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Foto do escritorHelio Paulo Ferraz

"SACHA", por Hélio Paulo Ferraz




“Que nem me importa que tu mesma dites

Sentença absolvendo-te da falta.

E neste inferno aceito sem rancor

Que teu prazer provoque a minha dor.”


(Fragmento do soneto 58 - William Shakespeare – The Slave Sonnets)



A noite no Pitanga (bar restaurante do noroeste paulista)


Na mesa cativa do grupo, tendo como fundo musical o “Fuscão Preto”, depois da 4ª ou 5ª dose de Jonny Walker, Alfredo Godoi, jornalista e teatrólogo, ainda vidrado na publicação da revista Playboy, em suas mãos, exclamou: “... a Vera Fisher, resgatou a feminilidade, a sensualidade original, deixou à mostra os pelos púbicos intactos como a natureza nos presenteou.“


”A buceta está salva! Dá não, esse negócio de raspar..., ah... Agora é assim: uma faz o bigodinho do Hitler, outra o Mickey Mouse, outra o Porta-aviões, quando sobra alguma coisa. Isso é um brado contra a luxúria. Depois de tantos anos de pentelho florestal, quando elas mostram os documentos, cacete, eu não ligo o nome a pessoa. Eu sou conservador em matéria de buceta. Quero o triângulo florestal. Amo as fotos eróticas do Roy Stuart e os nus do Helmut Newton, as modelos deles têm aqueles pentelhos fartos descendo às virilhas. Inclusive algumas, até, pêlos embaixo do braço, como, aliás, é comum entre as européias. Lembra a Giovana, minha namorada italiana?”


Zezito Ouro tomou a palavra e filosofou com seu sotaque cantado do noroeste paulista com influência mineira de Uberaba ... “Oôh, Godoi, isso é tudo veiacaria dos costureiros, eles inventaram essa porra e a merda da magreza. Os veiacos, a pretexto dessa bosta de desfile, querem é acabar com a buceta triangular, o coxão, a bunda violão. Abaixo os veiacos e... viva o pentelho e a bunda violão, e viva a Vera Fischer! “


Aproximei-me de Sacha, linda e envolta em aroma de gardênia, rastro encantador de sua passagem. Sussurrei em seu ouvido: “Natacha, minha princesa, “Jour de ma vie”, lá da outra mesa o pessoal falando e eu não parava de olhar você. Seu jeito sensual, a suavidade dos seus gestos, a delicadeza de seus traços, sua voz doce e esses seus olhos verdes, luminosos, que parecem observar o infinito. Minha linda, vamos pra casa, já. Eu quero você, agora. E quero a bundinha mais gostosa do mundo, também...”


Ela respondeu baixinho, roçando os lábios no meu cangote: “vamos, lindo, eu também quero muito. Vamos fazer nossas brincadeiras. Mas a bundinha de verdade, com a sua mulherzinha, não. Tá bom? O resto, faço qualquer coisa, meu lindo”.



Na tarde do dia seguinte ,

saí para bater campo em direção ao poente, que resplandecia seus raios em vermelho, laranja e amarelo que tingiam o azul ainda claro do céu, até alcançar o horizonte. Aqui no planalto as elevações são suaves e a vegetação rasteira. Vez por outra, desponta uma jabuticabeira ou uma figueira solitária de sombra tênue, suficiente apenas para uma vaca parida descansar e proteger-se do sol forte.


À beira do riacho, uma jovem acabara de lavar roupa branca, de linho, como seu vestido rodado, surrado mas alvo, em contraste com a cor de sua pele. Excitou minha libido o suor que escorria brilhando por suas coxas morenas, generosas, bem próximo às virilhas. Sua calcinha, afastada com os dedos, deixava escancarados diante de meu olhar surpreso, os pentelhos negros e volumosos, do sexo que desaguava um jato forte e duradouro, regando a relva à sua frente. Perdi a cabeça.


Aproximei-me. Sua expressão era travessa, convidativa. Encostei meu corpo no seu - era quente, consistente, com um odor silvestre somado ao do suor das axilas e ao seu desodorante barato. Essa combinação fez a volúpia me dominar, enquanto com um sorriso sacana ela roçou seus lábios nos meus. Tentei segurá-la. Ela escapou. Reagi. Segurei suas ancas, trazendo-a de encontro ao meu corpo e à protuberância rígida em minha pélvis.


Esquivava-se, agora sem muita resistência. Beijei-lhe a boca, de lábios carnudos e língua morna enquanto esfregava minhas mãos entre suas pernas. Deitei-a com força na pedra à beira do riacho, e depois de rasgar a calcinha – esbocei penetrar-lhe o corpo.


Ela então colocou as mãos em meus quadris e retrucou: “nã, nã, não, aí não, tô disprivinida, vou me casar”. Resistiu ainda um pouco; depois, vadia e servil, fez-me sentir aquele rabinho durinho, e volumoso escorregar sobre meus pêlos púbicos enquanto se virava de costas.


Ainda tomado pela surpresa, ouvi-a: “agora bota, bota aí, outro pode, meu noivo não, não, não...”, só na frente.


Em transe total, comecei a enfiar, pouco a pouco, devagarzinho, naquele traseiro torneado, durinho, lisinho, e ela me alucinou ainda mais: “faz essa noivinha gozar na bundinha, faazz...”.


Pensei em Sacha e lancei-me a um entra e sai frenético – seu corpo tremeu, se contorceu, distendeu, elevou a temperatura. Senti aquele cheiro de fêmea no cio. Enlouquecido, mordi suas costas, o que a fazia apertar ainda mais suas nádegas, enquanto se contorcia de um infinito prazer, até chegar gemendo, ao orgasmo anal... Também gemi.


