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Fronteiras Borradas


Brenno Mascarenhas, para CRIATIVOS! *


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Brenno Mascarenhas

Tênis, natação, atletismo, futebol, vela, saltos ornamentais, nado sincronizado, ginástica rítmica, patinação no gelo, surfe, tiro, golfe, polo, equitação, automobilismo, pesca, bocha, pingue-pongue, boxe e lutas tipo vale-tudo, todo mundo sabe, são esportes.


Xadrez, gamão, biriba, sinuca, turfe, paraquedismo, rinha de galo, corrida de cachorro, frescobol, capoeira, ioga, musculação, corrida de autorama, bolinha de gude, totó, futebol de botão, dança de salão, desfile de escola de samba e marcha de soldado, entretanto, não mereceriam a mesma classificação.


Como construir uma definição de esporte que resista ao confronto com os períodos acima e com o que consensualmente se tem como esporte?

De acordo com o “Online Etymology Dictionary”, esporte é o “jogo” que envolve exercício físico. Esporte seria jogo! Desse jeito, sequer atletismo e natação seriam esportes.


O Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, vai na direção de que esporte é o “Conjunto dos exercícios físicos praticados com método, individualmente ou em equipes”, e “qualquer desses exercícios”. Quem seguisse essa linha concluiria que constituem esporte práticas como ioga, musculação e, no limite, a marcha de soldado no quartel e a atuação de equipe de garis.


Idênticos problemas encontrariam os que se orientassem pela definição do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “Prática metódica, individual ou coletiva, de jogo ou qualquer atividade que demande exercício físico e destreza, com fins de recreação, manutenção do condicionamento corporal e da saúde e/ou competição”. Por esse texto, deixando de lado a ioga e o frescobol, mesmo a corrida de cachorro receberia o rótulo de esporte.


Curioso nessa definição do Dicionário Houaiss é o seu elemento finalístico, a sua parte que começa com a locução “com fins de”. Com efeito, em termos objetivos, a finalidade da prática esportiva, que decorre do seu caráter competitivo, é, exclusivamente, a vitória, o desempenho melhor do que o dos adversários. Assim, quem joga basquete faz esporte. Ponto. Diferentemente do que propõe o Houaiss, não importa que não o faça profissionalmente, para fins de recreação, para melhorar a saúde e o condicionamento físico, ou com outro especial objetivo, como impressionar a vizinhança.


Passemos para as definições do Google Search – "Atividade envolvendo exercício físico e habilidade na qual um indivíduo ou equipe compete contra outro ou outros" – e do Free Dictionary online – "Atividade envolvendo exercício físico e habilidade que é regida por regras ou costumes e frequentemente praticada competitivamente". São mais duas definições insatisfatórias. A se levá-las a sério, até desfile de escola de samba teria lugar na lista de esportes.


Na verdade, parece impossível compor uma definição precisa de esporte apontando as características que distinguem as atividades dessa natureza de atividades de natureza diversa.


Sim, porque, considerando apenas a sua essência, não poderiam ser destinados a compartimentos diferentes o golfe e a sinuca, o pingue-pongue e o totó, o nado sincronizado e a dança de salão, o salto a cavalo e a corrida a cavalo, o automobilismo e o autorama e a bocha e a bolinha de gude.


A engenhosa alternativa encontrada pela Comissão Australiana de Esportes (ASC na sigla em inglês) resolve bem o problema imediato dessa entidade, mas, filosoficamente, não se sustenta. Segundo ela, “Esporte é atividade humana capaz de produzir um resultado, envolve exercício físico e/ou habilidade física, por sua natureza e organização é competitiva e é geralmente aceita como esporte”.


Como se vê, esse trecho final se refere a uma realidade cultural imprecisa e, dessa forma, remete a definição de esporte para fora do enunciado. Para se tornar compreensível, o enunciado depende de um apêndice, a saber, um estudo antropológico que apure que atividades afinal são “geralmente aceitas como esporte”.


Observe-se que, livrando-a do que nela não é decisivo, a definição da ASC bem que poderia, sem qualquer prejuízo, se reduzir a uma expressão mais simples, “esporte é a atividade que é geralmente aceita como esporte”. Mas, apresentada dessa forma, sua inconsistência ficaria exposta demais.


Muito bem. Nessa altura, muitos pensarão que essa discussão toda não passa de exercício intelectual desprovido de relevância prática e só serve para animar conversa de bar. Não é bem assim. Em 2014, a English Bridge Union (Associação Inglesa de Bridge), apoiada na circunstância de que entidades esportivas têm isenção fiscal na Inglaterra, iniciou processo judicial em que pleiteou a restituição de alta soma relativa a impostos pagos durante anos. Os advogados no tribunal devem ter suado mais a camisa do que os “atletas” do bridge em torno da mesa verde.


Independentemente do que tenham decidido os juízes ingleses no que concerne ao bridge, não há dúvida de que o que se entende como esporte está em permanente transformação. O break dance, o breaking (é esse o nome oficial), que até pouco tempo enxergávamos como simples modismo associado a hip-hop e jovens nas praças de Nova Iorque, virou oficialmente esporte olímpico, e as primeiras medalhas serão distribuídas em Paris, em 2024.


A surpresa só não foi maior porque já sabíamos que, em Tóquio, nos jogos olímpicos de 2021, assistiremos a competições de surfe, escalada e skate, coisa impensável na época em que o Barão de Coubertin concebeu as olimpíadas modernas.

Seja como for, permanecemos à espera de uma boa definição para esporte. Nesse terreno, as fronteiras continuam borradas.


* Brenno Mascarenhas joga tênis há 54 anos


 

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