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Janja e o lugar da mulher brasileira no combate à fome

Foto do escritor: Christiane GranhaChristiane Granha



Christiane Granha*


No sábado, 21 de setembro, a poucos dias do início da Assembleia Geral da ONU, a primeira-dama do Brasil, Janja da Silva, apresentou o papel do Brasil no combate à fome em uma palestra na Universidade de Columbia, em Nova York, com o tema "Food for Humanity".


O painel, organizado pela "Climate School", fez parte de uma ampla programação de debates sobre o clima e a sustentabilidade, promovidos pela Universidade, que é parceira das Nações Unidas. Nos dias que antecederam o painel, o Brasil esteve no centro dos debates com o evento “Brazil Climate Summit”, no qual palestrantes ligados ao mercado financeiro brasileiro discutiram oportunidades de investimento.


Pouco antes de Janja, o presidente do Malawi, Lazarus Chakwera, e o primeiro ministro do Haiti, Garry Conille, haviam ressaltado a disposição de receber investimentos em infraestrutura para facilitar o transporte e a logística de alimentos em seus países.


A programação de painéis prossegue na Columbia até o dia 29 de setembro. O “Columbia Forum”, onde ocorrem esses debates, fica numa esquina entre a Broadway e a rua 125, no Harlem, bairro negro no coração de Nova York. A rua 125, também conhecida como Boulevard Martin Luther King, atravessa o Harlem com sua agitação muito familiar às ruas das cidades brasileiras: camelôs, ofertas, promoções e o vai e vem de carros, ônibus e pessoas de pele escura, suas vozes e músicas.


O prédio da Universidade de Columbia, com sua arquitetura higiênica de vidros e metais, faz um recorte inorgânico na vizinhança de prédios antigos de tijolos vermelhos. Sair da 125 e entrar no prédio da Universidade de Columbia é como cruzar um portal. Impossível não comparar ao processo de migrar para Estados Unidos, que nos convida a deixar do lado de fora nossas origens e nossa espontaneidade, a não ser como elementos exóticos de decoração.


As pessoas de pele preta até estão na Columbia, mas só são maioria nas obras de arte que adornam as paredes brancas do prédio ou nos serviços de limpeza e segurança. O prédio da Columbia se apresenta, assim, como enclave, no Harlem, do “soft power” branco. Eu estava lá, na plateia do Fórum. Desobedecíamos a regra de não levar bandeiras e esperávamos o momento em que, em nome do governo brasileiro, Janja falaria sobre a impressionante conquista de retirar 25 milhões de brasileiros e brasileiras do mapa da fome em apenas 20 meses. O Brasil tinha uma experiência valiosa a compartilhar. E foi exatamente o que ela fez.


Janja começou sua exposição afirmando que o atual modelo de governança mundial destrói o planeta e concluiu sua participação no painel dizendo que a luta pela paz depende das mulheres, que já praticam o cuidado em suas famílias e comunidades diariamente. Estas verdades tão óbvias e simples são sistematicamente ocultadas pelo poder do capital, que se alimenta das tragédias ambientais e humanitárias como novas oportunidades de lucro. Nesse contexto, o discurso de Janja foi de resistência, estabelecendo que o combate à fome é uma decisão política que só pode ser levada adiante por um Estado forte.


A fome e a desnutrição são, assim, resultados diretos do modelo de Estado mínimo, que destrói políticas públicas de proteção aos mais vulneráveis. As estratégias de combate à fome no Brasil não são novas: foram implementadas pelos governos Lula e Dilma e tiveram tanto sucesso que o país havia saído do vergonhoso mapa da fome. No entanto, o impeachment sem crime de Dilma interrompeu essa trajetória. O resultado? A volta da fome, com o assustador número de 33 milhões de brasileiros nessa condição. Embora Janja tenha destacado dificuldades no Brasil, como os incêndios criminosos que consolidam o terrorismo ambiental como forma de desestabilização nacional, ela não se queixou das forças reacionárias - que tão bem sabe identificar, como se viu no 8 de janeiro.