Baile à fantasia (Golden Room do Copa - RJ) – Um mês depois

Na porta do Copa havia uma tenda com ciganas vestidas de vermelho, dourado, azul e com o rosto pintado em cores fortes. Uma delas examinou a palma da minha mão e disse: - “o baile à fantasia é para a gente viver como um personagem da fantasia que tem...”. Depois, baixou os olhos e continuou:


- “... Presta atenção! Você precisa estar preparado para viver a fantasia”.


Não entendi nada.


Já podia ouvir os acordes de antigas marchas carnavalescas - “... foi bom te ver outra vez... eu sou aquele Pierrô que te abraçou que te beijou...” A iluminação, em tons azul e âmbar sobre a fumaça de gelo seco insinuava um ambiente de vezo onírico.

Zezito Ouro e Alfredo Godoi me chamaram para o baile, pois a cada vez chegavam mulheres cada uma mais linda que a outra.


Algum tempo, e algumas vodcas adiante, o tom vermelho começou a predominar na iluminação. Surgiam rapazes e moças fantasiados de diabo. Em meio à multidão carnavalesca, detive meu olhar em uma Colombina em púrpura e dourado e com uma pequena máscara.


O cabelo liso, castanho se alongava até um pouco abaixo do queixo delicado e envolvia o rosto suave, moreno, rasgado por sua boca doce e iluminado pelos olhos verdes. Só podia ser. Era Sacha! Dançava próxima a um homem vestido de marinheiro, com argolas nas orelhas. Ele falava ao seu ouvido.


Depois, perdeu-se em meio à turva fumaça. Fui procurá-la com um sentimento estranho começando a me dominar.

De repente, uma das diabinhas, sem me dar conta, colocou um lenço com lança-perfume no meu nariz. Quando abri os olhos, estava no alto de um convés, e novamente pareceu-me ver Sacha. Era ela, podia jurar. Quase despida. Reconheci seus quadris delicados, a bunda redondinha, seu corpo esguio, seu rosto de princesa, os olhos verdes inconfundíveis. Tentei alcançá-la, mas não conseguia.


Agora duas loirinhas de “Branca de Neve”, junto a Zezito Ouro, vinham me puxar. Eu tentava me libertar. Atordoado, vi-a novamente, no “porão do navio”, por atrás dos barris. Não podia acreditar em meus olhos. Mal consegui descolar os pés do chão, as pernas tremiam, o coração saltava dentro do peito, suava frio, com a boca seca. Sacha de joelhos, empinou a bundinha, agarrada com as mãos pelo marinheiro que a umedeceu com saliva e enfiou-lhe toda virilidade, de um só golpe, e vigorosamente entrou-lhe o corpo, ânus adentro, tragado com volúpia, novamente, outra vez, mais uma vez, outra vez e outra vez, infinitamente ou um por um instante, não sei. Até ela se contrair toda, dar um gemido surdo, sensual, de entrega ao desejo submisso, imenso e depois como que um choro contido, surdo, quente, huuu, huuu, huuu... Gemia!


Nesse instante, seu olhar se evadiu, perdido, opaco e cruzou com o meu, inalcançável. Naquele átomo de segundo não pude mais duvidar, ... Um calafrio percorreu minha espinha. Minha barriga contraiu-se bruscamente. Meu coração paralisou. Consegui reunir minhas últimas energias e saltei sobre o marinheiro para matá-lo. Ela se interpôs e, algo bateu ou bati a cabeça, apaguei.


Quando acordei, Sacha e Godoi me levavam para nosso quarto no anexo do Copacabana.

Depois de lavar o rosto e ainda confuso, perguntei com raiva:

- O que foi que você fez?

- “Eu não fiz nada, meu amor... Ah... Você bebeu muito, cheirou lança perfume..., não sei ... Eu não fiz nada,... eu, apenas... dancei, até encontrar você.”


Virou-se para o outro lado, dizendo,

- “já está muito tarde, meu lindo, estou muito cansada”.


Assaltou-me o pensamento um fragmento literário:


“... Orlando acreditava por um instante – pois quem pode estar certo de que a cólera não pinta o que mais se teme encontrar? - ...”

e limitei-me a observar a beleza angelical de Sacha, que se punha a dormir ao meu lado.



Noite seguinte em nossa casa, SP


Quando Sacha se aproximou com sua camisola transparente, eu tinha em minhas mãos o livro que ela lia, no qual grifara: “...a adultera é mais pura pois livre do desejo que apodrecia nela...”(#).


Deitou-se. Observei mais uma vez toda a pureza que transmitia, o que aguçou ainda mais meu desejo. Beijei seu ouvido, alisei suas costas até a bundinha perfeita. Levantei a camisola e me esfreguei nela, deliciosa.


Ela me beijou com toda paixão, dizendo bem baixinho com a voz quente, quase rouca, dentro do ouvido:


- “Meu lindo, eu sei o que você quer da sua princesa.

Tá bom! Vem... Vem por trás.


Vamos fazer que você é marinheiro com argolas nas orelhas e eu sou mulher da beira do cais do porto, dentro do porão.


Como a gente fantasia sempre. Faz que é na bundinha de verdade.”

- Uma vezinha só, de verdade, vai...?

- “Lá mesmo, não, nã, nã, não... isso dói!

Mulher casada, com maridinho..., não!


Isso, só fora de casa seu vira-latas”.


 

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