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Foto do escritorLeo Viana

ENSAIO



A conversa parecia não levar mais a lugar nenhum. Mas insistiam, como numa luta em que ambos resistem ao esgotamento, temendo o nocaute. Uma profusão de monossílabos e conceitos cada vez menos complexos – ou mais – a depender da já baqueada capacidade de formulação e compreensão de cada uma das partes, era lançada sem certeza ou garantia.


A eloquência que os caracterizara no passado, quando eram grandes oradores e conquistavam parceiros e multidões apenas falando, parecia ter caido no mais profundo esquecimento. Vez por outra nem lembravam os nomes um do outro. Lapsos de memória pareciam ser os protagonistas do colóquio. As lembranças eram vagas e imprecisas, os momentos marcantes não faziam mais o mesmo sentido de quando foram elevados a esta categoría. 


As coincidências positivas tinham perdido o encanto e a lógica construída em tantas conversas anteriores deixara de ser natural e agora era um arremedo de ideologia forjada a partir de conceitos decorados e de filosofia rasa, sem o lastro que muitas vezes tinha norteado o pensamento.   A Mirtes estava decidida a não ceder. Ela não iniciara aquela DR desnecessária e que já durava muitas horas. Tinha muito a dizer após ter sido provocada.


O relacionamento não vivia maiores contratempos, mas a Mirtes sentia falta de um certo romantismo que veio desaparecendo com o tempo, sendo consumido pela rotina de muito trabalho e afazeres.  O Caio também não cederia. Sabia que tinha, ele, começado a discussão da relação, mas talvez o tivesse feito inconsequentemente, tentado por uma instantânea e provisória falta de assunto. Agora estavam enfronhados até a alma naquele papo pantanoso e explosivo, que tanto puxa pra baixo de modo movediço quanto ameaça arrancar suas pernas bruscamente, como uma mina terrestre.


Copos vazios espalhavam-se sobre as mesas. Garrafas, não. Tinham bebido refrigerantes, muita água, algum suco. Cada vez um ia à cozinha e vinha de lá com dois copos de líquido. Tinham a preocupação de não perderem a consciência e optaram por não beber álcool. Àquela altura talvez já tivessem se arrependido, mas mantinham a aposta. Os sinais de sanidade iam diminuindo à medida que o desgaste físico e mental ia aumentando. Não comeram nada e talvez essa fosse uma das razões. Não se tocaram também. O grande sofá permitia que estivessem separados por distância segura. A mesa e os copos, à frente, exigiam que se levantassem muitas vezes, mas não mudaram de posição.


O desconforto parecia fazer parte do projeto. Se alguém visse de perto, o que não aconteceu, estavam sozinhos no grande apartamento, pensaria que estavam forçando a criação de problemas para justificar uma futura separação.


Talvez fosse, talvez não. Viviam às mil maravilhas desde sempre. O relacionamento nunca havia sido discutido sob o ponto de vista da forma. Nunca houve acerto sobre ser aberto ou fechado, monogâmico ou não. O que havia era paixão, amor, amizade. E perdurava, a despeito das teóricas disposições em contrário. Funcionavam como uma máquina bem azeitada, concordando em tudo e com uma incrível capacidade de antecipação dos pensamentos um do outro. A Mirtes escolheu o apartamento sem perguntar ao Caio quando decidiram morar juntos.


Ela sabia que ele gostaria. O Caio decorou o apartamento à distância, enquanto faziam uma viagem de sonhos ao Pacífico. Sempre com uma decoradora amiga ao telefone, criou o ambiente que a Mirtes adoraria. Não tinham filhos porque não era um projeto de ambos. Imaginavam adotar uma criança quando fizessem 50 anos, com a redução das cargas de trabalho. Sabiam que seriam já um pouco velhos pra isso, mas podiam ser pais e avós em simultâneo e essas ideia os agradava. Os olhos fechados denunciavam o cansaço. Não havia o que discutir, não havia elementos suficientes pra uma revisão de modos, da forma de compreender o relacionamento.


O projeto de empreendedorismo que chegaram a pensar juntos, parecia não andar a contento, mas isso não os preocupava. O investimento já tinha sido recuperado, a pandemia prejudicou um pouco, repassaram a franquia e recebiam um pouco de royalties. Nada que fizesse enriquecer, mas não era completamente ruim. As famílias iam bem. Os velhos ainda com saúde, sempre cobrando netos que não viriam. Não tinham pets. Preferiam alimentar os animais silvestres que apareciam no quintal do prédio, nas janelas do apartamento ou no sítio que compraram pra plantar medicinais. As passagens estavam compradas pra nova temporada no exterior, agora no índico. O litoral Leste da África e o subcontinente Indiano. Evitariam o Oriente Medio, ao menos dessa vez. Iriam só até o Egito. Mas a discussão, caso tomasse outros rumos, podia alterar tudo. Eram muitos projetos. E a previsibilidade que construíram juntos, aos poucos, ao longo de uma convivência construtiva e frutifera. 