Nem mesmo ao mencionar a maioria de oposição no Congresso, Janja colocou Lula numa posição de vítima. Sem dizer o nome dos expresidentes golpistas que destruíram as políticas públicas de inclusão, ela destacou que, mesmo no cenário terrível encontrado, o governo conseguiu aprovar a desoneração de produtos da cesta básica, incluindo nela a proteína animal e o gás de cozinha.


A socióloga Janja domina esse tema, tanto do ponto de vista teórico, ao conceituar a "pobreza energética", quanto do ponto de vista prático, por sua experiência na Usina Hidrelétrica de Itaipu, onde conheceu projetos como a instalação de biodigestores em comunidades vizinhas para produzir gás. Apontar caminhos e agir neles é uma postura muito diferente da adotada pelo antecessor de Lula, que domina a linguagem do ódio como tecnologia política. Mas nós, mulheres, já estamos escaldadas: quem não tem nada de útil a propor, ataca os outros. Esse não é o caso da esposa e parceira de Lula na luta contra a fome.


Resiliente, Janja afirmou que é compromisso do governo procurar, um a um, os 8 milhões de brasileiros que ainda passam fome, cuja maioria é mulher, utilizando a metodologia de busca ativa para inscrevê-las nos programas de benefícios governamentais. A mesma metodologia usada por Dilmãe para incluir 80 milhões de pessoas no CPF, dando origem à identidade de cidadãos para quem vive no Brasil profundo, pela primeira vez reconhecidos pelo Estado Brasileiro como sujeitos do direito natural à vida, à terra e seus frutos. Empenho para que mulheres não repitam o sofrimento da mãe de Lula, de não ter o que dar de comer aos seus filhos, não parece faltar ao casal presidencial brasileiro.


Esse tipo de comprometimento as mulheres migrantes conhecem muito bem. Refugiadas da pobreza e da violência de gênero, são elas as que mais sofrem com as saudades, mas, ainda assim, chamam para si a responsabilidade de garantir que suas famílias, em seus países de origem, tenham teto e comida.


As brasileiras que vivem nos Estados Unidos, por exemplo, juntas, enviam todos os anos muitos milhões de dólares em remessas ao Brasil, que se aliam ao combate contra a fome e a pobreza das famílias. Janja acredita nas iniciativas internacionais do governo Lula como a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, para mudar o quadro de insegurança alimentar que aflige tantas populações ao redor do mundo. Não deixou de citar Gaza e a fome a que estão submetidas suas mulheres e crianças. Na semana anterior, Janja tinha visitado um campo de refugiados palestinos no Qatar, dos quais recebera, como presente, peças tecidas por suas próprias mãos.


Ela está certa, a roupa que não nos cabe mais é a que torna o planeta um grande campo de refugiados. Os desafios são imensos, tanto no Brasil quanto no mundo, pois os parasitas do sistema não perdem tempo em desconstruir o óbvio, colocando os interesses de mercado acima da vida. Mas entre dúvidas e angústias com a própria ONU, que nasceu como cobertura à primeira Nakba, a maior lição que fica ao ouvir Janja é que as mulheres brasileiras, assim como ela, têm um papel fundamental na reconstrução.


Justamente a partir de relações solidárias entre mulheres que sofrem as consequências do sistema, partilham dos mesmos problemas, inclusive de violência política contra si e contra os seus, acolhendo-se umas as outras, refletindo juntas sobre a realidade e assumindo a liderança de desbravar novos caminhos que se poderá superar a fratura política causada pela polarização baseada no preconceito aos mais vulneráveis e, consequentemente, no ódio aos seus e suas representantes. Se a polarização atual aparece como nova, ela reedita preconceitos muito antigos que privam os povos da América da comunhão com nossas origens indígenas e africanas.


