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Foto do escritorLais Amaral Jr.

Dois pedacinhos descem do céu para curtir uma boa música


Chorinho foi assunto aqui mais de uma vez. Mas nunca é demais retornar a um tema tão inspirador, né não pessoal?! Sábado passado, dia 30, como tradicionalmente acontece em todo o último sábado do mês, foi dia de Choro com o grupo ‘Nós nas Cordas e convidados, na Praça da Bandeira, em Resende. Em frente ao Bar da Rosa. Bati o ponto, às 10h30min. A turma é amiga e por ter pedido tantas outras vezes, eles já fazem a cortesia e tocam dois dos meus preferidos sem que eu precise pedir: Vibrações, de Jacob do Bandolim e Pedacinhos do Céu, de Waldir Azevedo. Claro que tem Naquele Tempo, Carinhoso, Doce de Coco, Brasileirinho, dezenas deles. Mas toda essa riqueza já integra o repertório do grupo. Não é preciso pedir. Vibrações me transporta a um estado de encantamento que não sei de onde vem. Possivelmente ecoa minha alma que não raramente se rende ao “embalo” da melancolia. Foi amor à primeira vista. Gamei desde a primeira vez que ouvi. Lembro até de uma ousadia certa noite na abertura festiva de um encontro de blogueiros promovido pelo Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé, no sindicato dos bancários, em São Paulo. Era a noite de interação, das pessoas se conhecerem. Tinha uma cervejinha e música, que ficou por conta do regional liderado pelo jornalista, blogueiro e bandolinista Luís Nassif. Impulsionado por alguns goles fui ao Nassif e pedi Vibrações e ele disse que infelizmente não a havia ensaiado. O que não mudou em nada minha admiração por ele, um dos melhores e mais confiáveis jornalistas do país. A paixão por Pedacinhos do céu, tem uma raiz. Eu associo aos meus tempos de início de fase adulta. Ela me embrulha em lembranças boas daquela fase. Foi quando conheci uma dupla de músicos amadores que com certa frequência aparecia em frente ao meu local de trabalho, em Nova Iguaçu, e me desvirtuava. Assis e Marafo. Assis tocava cavaquinho, era baixinho, branco, tricolor e estava sempre com um mata-rato pendurado no beiço com as cinzas caindo sobre o instrumento. Marafo era o pandeirista, um preto velho alto, com grandes bochechas caídas, rubro-negro, engraçado e muito gentil. Ambos com idade avançada, eram ferroviários aposentados, que costumavam sair pelas ruas a tocar seus instrumentos, a alegrar os amigos. E de tabela, desconhecidos, também.

Eles chegavam em frente ao cartório e Assis me mirava com os olhos semicerrados devido a fumaça do onipresente cigarro. Piscava e fazia a introdução de Pedacinhos do Céu. Era a senha. Não diziam nada e saiam caminhando e tocando rumo a um café próximo. Pronto, lá ia eu tomar um cafezinho só para estar com a dupla. Dependendo da hora o cafezinho entrava noite adentro se metamorfoseando em cerveja, etc. Foi por intermédio dessa dupla formidável, companhia que eu adorava, que fiquei sabendo que os tais pedacinhos do céu eram, Miriam e Marly, filhas de Waldir, as musas dessa obra prima.

Falando em Waldir Azevedo, um toque para quem pensa em ir ao maravilhoso ‘Carnaval Antigo’ em Conservatória, dias 25, 26 e 27 de outubro: Fique mais um dia naquela delícia de lugar e vá conhecer o Instituto Waldir Azevedo, um espaço de memória do genial músico, que nos sábados, a partir das 17 horas, tem música da boa, com a fera Ronaldinho do cavaquinho no comando. Terminando as linhas do sábado, naquela praça em Resende. Quando o grupo ‘Nós nas Cordas’ iniciou o meu eterno pedido, senti a alma se pulverizar em pedacinhos e veio a consequente umidificação dos olhos. Nessas ocasiões, realidade, sonho e fantasia parecem vestir o mesmo traje. Tive a certeza de que pedacinhos do céu são também Assis e Marafo. A dupla Fla-Flu. E eles estavam lá na praça. Os dois de pé, lado a lado, apreciando a certa distância o grupo de músicos. Marafo com o pandeiro embaixo do braço e Assis com o cavaquinho também sob o sovaco e com a cinza comprida, pendente do cigarro. JP Sete Cordas, Carvalho, Aldair, George e Rabelo tocavam também para eles, que aplaudiram comovidos. Maravilha! “Da primeira vez que ouvi um Chorinho viajei nas asas do regional a tardes que não vivi. Era um passado gostoso e sem tempos e eu era ainda bem criança. Certamente presenciei Pixinguinha, Jacob e outros em função. A euforizante alegria de viver que brota de ouvir essa música, me diz que a ouvirei para sempre, sem limites de vida.” (Passagem – do meu livro ‘Água de Passarinho’)


 

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Repertório lindo e raro, de artistas Cedro Rosa , no outube.



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