizer que Bezerra da Silva gravaria o samba, que ficou com o título de A Vida do Povo.
Tempos depois, uma outra ligação para marcar a ida a Warner Campbell. Fomos assinar a edição, a autorização de gravação e pegar um adiantamento pelos direitos autorais por uma previsão de discos vendidos. Aí vocês já conhecem a história da ida à agência bancária na Lagoa e coisa e tal. Nesse dia conheci finalmente o Pinga. Sujeito da melhor qualidade. Mais tarde, já morando em Resende conheci um cara bom de samba, o Boca. Temos umas poucas parcerias. Boca é de Valença, onde conhecera o Pinga num samba na região e ele falara de mim. Nessa época eu ainda alimentava a certeza que fizera besteira ao me afastar da Baixada e de perto do mundo do samba. Sacudindo o que disse o poeta, embora haja tantos desencontros pela vida, a vida é mesmo a arte do encontro. Obrigado, Vinícius.
Certa manhã, me ligam na redação do jornal. É Guilherme encomendando uma nova letra que iria tentar emplacar outra vez com Bezerra. Fiz a letra pensando no próprio sambista, falando dele e de sua importância no meio. Título: Meu Samba é duro na Queda. Não demorou e veio a resposta: "O homem vai gravar". Os parceiros deram uma mexida na letra, mas não tiraram a essência que era homenagear o intérprete. E a cabeça ficou intacta. Logo, a repetição do processo: assinar edição, autorização e antecipação de direitos autorais e, uma surpresa maravilhosa, ver que o samba dera nome ao CD. Me senti o tal.
Depois nosso contato ficou mais rarefeito. Guilherme mudou de emprego e eu também mudei de emprego. Ainda não tínhamos aparelho celular. Passou o tempo e um dia ele me achou, se não me engano, pelo Facebook. Ligou para dizer que estava pingando “um qualquer” de direito autoral. O samba A Vida do Povo estava sendo executado num canal de televisão. Percebi uma merreca entrando com certa periodicidade na minha conta. Beleza! Mais à frente Guilherme pediu mais uma letra. Mas eu vivia um momento em que o coração andava enviesado pelos rumos da política nacional. Fiz um petardo, que mais tarde, revendo friamente a cria, considerei que seria difícil alguém gravar aquela pancada. E mesmo, o grande Bezerra da Silva já saíra de cena e agora era só saudades.
Guilherme do Ponto Chic e Pinga, são membros da ala de compositores da Leão de Nova Iguaçu e da Mangueira. Se não fosse por eles eu não teria chegado ao Bezerra da Silva e não teria um dia virado verso de samba, na composição de Pedro Butina QG do Samba, que me incluiu na ilustre galeria de compositores populares. O que me enche de orgulho.
Os dois também estão eternizados na voz do Bezerra nesse samba-homenagem aos compositores da Baixada Fluminense. Caras importantes na minha vida. Essas páginas também são uma homenagem a eles. Alô dupla, precisamos voltar a compor. Abração amigos.
“Na baixada Fluminense Mora um punhado de bambas É por esse motivo que ela é O quartel general do samba Sebastião Miranda e Baiano Sete O talentoso carnaval e Cláudio Inspiração Tem Pinga, Guilherme, Eliezer da Ponte G Martins e Walmir da Purificação João do Aviário, Lenilson e Miltinho Genilda do Pinga, Rabanada e Bolão Nascido no berço do samba em Meriti O nosso grande poeta Bebeto di São João Tem D Jacatone, Nego e Congá Wilsinho Saravá e Edson Show Moacir Bombeiro, Nei Alberto e Roxinho Laís Amaral e Bira da Beija-Flor” (QG do Samba – Bezerra da Silva)
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