Origens com as quais o Brasil, como apontou Janja, busca se reconectar, ao construir novos vínculos com a África, continente-mãe não só da maior parte de nosso povo, como dos moradores do Harlem. Mas é somente em um governo liderado pelo Partido dos Trabalhadores que o Brasil tem a oportunidade de começar a encontrar-se consigo. Não é coincidência que o PT seja presidido por uma mulher, Gleisi, porque somos nós as campeãs das lutas de solidariedade. E foi uma destas lutas que teve potência de reverter a sequência de derrotas que o Brasil estava sofrendo, a libertação de Lula. Neste dia, num dos templos do conhecimento contemporâneo, Janja foi resistência ao Deus-mercado, resgatando os valores de cuidado e solidariedade que são prática cotidiana das mulheres nas comunidades, inclusive no Harlem.


Eu estava lá, testemunhando isso, junto de mulheres que tinham resistido ao golpe em Dilma, à prisão de Lula e, no fim de semana anterior, fundaram o Núcleo do PT de Nova York. Meu orgulho em ser mulher brasileira saiu de Nova York sorridente, representado não por um semblante higienizado de primeira-dama, mas por uma mulher real, de sapatos sem salto e dona de uma voz ao mesmo tempo suave e capaz dizer que não aceita ser cota, porque usa a voz que tem na defesa da integridade dos corpos de mulheres de todas as gerações.


Por estas e outras que a chamamos, no Comitê, de Primeira Janja. O filho de dona Lindu sabe cercar-se de mulheres valentes.


*A autora é mulher, filha e mãe de mulher, militante do Núcleo de Boston do PT (EUA e Canadá) e do Comitê Voltamos, Dilma


 

A ciência, tecnologia e economia criativa têm se mostrado ferramentas poderosas no combate à fome e às desigualdades, uma vez que promovem inovação e soluções sustentáveis. A ciência, ao desenvolver novas tecnologias agrícolas, por exemplo, permite maior produtividade e distribuição de alimentos. A tecnologia, por sua vez, facilita a distribuição dessas soluções, conectando comunidades vulneráveis com recursos e oportunidades, enquanto a economia criativa impulsiona o desenvolvimento local ao fomentar a cultura, o turismo e o empreendedorismo em diversas áreas, gerando empregos e inclusão social.


A Cedro Rosa Digital, uma plataforma de certificação e distribuição musical internacional, é um exemplo de como a economia criativa pode se alinhar a esses esforços. Com seu sistema CERTIFICA SOM, a Cedro Rosa certifica e distribui obras musicais em mais de cinco continentes, garantindo que todos os profissionais envolvidos na cadeia produtiva da música – compositores, intérpretes, produtores – recebam os devidos direitos autorais. Essa iniciativa gera uma rede de inclusão, permitindo que artistas, mesmo de regiões periféricas ou com menos acesso à indústria cultural tradicional, possam participar ativamente e receber por seu trabalho.



Além disso, a Cedro Rosa tem se associado a importantes instituições para ampliar sua atuação, como a UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), SEBRAE, EMBRAPII e o Ministério da Ciência e Tecnologia. Essas parcerias têm sido fundamentais no desenvolvimento de soluções tecnológicas, como o uso de blockchain para garantir a rastreabilidade das obras e a correta distribuição de royalties.


A divulgação do sistema CERTIFICA SOM e da plataforma Cedro Rosa tem sido realizada em feiras internacionais e simpósios em países como China, Dubai e Cuba, com o apoio da APEX, aumentando a visibilidade da iniciativa no cenário global. Nesses eventos, a Cedro Rosa promove suas ferramentas inovadoras, que não apenas democratizam o acesso à música, mas também garantem a equidade financeira para os criadores.


Artistas independentes, empresas de publicidade, produtores audiovisuais e até usuários comuns podem participar do ecossistema Cedro Rosa. A plataforma permite o licenciamento de músicas para uso comercial, como trilhas sonoras em filmes, jogos e campanhas publicitárias, gerando uma nova fonte de renda para os artistas. Ao mesmo tempo, empresas e usuários têm acesso a um vasto catálogo de músicas originais e diversificadas, promovendo a cultura local e global.


Dessa forma, a Cedro Rosa Digital está na vanguarda da convergência entre ciência, tecnologia e economia criativa, mostrando como essas áreas podem se unir para enfrentar as desigualdades e promover a inclusão social por meio da música.

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