Mas o Caio, num lapso, nas festas, entusiasmado, perguntou: O que será de nós no ano que vem?? Não devia ter feito. Abriu um buraco num espaço-tempo conhecido, num mundo de previsibilidades, de roteiros conhecidos, sem espaço pra dúvidas.


O futuro será o que previmos, o que determinamos, ponderou a Mirtes, atônita com a dúvida do Caio. A discussão não fazia sentido. Talvez coubesse a dúvida, talvez não. Mas há uma certa imprevisibilidade que é inerente a tudo. Há o risco de morte, doença, terremoto, calamidades. E há  a previsibilidade da educação financeira, da previdência privada, das economias guardadas. 

Como assim, “como será o nosso futuro?”. Investimos tempo, dinheiro, saúde e neurônios nesse futuro!! 


- Mas...

- Nem mas nem meio mas!!

- Ok. 

- Feliz ano novo!

- Pra você também!


Dormiram. No dia seguinte, ainda antes do ano novo, acordaram cedo e beijaram-se, ainda de ressaca pela discussão da véspera. 


- Delícia de ensaio, né?, perguntou a Mirtes.

Precisavam de emoção. Agora estudavam teatro. 


Feliz ano novo, meu amor! , recitaram em coro!!

 

Brasília, dezembro de 2024.


 

 A Economia Criativa, Cultura e Tecnologia formam uma tríade essencial para impulsionar o desenvolvimento social, especialmente em países em desenvolvimento, ao gerar emprego, renda e inclusão.


Nesse contexto, a Cedro Rosa Digital, fundada pelo produtor e compositor Antonio Galante, um dos personagens inspiradores da música brasileira, segundo Will Page, ex-CEO da Spotify, tem sido protagonista ao integrar essas áreas em projetos inovadores que valorizam a diversidade cultural e potencializam a economia criativa.


O portal CRIATIVOS!, ativo diariamente há mais de quatro anos, é um exemplo claro desse compromisso. Ele reúne artistas, intelectuais e profissionais de diversas áreas em um espaço de reflexão e divulgação de ideias, fortalecendo redes criativas e dando visibilidade a temas essenciais para a cultura, ciência e economia. Com foco em estimular o diálogo e a criatividade, o portal se tornou uma referência para quem busca compreender as transformações culturais e tecnológicas do mundo atual.


A plataforma digital da Cedro Rosa, em desenvolvimento com o apoio de instituições como a UFCG, EMBRAPII e SEBRAE, utiliza tecnologias de ponta como inteligência artificial e blockchain. Esse sistema não apenas certifica obras musicais, mas também assegura o pagamento justo de royalties a compositores, intérpretes e produtores, promovendo inclusão e sustentabilidade econômica na cadeia musical. O projeto CERTIFICA SOM, parte dessa plataforma, é uma ferramenta inovadora que garante créditos adequados aos criadores e contribui para a transparência e a valorização do trabalho artístico.


Entre os destaques, está o projeto "O Samba Ainda Está Aqui", que será apresentado como um festival de filmes dedicados ao samba, com estreia prevista para o pré-carnaval de 2025. As exibições ocorrerão em cinemas e centros culturais independentes, democratizando o acesso à cultura e celebrando o samba como patrimônio imaterial do Brasil.


Além deste festival, outros projetos audiovisuais em produção incluem a série "História da Música Brasileira na Era das Gravações", que traça um panorama da evolução da música nacional desde as primeiras gravações no Brasil, realizadas em 1902, até os dias atuais. Este trabalho oferece um mergulho nas raízes sonoras do país, destacando momentos emblemáticos e sua conexão com transformações sociais. Também está em desenvolvimento o documentário "+40 Anos do Clube do Samba", uma coprodução com a TV Cultura de São Paulo, que celebra a importância histórica do Clube do Samba e sua contribuição para a preservação do gênero.


Outro projeto notável é a série "Partideiros 2", que explora a força criativa de artistas contemporâneos ao mesmo tempo em que resgata as tradições do samba.


Com essa abordagem integrada, a Cedro Rosa Digital reafirma seu compromisso com a união entre economia criativa, cultura e tecnologia. Ao mesmo tempo em que resgata e celebra a história cultural brasileira, a empresa inova ao oferecer ferramentas tecnológicas que democratizam o acesso e garantem a sustentabilidade econômica do setor cultural.

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