Esqui, parece fácil...
Adalgisa Campos da Silva, para CRIATIVOS CR ZINE.
Vento na cara, o sussurro da velocidade da neve - quase silêncio. A montanha impõe o equilíbrio, o corpo responde, deslizando no ritmo do declive em paisagens de cartão postal. A pista é minha, abram alas!
Para poder desfrutar desta sensação única, precisei de doses maciças de força de vontade e coragem temperadas com pitadas de temeridade, que me renderam hematomas, dores musculares, congelamento das extremidades e outras agruras. Tudo tem seu preço.
Fiquei fascinada com este esporte no momento em que assisti à chegada de um campeonato em Cortina D´Ampezzo, onde me encontrava de passagem. Eu era adolescente, nunca havia calçado um par de esquis e me deslumbrei com os movimentos dos competidores que levantavam um leque de neve a cada curva ou freada. Era um dia de céu azul-marinho, as partículas do leque decompunham a luz criando um arco-íris e, em meio à brancura, o colorido das roupas das pessoas dava um toque festivo ao quadro.
Esquiar parecia tão fácil que me animei a alugar um equipamento para o dia seguinte. Nesta época, madeira e couro eram os materiais com que se trabalhava! Esquis e botas pesavam toneladas, e o mero esforço de carregá-los já era uma tarefa hercúlea. Uma vez em cima deles, a situação piorava. Como acertar a posição para não distender os músculos lutando contra as leis da física? Como frear? Como não cair? Como levantar depois da queda?
Estas perguntas ficaram sem resposta para mim durante muitos invernos, pois só voltei a uma estação de esqui em 1971. Desta vez fui para a sofisticada Gstaad, cidade procurada antes pela vida noturna do que propriamente pela esportiva. Localizada a uma altitude de cerca de mil metros, possui um clima ameno, porém não ideal para a formação de boas pistas. Em Gstaad, chega a chover bastante e até a fazer calor. Assim, se não é suficientemente espessa, a camada de neve derrete, e aí é melhor pendurar os esquis enquanto não voltar a nevar.
Felizmente, escapei de tal frustração nesta primeira vez, quando, do meu grupo de amigos, eu era a única com experiência zero. E foi o desejo de acompanhá-los que me moveu a ser a primeira a chegar na pista e a última a sair. Frequentava a classe coletiva, tinha aulas particulares nos intervalos, treinava por conta própria, enfim, me esforçava ao máximo para adaptar meus reflexos àquele meio estranho, onde tudo precisa ser feito ao contrário do aparentemente lógico - para não cair, a gente tem que se voltar para o abismo, dobrar os joelhos e seguir em frente. Ao fim de uma semana, eu já me divertia bastante.
Na segunda temporada, constatei que esquiar é feito andar de bicicleta: a gente não esquece. Pode-se estar mais ou menos em forma, mas os movimentos básicos ficam. Então, já um pouco mais experiente, pude me livrar de vez do monitor e passar a explorar as montanhas com conta própria, com meu marido, que também tinha espírito aventureiro.
Insistimos mais algumas vezes em Gstaad, que alternávamos com Bariloche no meio do ano, antes de descobrir o paraíso do esqui: Courchevel. O forte de Bariloche, cujo clima muito se assemelha ao da estação suíça, é a beleza natural - definitivamente, não é o esqui.
Há poucas pistas, todas no Cerro Catedral, distante uns vinte quilômetros do centro da cidade. Assim, se você não estivar hospedado no hotel ou em algum chalé do sopé da montanha, a coisa se complica.
E foi querendo descomplicar que mudamos para Courchevel, que juntamente com os vales de Méribel e Val Thorens, forma, segundo os franceses, “a maior área esquiável do mundo”.
Para começar, em Courchevel quase todos os hotéis dão para as pistas, e assim não se tem que carregar os esquis nas costas quando se volta para casa. A cidade foi especialmente construída para ser um centro de esportes de inverno, oferecendo, portanto, todas as facilidades aos turistas.
É verdade que deixa um pouco a desejar no que diz respeito à arquitetura. Os prédios mais antigos têm o estilo modernoso dos anos cinquenta, que destoa da paisagem alpina. Mas isso é irrelevante diante de tantas outras vantagens, entre elas as delícias da culinária francesa, a descontração do ambiente, a variedade das pistas e a quantidade dos meios de elevação. Como os três vales são interligados, você pode percorrê-los de esqui, viajando de uma cidadezinha a outra. Vale a pena.
Outra estação que considero simpática é Vail, no Colorado, onde a neve tem uma qualidade excepcional devido à altitude e à secura do clima. Para quem viaja com filhos pequenos, talvez Vail seja uma opção mais interessante graças à praticidade da vida americana. Lá, em termos de acomodações, há ainda um grande número de apart-hotéis, onde a família pode se sentir mais em casa e até receber amigos sem muito trabalho.
Agora, se você está pensando em se tornar um(a) esquiador(a), aí vão algumas dicas:
Antes de partir para a montanha, faça exercícios para fortalecer a musculatura das pernas. Por exemplo: encoste-se na parede e fique sentado (a) sem cadeira por um minuto.
Comece comprando boas luvs e meias apropriadas para não congelar nas extremidades. Não esqueça do gorro para cobrir as orelhas.
Nunca use mais de um par de meias grossas para não prender a circulação dos pés.
Prefira roupas confortáveis, que não o (a) transformem num urso caso você queira acumular camadas de ceroulas ou camisetas.
Use e abuse de protetores para os lábios e filtros solares.
6- Proteja os olhos com óculos de boa qualidade.
Tenha sempre um lenço no bolso.
Tome cuidado com o álcool, pois as alturas potencializam os seus efeitos.
Se vai se aventurar numa pista movimentada, cuidado para não ser atropelado por esquiadores afoitos.
Quando tiver medo de cair, dobre os joelhos é vá em frente.
Adalgisa Campos da Silva é escritora, tradutora e chefe-de-cozinha.
Entre os principais titulos traduzidos encontram-se Cinquenta tons de cinza. E. L. James. Intrínseca. 2012
Pequenas grandes mentiras. Liane Moriarty. Intrínseca, 2013
Depois de você. Jojo Moyes. Intrínseca, 2015
No limite da razão. Bernlef, J. Rio, Casa-Maria Editorial, 1990. p. 114.
Em busca J.D. Salinger. Hamilton, Ian. Rio, Casa-Maria Editorial, 1990, p. 229.
A partir de R$ 25.
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