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Ignorância planejada

Foto do escritor: Luiz InglêsLuiz Inglês


 

​Li recentemente que mais de 30% da população brasileira desconhece inteiramente as causas da crise climática que atravessamos. E esta ignorância é predominante nas classes D e E.

​ Emergência climática como já está se transformando este desequilíbrio, tamanha as consequências outrora impensáveis que atingem o planeta. Vimos nossa capital mais ao sul, Porto Alegre, ano passado, receber chuvas jamais conhecidas causando terríveis inundações com consequências devastadoras. E agora a mesma capital teve a mais alta temperatura do país inteiro!


​Vemos a cidade de São Paulo com chuvas torrenciais muito acima dos índices pluviométricos já registrados, com enchentes e destruição em diversos bairros. Rios imensos na Amazônia secando causando pasmaceira entre os moradores ribeirinhos que nem mais podem pescar para sua subsistência. Moradores mais velhos afirmam assombrados que nunca viram tantos barcos e embarcações maiores atolados na lama daquela forma. O Pantanal é o bioma que mais secou desde 1985. Incêndios bateram recordes ano passado, apesar de ser uma savana alagada em sua maior parte, com 250.000 km2 de extensão. Dubai (Emirados Árabes) recentemente sofreu imensa inundação após registrar um volume de chuva previsto para um ano, desabar em apenas 24 hrs. Clima árido e seco de deserto, com temperaturas no verão acima de 40ºC e com expectativa de pouquíssimas chuvas anuais, foi surpreendida com esta tempestade.Incêndios devastadores em Los Angeles (California) queimaram bairros inteiros.


​Poderia ficar nesta relação macabra de alterações e desequilíbrios climáticos mundo afora, mas minha intenção é me concentrar mais na região onde moro. Ano passado tivemos um mega-incêndio nas florestas da serra da Bocaina. Queimou área compatível a 1.600 campos de futebol. Finalizamos fevereiro (segundo mês de maior precipitação anual) sem uma gota de chuva, num mês quando é previsto 220mm de água. 


​Conforme relatei no início, mais de 30% da população de renda mais baixa não entende nada do que está acontecendo. Mas sentem no seu dia a dia que algo mudou, emudou muito!

​As vacas não estão dando tanto leite como deveriam, as galinhas não põem tantos ovos como era esperado.


​Havia a crença de que não se fazem diversas atividades no campo, nos meses sem a letra R (maio, junho, julho e agosto) pois eram meses secos, sem chuvas – aqui no sudeste. No entanto isto mudou. Datas de colheitas e plantios mudaram. Agora chove em maio e os incendios relatados anteriormente aconteceram em setembro e outubro, quando atravessamos seca terrÍvel. 


​Semana passada registrei 38ºC em plena mata-Atlântica. Moro aqui há 40 anos e nunca havia visto isso. O nível das águas dos rios diminuiu, mesmo na estação chuvosa – que deveria ser agora. Vejo isso nas marcas sinalizadas nas pedras, do nível de anos atrás. E os colonos seguem sua saga sem entender o que está acontecendo. Aceitam “em nome de Jesus” o que lhes acontece.


​Evidentemente sabemos que mudanças climáticas também acontecem sem ações antrópicas. Mas estas alterações com suas variações diversas, demandam séculos, quiçámilhares de anos para evoluirem. O que espanta e assusta é a velocidade que estamos vendo, percebendo e sentindo estas transformações progredirem, ampliando suas consequências de forma planetária.

​Estamos sem tempo, já passamos do turning point. Não há mais futuro nem retorno, caminhamos para a destruição do Homem, já que o planeta, em alguns séculos se recopõe.


​E o pobre colono, que lida com a terra há gerações, tenta repetir o que o pai lhe ensinou, que – por sua vez – aprendeu com o avô, mas que não funciona mais. A terra não responde como antes. A terra está exaurida de tantos nutrientes químicos. A planta perde o viço apesar do dobro de esforço do lavrador. No caso das populações ribeirinhas os peixes não atingem mais o tamanho de outrora nem a quantidade de então.


​O Agro tem interesse na soja, no milho, na carne bovina e de frango, tudo para exportação – pelo menos a maior parte. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a agricultura familiar responde por cerca de 70% dos alimentos consumidos no Brasil. Mas a ignorância, este desconhecimento das causas que fomentam esta situação, que judia tanto do pequeno agricultor, é planejada na medida que as grandes corporações querem acabar com este mercado pulverizado que emprega tanta gente, para concentrar em suas mãos, digo, em suas fábricas, os alimentos que estaremos comendo. Por aí percebe-se o tamanho da calamidade que se aproxima.

 

Luiz Inglês

Março 2025

 

 


 

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