Emblemático do mundo do samba – (Final)
Voltando um pouco no tempo, antes do desfecho do texto anterior e, bem antes de Romildo virar nome de rua em Mesquita. Passado o desfile vitorioso da Leão de Nova Iguaçu, o tempo deu aquelas pedaladas que costuma dar, e eu já estava morando longe. Um amigo disse que Romildo não estava bem de saúde. Parece que sofria de algum mal nos rins ou no fígado e que por isso teria ido parar num hospital. Fiquei apreensivo.
Certa noite numa fuga rápida para matar saudades, eu fui reencontrar amigos no Bafo da Cobra, um querido bloco carnavalesco em Nova Iguaçu. Estavam todos lá: Luciano Roxo, Rodelson, Claudinho do Cartório, Robson Azeredo, Jairo Bráulio, Mário Carabina e muitos outros. Eu passava entre as mesas na pequena, mas animada quadra quando senti alguém me segurar o braço. Voltei-me e constatei: era ele, Romildo Bastos. Me olhou zombeteiro e lançou suas setas em forma de palavras, humoradamente sarcásticas, como de hábito:
- Passando sem me ver? Pensou que eu tinha morrido? Nada compadre, não sou um fantasma, não. Estou aqui, vivinho da silva.
Nem preciso descrever a satisfação que tive. Puxei uma cadeira e quis saber como estava e ele, anedoticamente, como também era seu estilo, contou, que realmente esteve muito mal e que morrera, sim. Mas chegando no céu, São Pedro na portaria perguntou pelo nome dele e foi conferir na lista de mortos, segundo ele, em ordem alfabética: “Romildo, Romildo...não, aqui só tem um Ronildo. Pode voltar para a Terra que ainda não chegou sua hora”. Gargalhei às bandeiras despregadas.
No dia seguinte retornei para Angra dos Reis onde estava morando. A alma até mais assanhada por rever o amigo, bem vivo e com o senso de humor em dia. Naquela noite ele me cobrara uma letra. Há muito tempo planejávamos compor algo em parceira. E eu sonhava com aquela parceria. Mas o que brotava não me convencia. Nas considerava à altura do Romildo. Estavam longe, por exemplo, da inspirada letra de ‘Partilha’ do Sérgio Fonseca, sucesso na voz do grande, Roberto Ribeiro. A labuta diária pela sobrevivência na Rádio Angra, no Jornal Maré e como correspondente de O Globo na Costa Verde, parece que não permitia muito espaço à inspiração. Ela vinha minguada, não me convencia. Nossa parceria foi mais uma vontade que ficou pra trás, como cantou João Nogueira no seu Espelho.
Epílogo: Infelizmente, não muito tempo depois daquela noite feliz no Bafo da Cobra, chegou a hora de Romildo se reencontrar com São Pedro e aí sim, constar da lista de falecidos. Num domingo festivo e de homenagens, um infarto tirou o formidável sambista boêmio, o “escravo da música”, do nosso convívio. Uma pena.
“Já que não existe mais aquele amor tão profundo