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EMILY VICTORIA e REBECCA BEATRIZ - BALAS PERDIDAS?


EMILY VICTORIA e REBECCA BEATRIZ / fonte: Youtube

EMILY VICTORIA e REBECCA BEATRIZ - BALAS PERDIDAS? As duas primas negras de 04 e 07 anos morreram na última sexta feira enquanto brincavam na porta de casa. Tenho vergonha de ser carioca e fazer parte de uma cidade onde crianças pretas morrem por balas perdidas. Tenho vergonha de ser brasileira, enquanto dizemos que estamos tentando ser um país antirracista, nossa política de segurança pública genocida e racista mata crianças na porta de casa. Tenho vergonha de fazer parte da nossa sociedade que naturaliza a violência e a pobreza, e ainda tem a cara de pau de falar de meritocracia. Senhores governadores e secretários de segurança pública: não existem balas perdidas. Os senhores determinaram a política de segurança pública de confronto que privilegia “caçar bandidos” ao invés de proteger o cidadão. Os senhores consideram aceitável ter como dano colateral a morte de meninas de 04 e 07 anos brincando na porta de casa? Caso as meninas fossem brancas e moradoras do Leblon, isso teria acontecido? Será que os senhores poderiam - pelos segundos que demoram para uma bala percorrer o trajeto entre sair de uma arma e atingir uma pessoa - olhar crianças pretas e pobres moradoras de favelas como se fossem seus filhos antes de determinar a política de segurança pública de confronto? Tenho quase certeza de que nenhum policial gostaria de saber que uma criança foi morta por uma bala perdida disparada de sua arma. São os senhores que precisam mudar a política de segurança pública. Imaginem - pelos segundos do trajeto da bala – que os senhores são os pais de Emily e Rebecca. Tenho certeza que os senhores são capazes deste simples exercício. É verdade que não deveríamos precisar de empatia para estabelecer uma política de segurança pública decente. Mas a nossa realidade é totalmente indecente. Além da pobreza, racismo, falta de saneamento básico, educação e saúde, moradores de regiões pobres perdem seus filhos por “balas perdidas”. Os números atestam o fracasso de nossa sociedade e o desrespeito sistemático aos direitos humanos. Senhores governadores e secretários, não consigo não imaginar a dor dessas famílias e tenho convicção que os senhores também são capazes de fazê-lo. É possível fazer diferente. Acompanhei o trabalho das forças armadas brasileiras no Haiti em 2007-2008, logo após a pacificação de Cité Soleil. Vi como brasileiros foram naquela época capazes de conciliar segurança pública e direitos humanos. Sim, o contexto era outro, não eram policiais e sim militares coordenados pelas Nações Unidas. Ainda assim, a maioria da população haitiana os apoiava porque havia conciliação de trabalho de segurança e respeito aos direitos humanos. Na época fiz o documentário PONTO FORTE que retratava o trabalho dos militares brasileiros no Haiti. Assim como os brasileiros fizeram na MINUSTAH, tenho certeza que os senhores são capazes de criar mecanismos de inteligência para barrar balas perdidas que atingem crianças. Senhores governadores e secretários, caso não consigam analisar moralmente as consequências que essa política atual tem para a população preta e pobre moradora de favelas, pensem que os senhores poderiam ter nascido em um outro contexto. Caso a loteria genética tivesse sido diferente, vocês poderiam ser os pais de Emily e Rebecca.



Mariana Reade, para CRIATIVOS!

 

Mariana Reade é criadora de conteúdo, jornalista e escritora com foco em diversidade e inclusão. Atua nas áreas de comunicação e terceiro setor, em projetos que lutam contra a discriminação e exclusão. Trabalhou na TV Globo por 17 anos como roteirista e diretora. Na área social, colaborou em diversas ONGs, como VIVA RIO Haiti, AfroReggae, Movimento Down, entre outras, em gestão de projetos e campanhas de comunicação.

Dirigiu o documentário PONTO FORTE no Haiti em 2008, sobre a cooperação civil militar na MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti).


 

Músicas que choram a violência recorrente



Bala Perdida / Alexandre Fróes ( Cedro Rosa) - Escute

Grito Negro / Thiago Kobe - Gravação demo ( Cedro Rosa) - Escute

Em Dias de Guerra / Maurinho de Jesus e Fábio Goulart - Gravação demo (Cedro Rosa) - Escute


Que Tiro é Esse / Léo Russo e Luis Pimentel - Gravação Edson Cordeiro - Youtube



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